Durante quase três anos, enquanto Theresa May foi primeira-ministra do Reino Unido, ela foi o alvo principal da ira do país, devido à frustração generalizada com sua incapacidade de convencer os legisladores a apoiar seu acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia.
Nesta semana, com quase todos os olhares voltados a seu sucessor, Boris Johnson, ela foi fotografada dando risada nas bancadas da Câmara dos Comuns.
Ninguém sabe ao certo o que motivou seu bom humor nem o dos outros parlamentares vistos gargalhando enquanto o drama se desenrolava, mas sobraram insultos e recriminações ao longo dos debates.
Na terça-feira (3), enquanto Boris se atrapalhava ao passar pelo mesmo “corredor polonês” que ela percorreu no passado, May foi vista assistindo à sessão com ar despreocupado e de vez em quando dando um sorrisinho maroto.
Na quarta-feira (4), Boris –que antes de tomar o lugar de May, em julho, era um dos críticos mais declarados da ex-primeira-ministra— enfrentou os parlamentares e ameaçou convocar uma eleição antecipada.
Parlamentares oposicionistas furiosos e 21 dos membros do próprio Partido Conservador, de Boris, se rebelaram contra a abordagem intransigente do premiê ao brexit à medida que o prazo final de 31 de outubro se aproxima cada vez mais.
Para impedir Boris de tirar o país da União Europeia sem um acordo formal, a facção conservadora rebelde votou para arrancar o controle do Parlamento das mãos do governo e fazer o Parlamento votar ainda na quarta-feira (4) uma lei para impedir o premiê de conseguir seu intento.
Theresa May foi vista na Câmara dos Comuns sorrindo ao lado de parlamentares veteranos como Kenneth Clarke.
Na quarta-feira, enquanto parlamentares faziam perguntas e críticas a Boris e enquanto Sajid Javid, o secretário das Finanças, apresentava sua revisão dos planos de gastos públicos, May e Clarke estavam rindo visivelmente.
Especulou-se que ela pudesse se unir ao contingente de conservadores rebeldes que se alinharam com parlamentares oposicionistas para apresentar uma legislação para barrar um brexit sem acordo.
Mas a ex-chefe do governo acabou votando no plano de Johnson.
Os 21 conservadores que se rebelaram contra o governo foram sumariamente expulsos do partido. O ex-ministro Rory Stewart disse à BBC, falando de sua expulsão: “Fui informado por mensagem de texto. Foi um momento estarrecedor”.
No início deste ano, Theresa May fracassou em três tentativas de levar o Parlamento, profundamente dividido, a aprovar o acordo sobre o brexit que ela negociara com Bruxelas.
Ela então apresentou seu pedido de renúncia em um discurso emocionado que fez diante da sede do governo em Downing Street, em que chegou a chorar. Os jornais britânicos a descreveram como “fragilizada” e “acabada”.
Mas, na noite de terça-feira (3), depois de um dos dias mais dramáticos vividos no Parlamento desde que a saga do brexit começou, May foi fotografada saindo do Parlamento de carro.
E estava sorrindo.
ENTENDA A CRISE NO REINO UNIDO
O início
Decidido em plebiscito de junho de 2016, o adeus de Londres à União Europeia (UE) foi objeto de negociações formais por mais de um ano e meio.
Derrota de Theresa May
O pacto fechado pela então primeira-ministra, Theresa May, acabou rejeitado pelos deputados britânicos três vezes, levando à renúncia da conservadora em julho passado.
A chegada de Boris...
O sucessor de May, Boris Johnson, assumiu o cargo prometendo resolver o impasse a qualquer custo até 31 de outubro de 2019, prazo final do brexit. Para isso, suspendeu o Parlamento por cinco semanas para evitar reveses na fase final de negociações.
...e a sua derrota
Nesta quarta (4), o Parlamento aprovou projeto que proíbe o país de deixar a UE sem antes ter um acordo para regular as relações comerciais futuras. Boris não aceitou a nova regra e tentou convocar novas eleições para 15 de outubro, mas a proposta foi derrubada.
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