A Casa Branca está considerando um plano que impediria refugiados de várias partes do mundo de se reassentarem nos Estados Unidos.
A decisão cortaria um programa de décadas que admite a entrada de milhares de pessoas por ano fugitivas de guerras, perseguição e fome, de acordo com autoridades de gestões anteriores e da atual.
Em reuniões ao longo das últimas semanas, uma autoridade graduada propôs zerar o programa por completo, deixando o presidente com a capacidade de admitir refugiados em caso de emergência.
Outra opção que as autoridades estão considerando cortaria as admissões de refugiados pela metade ou mais, para 10 a 15 mil vagas, mas reservaria a maioria delas para pessoas de países escolhidos a dedo ou grupos com estatuto especial, como iraquianos e afegãos que trabalharam com as tropas americanas, diplomatas e agentes de inteligência no exterior.
Ambas as opções acabariam com a posição dos Estados Unidos de um dos principais países do mundo que aceitam refugiados.
A questão deve ser definida na terça-feira (10), quando a Casa Branca planeja convocar uma reunião para discutir o número que o presidente Donald Trump determinará como limite máximo de admissões de refugiados no próximo ano.
"Em um momento em que o número de refugiados está no nível mais alto da história, os Estados Unidos abandonaram a liderança mundial em reassentar pessoas vulneráveis que necessitam de proteção", disse Eric Schwartz, presidente da Refugees International.
"O resultado é um mundo menos compassivo e menos capaz de lidar com futuros desafios humanitários."
Há dois anos, Stephen Miller, principal assessor de Trump para imigração, tem usado sua influência para reduzir o teto de refugiados a seu nível histórico mais baixo, limitando o programa a 30 mil vagas neste ano.
É um corte de mais de 70% do nível aplicado quando o presidente Barack Obama deixou o cargo.
A medida fez parte do esforço de Trump para reduzir o número de imigrantes com e sem documentos que entram nos Estados Unidos, incluindo numerosas restrições de solicitantes de asilo, que, como os refugiados, fogem da perseguição, mas entram nos Estados Unidos pela fronteira com o México ou o Canadá.
Agora, Miller e seus aliados nos Departamentos de Estado e de Segurança Interna que trabalharam com ele na Casa Branca estão pressionando agressivamente para encolher o programa ainda mais, de acordo com uma autoridade envolvida nas discussões e vários ex-funcionários informados sobre elas, que falaram sob condição do anonimato para dar detalhes das deliberações privadas.
Autoridades da Casa Branca não responderam a um pedido de comentários.
John Zadrozny, funcionário graduado do Serviço de Cidadania e Imigração, defendeu a redução do limite máximo para zero, posição que foi primeiramente relatada pelo site Politico.
Outros sugeriram fornecer "nichos" para determinados países ou populações, como os iraquianos e afegãos, cujo trabalho em prol do governo americano coloca eles e suas famílias em risco, tornando-os elegíveis para o estatuto especial para imigrar para os Estados Unidos pelo programa de refugiados.
Os defensores do programa de refugiados —de quase 50 anos— dentro e fora do governo temem que essa abordagem efetivamente extinguiria o programa, tornando impossível reassentar até mesmo essas pequenas populações.
Grupos de defesa dizem que o destino do programa de refugiados depende cada vez mais de uma figura improvável: Mark Esper, o secretário da Defesa.
Em pouco mais de dois meses no cargo de chefe do Pentágono, Esper, um ex-lobista e executivo de empreiteira de defesa, é a mais nova voz na mesa no debate anual sobre quantos refugiados serão admitidos.
Mas, enquanto o antecessor de Esper, Jim Mattis, havia adotado a causa dos refugiados com um zelo quase missionário, recusando repetidamente aprovar grandes cortes devido ao efeito potencial que, segundo ele, teria para os interesses militares americanos em todo o mundo, a posição de Esper sobre a questão é desconhecida.
A liderança militar sênior no Departamento de Defesa tem pressionado urgentemente Esper para que siga o exemplo de seu antecessor e seja um defensor do programa de refugiados, de acordo com pessoas próximas ao tema no Pentágono.
Mas atuais e antigos altos oficiais militares disseram que o secretário não havia revelado se lutaria por maiores admissões de refugiados na reunião na Casa Branca na próxima semana.
Um ex-general descreveu Esper em posição de "toca da raposa", termo militar para o esforço da infantaria para permanecer protegida ou oculta de fogo inimigo.
Uma autoridade do Departamento da Defesa disse que Esper não tinha decidido qual seria sua recomendação para o programa de refugiados neste ano.
Por isso, um intenso esforço de um poderoso grupo de generais reformados e de ajuda humanitária está em curso para convencer Esper a partir de onde Mattis parou.
Em uma carta a Trump na quarta-feira (4), alguns dos mais destacados oficiais militares aposentados do país imploraram ao presidente que reconsidere os cortes, tomando o argumento da segurança nacional que Mattis usou quando estava no Pentágono.
Eles chamaram o programa de refugiados de "tábua de salvação crítica" para as pessoas que ajudam as tropas americanas, diplomatas e oficiais de inteligência no exterior, e advertiu que cortá-lo traria o risco de maior instabilidade e conflito.
"Nós pedimos que o senhor proteja este programa vital e garanta que a meta de admissão de refugiados seja robusta, de acordo com o precedente de décadas e proporcional às necessidades globais urgentes de hoje", escreveram os militares, incluindo o almirante William McRaven, ex-comandante de Operações Especiais; general Martin Dempsey, ex-chefe do Estado Maior Conjunto; e o tenente-general Mark P. Hertling, ex-general comandante das forças do Exército na Europa.
Eles disseram que até mesmo o teto atual de 30 mil "deixa milhares no caminho do perigo".
O general Joseph Votel, que se aposentou neste ano como comandante do Comando Central dos EUA, também assinou a carta.
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