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China de Xi assume seu lado União Soviética em desfile inédito

Após anos de 'soft power', gigante asiático mostrou armas voltadas contra os EUA

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São Paulo

A China de Xi Jinping viveu seu dia de União Soviética nesta terça (1º), quando promoveu o mais vistoso desfile militar de sua história para celebrar os 70 anos da fundação do moderno Estado comunista.

Após anos apostando em "soft power" e no poderio de sua economia, que deixou um estágio quase medieval nos anos 1940 para chegar ao posto de segunda maior potência do mundo, a ditadura desta vez resolveu fazer um show de militarismo enquanto a crise com os protestos em Hong Kong recrudescia.

Xi emulou antigos líderes soviéticos e, para ficar numa versão atual com gosto de paródia, os coreanos da dinastia comunista Kim ao longo do personalista evento.

Desfiles semelhantes anteriores sempre tiveram esse caráter, mas duas coisas diferenciaram o show desta terça: o escopo e o tipo das armas exibidas.

O Exército de Libertação Popular, como as Forças Armadas chinesas são chamadas, colocou mais de 160 aeronaves e 580 armamentos diferentes em Pequim.

Xi Jinping, líder da ditadura chinesa, discursa na praça da Paz Celestial com a túnica maoísta
Xi Jinping, líder da ditadura chinesa, discursa na praça da Paz Celestial com a túnica maoísta - Xie Huanchi/Xinhua

Nada menos que um terço de sua força de mísseis balísticos intercontinentais estava na parada, segundo observadores militares, e um novo modelo destinado a assustar os rivais em Washington fez sua estreia pública: o DF-41.

É um tipo de míssil que só a Rússia, entre os adversários dos EUA, tinha até aqui. É lançado de bases móveis, dificultando sua detecção e anulação em caso de ataque retaliatório, e pode ter um alcance estimado em até 15 mil quilômetros.

Com isso, pode atingir qualquer alvo nos EUA, e não apenas a costa oeste do país, como as armas atuais permitem. Com dez ogivas nucleares independentes, triplica a capacidade de alvos possíveis do atual DF-31.

Junto ao DF-41 estava o DF-17, um planador hipersônico que integra o que se convencionou chamar de armas do futuro.

Trata-se de um veículo lançado por um míssil balístico normal, mas que se desprende a altitudes menores do que as ogivas nucleares convencionais. Mais que isso, ele pode manobrar a velocidades 20 vezes mais rápidas que o som, tornando sua interceptação quase impossível.

É o tipo de arma que a Rússia de Vladimir Putin tem propagandeado à exaustão nos dois últimos anos, e é consenso que os EUA estão atrás nesta corrida específica ante os rivais.

Naturalmente, nada disso faz a China uma potência militar mais capaz que os EUA, que de longe são o único país capaz de projetar seu poder mundo afora.

Mesmo na área nuclear, Pequim tem estimadas 300 ogivas, ante 1.750 ativas e 3.800 estocadas pelos americanos.

Russos têm 1.600 ativas e 4.330 em estoque, segundo a Federação dos Cientistas Americanos.

Indica, no entanto, uma nova postura. Na área naval, os chineses estão construindo três porta-aviões e desenvolvendo drones supersônicos, estes exibidos nesta terça em Pequim.

As aeronaves não tripuladas servem para ajudar a localizar alvos no Pacífico, à distância, facilitando a vida de armas como o DF-17.

O oceano é apontado por analistas como o palco onde, talvez num futuro não tão distante, EUA e China se enfrentem de fato —há quem tema uma aliança hoje embrionária entre Moscou e Pequim nesse embate.

Os chineses estão militarizando ilhotas no mar do Sul da China, área que clama para si, e os americanos contestam isso.

A "sovietização", por assim dizer, do estilo Xi não ficou só nas ruas. O líder completou o movimento de 2017, quando ganhou o direito à reeleição sem limites e teve sua doutrina de afirmação nacional incrustada na Constituição chinesa, dando um caráter personalista ao regime que havia sido diluído pelo revolucionário Deng Xiaoping (1904-97), o pai do modelo chinês de capitalismo em uma ditadura comunista.

Simbolicamente, na abertura do desfile, Xi abandonou o tradicional uso de ternos ao estilo ocidental e envergou uma túnica ao estilo dos líderes chineses da era do pai da nação, Mao Tse-Tung.

Tudo completo com uma enorme foto sua levada em parada durante o desfile, no melhor estilo Josef Stálin, ditador soviético morto em 1953.

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