Descrição de chapéu The New York Times

Turismo excessivo coloca em risco a preservação de navios vikings na Noruega

Com o número crescente de visitantes, vêm poeira, vibrações e flutuações de temperatura que colocam em risco a madeira frágil das embarcações

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Henrik Pryser Libell Richard Martyn-Hemphill
Oslo | The New York Times

Dois dos maiores tesouros culturais da Noruega, os dracares —navios vikings— Oseberg e Gokstad conseguiram sobreviver a viagens marítimas há mais de mil anos, seguidas por séculos enterrados ao lado de dignitários e artigos como trenó, jogos de tabuleiro e restos de pavões.

Mas mesmo após serem escavados, restaurados e colocados em um museu, a vida não ficou muito mais fácil para eles. Expostos no Museu de Navios Vikings em Oslo, os barcos deveriam ser vistos por até 40 mil visitantes ao ano —mas aparecem mais de 500 mil. E, com o número crescente de turistas, vêm poeira, vibrações e flutuações de temperatura que colocam em risco a madeira frágil das embarcações.

Pressionado por arqueólogos e responsáveis pela instituição, o governo norueguês acaba de alocar cerca de US$200 milhões (R$ 812 milhões) para construir um novo lar para os navios ao lado do museu e para a delicada operação de transferi-los por cerca de 50 metros.

“Foi a decisão certa”, disse Jesper Stub Johnsen, vice-diretor do Museu Nacional da Dinamarca e presidente de uma comissão internacional formada para avaliar os riscos de uma transferência. “Os barcos são ímpares, mesmo em um contexto internacional.” 

Barco Oseberg, no Museu de Navios Vikings  - Heiko Junge/Scanpix Norway/AFP

Mas as verbas não garantem a segurança imediata dos navios. A construção da nova área só deve começar em 2021 e está prevista para levar cinco anos.

Hakon Glorstad, diretor do Museu de História Cultural da Universidade de Oslo, do qual faz parte o Museu de Navios Vikings, descreveu a condição dos barcos como “uma catástrofe esperando para acontecer”.

No ano passado, Glorstad disse que ele e outros conservacionistas vinham alertando o governo há anos sobre o perigo de tesouros culturais como as duas embarcações simplesmente se desintegrarem.

Há poucas informações conhecidas sobre os navios. Não se sabe se foram usados em ataques costeiros dos vikings, em viagens exploratórias, para transportar mercadorias, ou se foram construídas para finalidades cerimoniais.
“Não sabemos para onde foram”, disse Glorstad. Ele descreveu o Oseberg, que teria sido construído por volta do ano 820, como um “super iate da era viking”, provavelmente feito para deslocamentos na região de Oslo. Já o Gokstad pode ter chegado à Inglaterra, Islândia, Mediterrâneo, mar Negro ou mar Cáspio.

O Oseberg, de 21 metros de comprimento, e o Gokstad, de 24 m, foram reconhecidos imediatamente como descobertas históricas quando foram encontrados —Gokstad em 1879, e Oseberg, em 1903. “As descobertas tiveram significado tão grande para nossa parte da Europa quanto teve o túmulo de Tutancâmon para o Egito”, comentou Glorstad.

O Gokstad, em especial, foi vital para a verificação de algumas sagas nórdicas, e os dracares “conferiram uma linguagem visual à Noruega recém-independente, à procura de seu passado glorioso”.

O interesse pela era viking vive um renascimento, alimentado em parte por seriados como “Vikings”, da HBO, “O Último Reino”, da Netflix, “Game of Thrones”, com personagens e tramas que ecoam sagas nórdicas, e “Beforeigners”, falada em norueguês.

Para os barcos, o interesse pelos vikings traz vantagens e desvantagens. O museu já havia começado a limitar o número de visitantes e considerado a possibilidade de fechar o acesso às embarcações caso não encontrasse recursos. Mas a propaganda pode ter estimulado o governo a agir diante dos avisos de que não estava dedicando recursos suficientes à preservação cultural.
 

Tradução de Clara Allain

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