Descrição de chapéu Brexit

Irmão de Boris Johnson renuncia por tensão entre 'lealdade familiar e interesse nacional'

Apesar de sequência de derrotas, premiê diz que prefere 'estar morto em uma vala' a adiar o brexit

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Londres e São Paulo | Reuters

Os almoços da família Johnson acabam de ficar mais difíceis: o caçula, Jo, renunciou nesta quinta (5) a sua cadeira no Parlamento e a um cargo no governo porque discorda da política para o brexit do irmão mais velho, Boris —o primeiro-ministro britânico.

A saída do irmão coroa a semana de derrotas do premiê, que perdeu sua maioria na Casa, enfrentou uma rebelião dentro de seu Partido Conservador e viu os parlamentares aprovarem uma proposta que na prática acaba com seus planos para uma saída da União Europeia (UE) sem acordo.

"Nas últimas semanas fiquei dividido entre a lealdade familiar e o interesse nacional. É uma tensão sem solução. É tempo para que outros assumam minhas funções como parlamentar e ministro", disse Jo, 47.

Jo Johnson, que renunciou aos seus cargos públicos nesta quinta-feira
Jo Johnson, que renunciou aos seus cargos públicos nesta quinta-feira - Ben Stansall - 20.jun.19/AFP

Apesar do momento difícil, Boris não se deu por vencido e, em entrevista coletiva no norte do país nesta quinta, voltou a afirmar que o brexit acontecerá na data marcada —31 de outubro— de qualquer maneira.

Questionado se não pediria um novo adiamento para a UE, como preferem os parlamentares, o premiê foi claro: "Prefiro estar morto em uma vala". A divergência familiar acontece exatamente pelas discordâncias sobre a relação que Londres deve ter com Bruxelas, sede da burocracia europeia.

O caçula votou contra o brexit no plebiscito de 2016 e chegou a defender a realização de uma segunda votação popular sobre a saída do Reino Unido do bloco.

Já seu irmão Boris, 55, foi um dos rostos da campanha a favor da saída da UE em 2016 e defende que o divórcio com o bloco seja realizado até 31 de outubro, com ou sem acordo.

​A família Johnson é notória pela divisão sobre o tema. Rachel, irmã de Boris, e Stanley, seu pai, também são contrários à saída. O patriarca, inclusive, já trabalhou na Comissão Europeia, que comanda a UE.

Rachel usou uma rede social nesta quinta, inclusive, para afirmar que o tema é assunto proibido nos encontros familiares, especialmente durante as refeições. Jo foi parlamentar por nove anos e integrou o governo de três diferentes premiês. Antes, tinha trabalhado como jornalista no Financial Times.

Ao assumir como primeiro-ministro, em julho, Boris indicou o irmão como ministro de Negócios (função semelhante à de secretário no Brasil), cargo ao qual ele também renunciou nesta quinta.

O porta-voz do primeiro-ministro emitiu um comunicado no qual agradece Jo por seus serviços e diz que "o premiê, como político e como irmão, entende que isso não seria uma questão fácil para ele".

O Partido Trabalhista, de oposição, disse que essa saída evidencia a falta de confiança no premiê. "Boris Johnson representa tanto uma ameaça que mesmo seu irmão não confia nele", disse Angela Rayner, porta-voz da sigla.

A estratégia de Boris de tentar fazer o brexit a qualquer preço está causando divisões profundas em seu partido, e vários parlamentares veteranos da legenda anunciaram que não vão buscar a reeleição.

Na quarta (4) um grupo de conservadores rebeldes se aliou à oposição e aprovou um projeto que proíbe o premiê de realizar o brexit em 31 de outubro caso não exista um acordo com o bloco para regular a relação futura entre eles. A resolução aumentou ainda mais a incerteza que assola o país e pode fazer com que o brexit seja adiado para 2020.

Como resposta, Boris expulsou 21 membros do partido por eles terem se posicionado contra o governo nos debates e tentou convocar novas eleições, mas a proposta acabou barrada pelos deputados.

O governo anunciou nesta quinta que tentará votar de novo a antecipação das eleições gerais na segunda-feira (9), antes da suspensão do Parlamento pedida por Boris na semana passada. A aprovação ou não da votação depende do apoio dos trabalhistas.

O líder da sigla, Jeremy Corbyn, indicou que poderia apoiar a convocação de uma nova eleição já na próxima semana, quando o projeto que impede o brexit sem acordo deve receber a aprovação da rainha e virar lei oficialmente.

Parte dos parlamentares da sigla, porém, defendem que a eleição só seja autorizada depois que Boris pedir o adiamento do brexit para a União Europeia, o que só deve ocorrer em 19 de outubro —dois dias antes, o premiê e os principais líderes europeus devem se reunir para tentar resolver a questão.

É quase certo que o Natal da família Johnson será difícil neste ano, já que parece improvável que o brexit se resolva até lá.


ENTENDA A CRISE NO REINO UNIDO

O início
Decidido em plebiscito de junho de 2016, o adeus de Londres à União Europeia (UE) foi objeto de negociações formais por mais de um ano e meio.

Derrota de Theresa May
O pacto fechado pela então primeira-ministra, Theresa May, acabou rejeitado pelos deputados britânicos três vezes, levando à renúncia da conservadora em julho passado.

A chegada de Boris...
O sucessor de May, Boris Johnson, assumiu o cargo prometendo resolver o impasse a qualquer custo até 31 de outubro de 2019, prazo final do brexit. Para isso, suspendeu o Parlamento por cinco semanas para evitar reveses na fase final de negociações.

...e a sua derrota
Nesta quarta (4), o Parlamento aprovou projeto que proíbe o país de deixar a UE sem antes ter um acordo para regular as relações comerciais futuras. Boris não aceitou a nova regra e tentou convocar novas eleições para 15 de outubro, mas a proposta foi derrubada.

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