Descrição de chapéu Venezuela

Guaidó aparece em foto ao lado de supostos traficantes colombianos

Porta-voz afirma que líder opositor da Venezuela apenas atendeu a pedido ao cruzar a fronteira

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Bogotá | AFP

Fotografias divulgadas em uma rede social nesta sexta-feira (13) mostram o líder opositor da Venezuela Juan Guaidó ao lado de supostos membros dos Los Rastrojos, grupo criminoso surgido na Colômbia após a dissolução das unidades paramilitares no país. 

A autenticidade das fotos e a filiação dos homens ao grupo foram questionadas, mas a agência de notícias AFP confirmou que as imagens são legítimas e que os dois são acusados por autoridades colombianas de pertencer à milícia, cujas principais atividades são narcotráfico e contrabando.

Na quinta-feira (12), Wilfredo Cañizares, diretor da ONG colombiana Fundación Progresar, publicou um tuíte com as fotografias.

A polícia colombiana afirmou que os homens são Jhon Jairo Durán Contreras, apelidado de "el Menor", e Albeiro Lobo Quintero, conhecido como "el Brother" —eles foram detidos na Colômbia em 18 de junho deste ano. 

Durán foi preso em flagrante por vestir "roupas de uso exclusivo do Exército" colombiano e carregar "vasto material de guerra".

​Na imagem, Guaidó veste uma camisa preta, um boné com estampa camuflada e uma pulseira vermelha no punho esquerdo, mesma roupa em que aparece nas fotos de 22 de fevereiro deste ano, quando cruzou a fronteira com a Colômbia para participar do Venezuela Aid Live, festival realizado na cidade de Cúcuta em apoio ao envio de ajuda humanitária à Venezuela.

Desde janeiro, quando se declarou presidente interino da Venezuela, ele tenta tirar o ditador Nicolás Maduro do controle do país, que enfrenta grave crise humanitária.

Alberto Ravell, porta-voz do líder opositor, afirma que os homens que aparecem nas fotos "pediram [a Guaidó] que tirasse uma foto com eles" enquanto atravessava a fronteira com a Colômbia. ​

Guaidó corrobora a argumentação. Em entrevista à rádio colombiana Mañanas BLU, afirmou que ao longo da travessia até a cidade de Cúcuta, onde o evento ocorreu, tirou diversas fotos com muitas pessoas e que era impossível verificar quem fazia os pedidos.

"Interpretar erroneamente essas fotografias é jogar o jogo do regime de Maduro."

Juan guaidó presta continência e sorri vestindo camisa preta e boné com estampa camuflada
Juan Guaidó durante chegada à Colômbia para participar do Venezuela Live Aid, no dia 22 de fevereiro deste ano - Juan Felipe Corzo - 22.fev.2019/AFP

O ditador Nicolás Maduro, em discurso nesta sexta, disse que as fotos eram evidência de um "tremendo escândalo", alegando que mostravam que Guaidó tinha uma "aliança criminosa com uma gangue de traficantes de drogas".

Tarek William Saab, chefe do Ministério Público da Venezuela, alinhado à ditadura, anunciou que abrirá uma investigação criminal contra Guaidó por sua suposta conexão com o grupo colombiano.

O regime acusa o líder opositor de ter sido protegido pelos supostos membros da milícia ao atravessar a fronteira, violando a proibição de deixar o país imposta a ele.

Saab já abriu diversos processos contra Guaidó, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, de maioria opositora.

O presidente colombiano, Iván Duque, procurou minimizar o significado das imagens e elogiou Guaidó. "Além de haver fotos ou não, se ele cumprimentou ou não cumprimentou muita gente... quero enfatizar quem ele é. Ele é um titã, um herói que luta pela democracia de seu país", disse Duque a repórteres.​

O advogado-geral da Venezuela, o chavista Tarek William Saab, mostra as imagens de Guaidó durante entrevista coletiva nesta sexta (13)
O advogado-geral da Venezuela, o chavista Tarek William Saab, mostra as imagens de Guaidó durante entrevista coletiva nesta sexta (13) - Federico Parra/AFP

A divulgação destas imagens vem em um momento conturbado da relação de Caracas e Bogotá, pois o Exército de Maduro mobilizou recentemente cerca de 150 mil homens para exercícios militares na fronteira entre os dois países.

O pretexto para o movimento seria a eventual interceptação de uma invasão estrangeira na Venezuela, embora não haja ameaça por parte dos países vizinhos. A ação se iniciou esta semana e está prevista para seguir até o dia 28.

A tensão entre os dois países cresceu após a divulgação de documentos obtidos pela revista Semana, da Colômbia. De acordo com os papéis, a ditadura venezuelana tem dado proteção e apoio a guerrilheiros e dissidentes de guerrilhas colombianas em seu território.

O regime de Maduro negou na segunda-feira (9) ter envolvimento com insurgentes colombianos e afirmou que novas acusações publicadas na imprensa do país vizinho são uma desculpa para justificar uma intervenção militar contra Caracas.

Dias antes, o ex-número 2 das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Iván Márquez, anunciou que alguns ex-combatentes estavam se rearmando, diante do lento progresso do governo de Iván Duque em implementar as medidas acertadas pelo acordo de paz de 2016.

Eles estão se pegando em armas novamente, alguns no próprio território colombiano, outros do outro lado da fronteira com a Venezuela. A guerrilha, desmobilizada no fim de 2016 por meio de um acordo de paz aprovado pelo Estado e pelo grupo, tem tido cada vez mais dissidentes —​as estimativas oficiais são de que já existem por volta de 2.000. 

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