Curdos apoiados pelos EUA interrompem operações contra Estado Islâmico na Síria

Suspensão também afeta treinamento de americanos para forças de estabilização no país

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Phil Stewart e Ellen Francis
Washington e Beirute | Reuters

Os combatentes curdos apoiados pelos EUA interromperam as operações contra o Estado Islâmico na Síria, enquanto a Turquia lança uma ofensiva militar no nordeste do país, disseram nesta quarta-feira duas autoridades americanas e uma fonte militar curda. 

O militar curdo argumenta que as Forças Democráticas da Síria (SDF) não conseguem realizar uma operação contra um grupo enquanto são ameaçadas por outro exército.

Uma das autoridades americanas, que falou sob condição de anonimato, disse que a suspensão também afetou o treinamento dos EUA para as forças de estabilização na Síria. 

Não ficou claro se a pausa afetou todos os aspectos das operações dos EUA contra o Estado Islâmico ou se pode haver exceções. Nenhuma autoridade das Forças Armadas norte-americanas comentou. 

Qualquer suspensão dessas atividades representa um revés direto para o objetivo dos EUA de ajudar as Forças Democráticas da Síria, lideradas pelos curdos, a controlar um território que antes era dominado pelo Estado Islâmico

Isso também indicaria como as SDF estão mudando rapidamente seu foco para a luta contra a Turquia —à custa de preparativos para impedir o ressurgimento do Estado Islâmico. 

Na quarta-feira, aviões de guerra e artilharia turcas atingiram posições da milícia curda em várias cidades, depois que os Estados Unidos retiraram suas tropas da fronteira entre a Turquia e a Síria, após uma decisão do presidente dos EUA, Donald Trump. 

Os críticos de Trump dizem que sua decisão abriu caminho para a operação turca e representou uma traição aos curdos. O governo americano diz que o presidente está cumprindo a promessa de retirar os Estados Unidos de "intermináveis" guerras no Oriente Médio. 

Os combatentes curdos, considerados terroristas pela Turquia, descreveram a decisão dos EUA como "uma punhalada pelas costas". Liderados pela milícia curda YPG (Unidade de Proteção Popular), as SDF têm sido a espinha dorsal da campanha liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico. 

As Forças Armadas dos EUA esperavam treinar as SDF e outros grupos para criar uma força de estabilização com 50 mil a 60 mil combatentes para ajudar a impedir o ressurgimento do Estado Islâmico.

Uma terceira autoridade disse à Reuters que as SDF ainda estavam vigiando prisões com cerca de 11 mil combatentes do Estado Islâmico capturados, mas observou que um pequeno número de forças das SDF havia sido realocado antes da ofensiva turca prevista. 

Há muito tempo, as autoridades dos EUA temem que as SDF não consigam continuar vigiando as instalações no caso de uma grande incursão turca na Síria. Ainda assim, os remanescentes do Estado Islâmico poderiam forçar as SDF a lutar também. 

Jennifer Cafarella, diretora de pesquisa do Instituto para o Estudo da Guerra em Washington, disse que as SDF enfrentam a provável perspectiva de ter que lutar em duas frentes: contra forças turcas e remanescentes do Estado Islâmico simultaneamente. "O líder do Estado Islâmico, (Abu Bakr al-) Baghdadi, está, sem dúvida, preparado para este momento", disse Cafarella.

No auge de seu poder, o Estado Islâmico dominou milhões de pessoas em um território que ia do norte da Síria, passando por cidades e vilarejos ao longo dos vales dos rios Tigre e Eufrates, até os arredores de Bagdá, no vizinho Iraque. 

Mas a queda em 2017 de Mosul e Raqqa, suas fortalezas no Iraque e na Síria, respectivamente, tirou de Baghdadi os privilégios de um califa e o transformou em um fugitivo, deslocando-se ao longo da fronteira do deserto entre o Iraque e a Síria. 

As autoridades americanas alertam há meses contra a perda de foco no Estado Islâmico, que elas acreditam, poderia se tornar novamente uma insurgência potente.

Tradução de AGFox

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