Rússia e Ucrânia trocam prisioneiros e mostram avanço das negociação de paz

Entre os 70 libertos está o cineasta ucraniano Oleg Sentov, preso desde 2014

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Moscou | AFP

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, foi ao aeroporto de Kiev neste sábado (7) para receber prisioneiros que estavam na Rússia e foram extraditados, como parte de uma troca de 70 detidos feita com a Rússia.

Foi o passo mais concreto entre os dois países vizinhos para por fim à uma crise que já dura cinco anos e teve como ápice a anexação da Crimeia, antes território da Ucrânia, pela Rússia em 2014. 

O cineasta ucraniano Oleg Sentsov abraça a filha Alina ao desembarcar no aeroporto de Kiev -  Sergei Supinsky/AFP

“Demos o primeiro passo. Devemos dar os que faltam para acabar com essa guerra horrível”, disse Zelenski, comediante que assumiu o cargo em maio deste ano.

Na Rússia, a TV estatal mostrou presos vindo da Ucrânia chegando ao aeroporto em Moscou, e também os ucranianos deixando a detenção a caminho de Kiev.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, havia anunciado na quinta-feira (5) uma troca em massa de prisioneiros entre os dois países, mas não havia especificado uma data. 

Esta medida, disse ele, é “um grande passo em direção à normalização das relações bilaterais”.

A troca foi elogiada por Estados Unidos, Alemanha e França. “Notícia muito boa, talvez um primeiro passo gigante para a paz. Parabéns aos dois países”, postou o presidente dos EUA, Donald Trump, em uma rede social. 

Um avião aterrissa no aeroporto enquanto um grupo de pessoas acena em sua direção.
Amigos e familiares recepcionam ex-prisioneiros ucranianos, no aeroporto de Kiev. - Sergei SUPINSKY / AFP

Foram libertados 35 pessoas de cada lado, entre eles o cineasta ucraniano Oleg Sentov, que passou cinco anos detido e chegou a entrar em greve de fome por 145 dias, transformando-se em símbolo de resistência ucraniana.

“Espero que os outros prisioneiros sejam libertados logo. Mesmo com a libertação do último preso, nossa luta não termina. A vitória ainda está muito longe”, disse Sentov, que agradeceu a todos que os ajudaram. 

O cineasta havia sido preso em 2014 na Crimeia, depois de participar de um protesto contra a anexação daquela região pela Rússia.

A Ucrânia ainda espera a libertação de cerca de 90 de seus cidadãos detidos na Rússia e na Crimeia, segunda a ONG Centro de Liberdades Cívicas. 

Em troca, a Ucrânia liberou, entre outros, Volodimir Tsemakh, 58, ex-chefe militar dos separatistas pró-Rússia e testemunha-chave da derrubada do voo MH17, da Malásia Airlines, em 2014, que foi atingido enquanto sobrevoava o espaço aéreo da Ucrânia. 

Outro dos russos libertados é o jornalista Kirilo Vyshinski, 52, da agência Ria Novosti, preso em Kiev em 2018 e acusado de alta traição.

A Rússia é acusada pela Ucrânia de apoiar separatistas que atuam em seu país, o que Moscou nega. 

No começo de 2014, Putin anexou a Crimeia, região da Ucrânia historicamente russa e com maioria étnica afiliada a Moscou, depois que um golpe derrubou um presidente pró-Kremlin.

A ONU não reconhece a anexação, considerada fato consumado internacionalmente. 

Na sequência, houve tentativas separatistas em várias cidades grandes da Ucrânia, sem o mesmo sucesso. Mas a região de maioria russa étnica do Donbass, importante centro industrial, viu explodir uma guerra civil. 

Já morreram, segundo a ONU, cerca de 13 mil pessoas. No momento, os embates são esporádicos, mantendo o conflito em um estado congelado. No entanto, essa situação mantém a Ucrânia sem estabilidade política. 

​Zelenski quer mudar isso, para tentar retomar a normalidade em seu país, sob grave crise econômica. Em sua campanha, foi cauteloso: tinha de criminalizar o Kremlin sob pena de perder apoio doméstico, mas sempre falou em diálogo. 

O atual presidente fez carreira como comediante e ator. Em sua série de maior sucesso, interpretou um homem que chega de forma acidental à Presidência.  

Após tomar posse, ele retomou as conversas com Putin, que culminaram no acordo atual. 

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