Descrição de chapéu The New York Times

Governo Trump estuda cortar drasticamente número de refugiados aceitos nos EUA

Programa, existente há quase 50 anos, pode ser reduzido pela metade ou cancelado

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Julie Hirschfeld Davis Michael D. Shear
Washington | The New York Times

A Casa Branca está considerando um plano que impediria refugiados de várias partes do mundo de se reassentarem nos Estados Unidos.

A decisão cortaria um programa de décadas que admite a entrada de milhares de pessoas por ano fugitivas de guerras, perseguição e fome, de acordo com autoridades de gestões anteriores e da atual.

Em reuniões ao longo das últimas semanas, uma autoridade graduada propôs zerar o programa por completo, deixando o presidente com a capacidade de admitir refugiados em caso de emergência.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Nicholas Kamm/AFP

Outra opção que as autoridades estão considerando cortaria as admissões de refugiados pela metade ou mais, para 10 a 15 mil vagas, mas reservaria a maioria delas para pessoas de países escolhidos a dedo ou grupos com estatuto especial, como iraquianos e afegãos que trabalharam com as tropas americanas, diplomatas e agentes de inteligência no exterior.

Ambas as opções acabariam com a posição dos Estados Unidos de um dos principais países do mundo que aceitam refugiados.

A questão deve ser definida na terça-feira (10), quando a Casa Branca planeja convocar uma reunião para discutir o número que o presidente Donald Trump determinará como limite máximo de admissões de refugiados no próximo ano.

"Em um momento em que o número de refugiados está no nível mais alto da história, os Estados Unidos abandonaram a liderança mundial em reassentar pessoas vulneráveis que necessitam de proteção", disse Eric Schwartz, presidente da Refugees International.

"O resultado é um mundo menos compassivo e menos capaz de lidar com futuros desafios humanitários."

Há dois anos, Stephen Miller, principal assessor de Trump para imigração, tem usado sua influência para reduzir o teto de refugiados a seu nível histórico mais baixo, limitando o programa a 30 mil vagas neste ano.

É um corte de mais de 70% do nível aplicado quando o presidente Barack Obama deixou o cargo.

A medida fez parte do esforço de Trump para reduzir o número de imigrantes com e sem documentos que entram nos Estados Unidos, incluindo numerosas restrições de solicitantes de asilo, que, como os refugiados, fogem da perseguição, mas entram nos Estados Unidos pela fronteira com o México ou o Canadá.

Agora, Miller e seus aliados nos Departamentos de Estado e de Segurança Interna que trabalharam com ele na Casa Branca estão pressionando agressivamente para encolher o programa ainda mais, de acordo com uma autoridade envolvida nas discussões e vários ex-funcionários informados sobre elas, que falaram sob condição do anonimato para dar detalhes das deliberações privadas.

Autoridades da Casa Branca não responderam a um pedido de comentários.

John Zadrozny, funcionário graduado do Serviço de Cidadania e Imigração, defendeu a redução do limite máximo para zero, posição que foi primeiramente relatada pelo site Politico.

Outros sugeriram fornecer "nichos" para determinados países ou populações, como os iraquianos e afegãos, cujo trabalho em prol do governo americano coloca eles e suas famílias em risco, tornando-os elegíveis para o estatuto especial para imigrar para os Estados Unidos pelo programa de refugiados.

Os defensores do programa de refugiados —de quase 50 anos— dentro e fora do governo temem que essa abordagem efetivamente extinguiria o programa, tornando impossível reassentar até mesmo essas pequenas populações.

Grupos de defesa dizem que o destino do programa de refugiados depende cada vez mais de uma figura improvável: Mark Esper, o secretário da Defesa.

Em pouco mais de dois meses no cargo de chefe do Pentágono, Esper, um ex-lobista e executivo de empreiteira de defesa, é a mais nova voz na mesa no debate anual sobre quantos refugiados serão admitidos. 

Mas, enquanto o antecessor de Esper, Jim Mattis, havia adotado a causa dos refugiados com um zelo quase missionário, recusando repetidamente aprovar grandes cortes devido ao efeito potencial  que, segundo ele, teria para os interesses militares americanos em todo o mundo, a posição de Esper sobre a questão é desconhecida.

A liderança militar sênior no Departamento de Defesa tem pressionado urgentemente Esper para que siga o exemplo de seu antecessor e seja um defensor do programa de refugiados, de acordo com pessoas próximas ao tema no Pentágono.

Mas atuais e antigos altos oficiais militares disseram que o secretário não havia revelado se lutaria por maiores admissões de refugiados na reunião na Casa Branca na próxima semana.

Um ex-general descreveu Esper em posição de "toca da raposa", termo militar para o esforço da infantaria para permanecer protegida ou oculta de fogo inimigo.

Uma autoridade do Departamento da Defesa disse que Esper não tinha decidido qual seria sua recomendação para o programa de refugiados neste ano.

Por isso, um intenso esforço de um poderoso grupo de generais reformados e de ajuda humanitária está em curso para convencer Esper a partir de onde Mattis parou.

Em uma carta a Trump na quarta-feira (4), alguns dos mais destacados oficiais militares aposentados do país imploraram ao presidente que reconsidere os cortes, tomando o argumento da segurança nacional que Mattis usou quando estava no Pentágono.

Eles chamaram o programa de refugiados de "tábua de salvação crítica" para as pessoas que ajudam as tropas americanas, diplomatas e oficiais de inteligência no exterior, e advertiu que cortá-lo traria o risco de maior instabilidade e conflito.

"Nós pedimos que o senhor proteja este programa vital e garanta que a meta de admissão de refugiados seja robusta, de acordo com o precedente de décadas e proporcional às necessidades globais urgentes de hoje", escreveram os militares, incluindo o almirante William McRaven, ex-comandante de Operações Especiais; general Martin Dempsey, ex-chefe do Estado Maior Conjunto; e o tenente-general Mark P. Hertling, ex-general comandante das forças do Exército na Europa.

Eles disseram que até mesmo o teto atual de 30 mil "deixa milhares no caminho do perigo".

O general Joseph Votel, que se aposentou neste ano como comandante do Comando Central dos EUA, também assinou a carta.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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