Descrição de chapéu Governo Trump

NYT enfrenta nova revolta ao publicar detalhes da identidade do denunciante

Jornal justificou-se dizendo que informação era de interesse público

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São Paulo

“Dia carregado para o Centro do Leitor do New York Times, eu suponho”, ironizou Margaret Sullivan, colunista de mídia do Washington Post e ex-ombudsman do NYT.

Referia-se ao esforço atabalhoado do concorrente para justificar a decisão de revelar detalhes da identidade do “whistleblower” que denunciou o telefonema de Donald Trump —e que pode levar ao impeachment do presidente americano.

Mulher segura cartaz em que se lê "denunciantes anônimos nos libertaram" em café próximo a evento de campanha de Donald Trump, em Nova York
Mulher segura cartaz em que se lê "denunciantes anônimos nos libertaram" em café próximo a evento de campanha de Donald Trump, em Nova York - Jonathan Ernst - 26.set.2019/Reuters

O editor-executivo do NYT, Dean Baquet, falou ao Centro do Leitor operado pelo jornal que foi porque “o presidente e alguns de seus apoiadores atacaram a credibilidade do denunciador”. Ou seja, seriam informações, como o fato de pertencer à CIA, para mostrar sua “credibilidade”.

Um dos advogados do denunciador se revoltou, dizendo que isso “só vai levar à identificação”, colocando seu cliente em “situação muito mais perigosa, não só em seu mundo profissional, mas para sua segurança”. Outro chamou o jornal de negligente.

E um ex-chefe de gabinete da CIA falou anonimamente à NBC que “é horrível o New York Times pensar que isso serviria ao interesse público”. A NBC avisou que não reproduziria as informações do NYT, por respeitar o pedido de anonimato do denunciador.

De maneira generalizada, o questionamento da decisão do jornal enfatizou que ela vai desencorajar outros “whistleblowers”, expressão usada para descrever funcionários públicos que denunciam malfeitos.

O denunciador é uma figura essencial para o jornalismo americano, protagonista de escândalos históricos como Watergate e, mais recentemente, as revelações de Edward Snowden e Chelsea Manning.

A identidade da fonte do Washington Post durante Watergate só veio a público mais de três décadas após o caso ser revelado. Já Snowden e Manning, identificados pelo governo Obama, não pelos veículos que noticiaram seus vazamentos, foram para o exílio e a cadeia, respectivamente.

Não foi só o Centro do Leitor que teve uma quinta carregada. Noite avançada, o NYT acrescentou em reportagem que o governo Trump já sabia se tratar de um agente da CIA antes de o jornal divulgar, o que deve aliviar a pressão.

Ainda assim, sobreveio nova onda de cancelamentos, já observada em episódios como a contratação de um colunista que nega a mudança do clima e a manchete que deu a entender que Trump é contra o racismo —e não um racista.

O estrago, ao que parece, é cumulativo. E atinge, além de Baquet, o publisher A.G. Sulzberger, que assumiu o jornal em 2018. Um dos alvos da revolta de quinta-feira foi seu texto, publicado dias antes, criticando Trump por não defender jornalistas ameaçados. Alguns viram incoerência.

Erramos: o texto foi alterado

A reportagem informava incorretamente que a identidade da fonte do jornal ​The Washington Post no caso Watergate só foi revelada após sua morte, mas a fonte ainda estava viva quando isso aconteceu. A informação foi corrigida. 

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