No dia do Yom Kippur, a data mais sagrada do ano para o judaísmo, duas pessoas foram mortas em um ataque a tiros em frente a uma sinagoga e em um restaurante de comida árabe em Halle, no leste da Alemanha, 150 km a sudoeste de Berlim.
Um homem foi preso, mas as autoridades pediram à população da cidade de 200 mil habitantes que permaneça em alerta, pois a procura por outros dois suspeitos continua. As revistas alemãs Spiegel e Focus Online afirmam que um deles seria um alemão de 27 anos.
O ataque ocorreu no distrito de Paulusviertel, na zona norte de Halle, por volta das 12h (7h em Brasília). Max Privorozki, presidente da comunidade judaica da cidade, viu o atirador, que "parecia ser um homem das forças especiais", pelo sistema de câmeras da sinagoga.
"Barricamos as portas por dentro e esperamos pela polícia", disse Privorozki, acrescentando que cerca de 70 a 80 pessoas estavam dentro do local celebrando o Yom Kipur.
Um vídeo divulgado na tarde desta quarta mostra o agressor na rua, usando capacete e roupas militares. Ele atira calmamente enquanto carrega o que parece ser uma escopeta.
Outra testemunha contou que o homem, além de ter atirado contra um restaurante de comida turca a duas quadras da sinagoga, também efetuou disparos e lançou um explosivo sobre o muro de um cemitério judaico ao lado do templo. Após as ações, fugiu de carro.
A polícia também relatou tiros em Landsberg, a cerca de 15 km do primeiro ataque. A prefeita da cidade, Anja Werner, afirmou que os dois suspeitos roubaram um carro no município e fugiram em uma rodovia que leva a Munique.
Halle decretou estado de emergência, e outros locais próximos à cidade reforçaram a segurança. A polícia de Dresden, por exemplo, mandou agentes para a sinagoga local e a um cemitério judaico.
A polícia de Dresden, por exemplo, mandou agentes para a sinagoga local e a um cemitério judaico. Em Berlim, um parlamentar pediu à polícia que aumente a segurança em instituições judaicas da capital.
Os motivos do ataque são desconhecidos, mas o ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, classificou a ação como antissemita, acrescentando que os promotores federais envolvidos na investigação encontraram sinais de que o ataque foi realizado por extremistas de direita.
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, publicou uma mensagem no Twitter na qual afirma que o ataque realizado no dia do Yom Kipur “nos atinge no coração” e pede “uma luta mais dura contra o antissemitismo”.
O Yom Kipur é a data mais solene do calendário judaico. Celebrado sempre dez dias depois do Ano Novo judaico, consiste em jejuar e refletir sobre os erros cometidos no ano anterior, pedindo perdão a Deus e ao próximo.
O antissemitismo é um ponto sensível na Alemanha, onde o regime nazista matou 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
O temor do ressurgimento do ódio antissemita nunca desapareceu completamente, seja de neonazistas de extrema direita ou, mais recentemente, de imigrantes muçulmanos..
Ataques anteriores variaram de pichações de suásticas em lápides a bombas em sinagogas e até assassinatos. Houve um aumento de 20% das ações contra judeus em 2018 —a maioria delas realizadas por extremistas de direita.
Judeus e políticos na Alemanha têm demonstrado preocupação com os comentários de Bjoern Hoecke, o líder do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) no estado de Turíngia, no centro-leste do país.
Ele já afirmou que o memorial ao holocausto em Berlim era um "monumento de vergonha" e que as escolas deveriam dar destaque ao sofrimento dos alemães na Segunda Guerra. Hoecke, porém, foi um dos condenou o ataque desta quarta.
Charlotte Knobloch, sobrevivente do Holocausto e presidente da Comunidade Judaica em Munique, afirma que a retórica do AfD contribui para uma atmosfera de ódio que encoraja a violência.
"Este ataque assustador deixa claro que palavras levianas podem se transformar em atos de extremismo político."
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