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Democratas da Câmara estudam ocultar identidade de funcionário que denunciou Trump

Denunciante será ouvido no Congresso como parte do processo de impeachment do presidente

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Washington | The Washington Post

Deputados democratas ansiosos por proteger um denunciante que soou o alarme sobre ações do presidente Donald Trump estudam a possibilidade de tomar seu depoimento em um local remoto e possivelmente mascarar a aparência e a voz do denunciante.

São medidas extraordinárias cogitadas para impedir que aliados de Trump no Congresso revelem a identidade do delator, segundo três funcionários que acompanham as discussões.

O Capitólio, sede do Congresso dos EUA, em Washington - Saul Loeb/AFP

Investigadores democratas temem que, sem essas precauções incomuns, republicanos no Comitê de Inteligência da Câmara possam descobrir e então vazar a identidade do denunciante, que concordou em responder a perguntas diante dos comitês de inteligência da Câmara e do Senado.

Os democratas responsáveis pelos aspectos logísticos do depoimento do denunciante para o inquérito de impeachment de Trump aberto na Câmara discutem a possibilidade de realizar o depoimento em um local distante do Capitólio e também a ideia de fazer uma sessão apenas com funcionários, o que impediria os parlamentares de estar presentes e fazer perguntas.

Assessores estudam a ideia de fazer o denunciante depor em um local separado, por meio de uma conexão por vídeo na qual a câmera obscureceria a imagem do denunciante e modificaria sua voz, possivelmente empregando tecnologia de modificação.

Também consideram fazer o denunciante se sentar atrás de um biombo ou meia-parede. Uma terceira opção aventada inclui um depoimento feito exclusivamente em áudio.

A discussão ressalta o clima de desconfiança existente entre republicanos e democratas do Comitê de Inteligência da Câmara, visto no passado como um dos mais bipartidários da casa e que está à frente da investigação que pode levar ao impeachment de Trump.

Uma pessoa que acompanha as discussões disse que é a primeira vez que o comitê se sente obrigado a tomar medidas tão extraordinárias para proteger uma testemunha.

Trump já disse que quer conhecer seu “acusador” e avisou que haverá “grandes consequências”.

A queixa do denunciante foi centrada sobre o telefonema feito por Trump em 25 de julho em que ele pressionou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, pré-candidato presidencial democrata para a eleição de 2020.

“Além disso, quero conhecer não apenas meu acusador, que apresentou EVIDÊNCIAS DE SEGUNDA E TERCEIRA MÃO, mas também a pessoa que deu essa informação, em grande parte incorreta, ao ‘denunciante’”, escreveu Trump no Twitter.

“Essa pessoa estava ESPIONANDO o presidente dos EUA? Grandes Consequências!”

O advogado Andrew Bakaj, que representa o denunciante, enviou uma carta ao diretor interino de inteligência nacional, Joseph Maguire, dizendo que teme pela segurança física de seu cliente.

Bakaj destacou também que “certos indivíduos” divulgaram uma recompensa de US$ 50 mil por “qualquer informação” sobre a identidade de seu cliente.

Os presidentes democratas de comitês da Câmara imediatamente denunciaram uma violação das regras e acusaram Trump de intimidação de testemunhas –ao mesmo tempo em que alguns dos aliados mais leais do presidente no Capitólio começaram a fazer pressão pela divulgação da identidade do denunciante.

No domingo (6) o presidente do Comitê Judiciário do Senado, o republicano Lindsey Graham, disse que se a Câmara aprovar o impeachment de Trump, ele vai assegurar que o denunciante seja questionado publicamente.

“Se as alegações do denunciante forem convertidas em um artigo de impeachment, é imperativo que o denunciante seja entrevistado em público, sob juramento, e que seja interrogado pela defesa do presidente”, disse Graham no programa “Sunday Morning Futures”, da Fox News.

Os funcionários da Câmara disseram que os detalhes do depoimento do denunciante ainda estão sendo discutidos.

Pouca coisa poderá ser finalizada enquanto não forem resolvidas as liberações de segurança dos advogados do denunciante, para que possam ser iniciadas discussões mais concretas sobre logística, segundo eles.

Mark Zaid, um dos três advogados do denunciante, disse que dois dos três advogados já teriam suas liberações de segurança na segunda-feira e que para o terceiro falta apenas ele assinar os documentos necessários.

“É apenas uma questão de logística”, disse Zaid. “Isso vai acontecer nos próximos dois dias.”

A equipe de advogados do denunciante também está em discussões com o Comitê de Inteligência do Senado sobre um depoimento dele, segundo uma pessoa a par das discussões.

Encabeçado pelos senadores republicanos Richard Burr, da Carolina do Norte, e Mark Warner, da Virgínia, o comitê é conhecido por uma abordagem mais bipartidária.

Seus funcionários não estão pensando em adotar as medidas extraordinárias em discussão na Câmara.

A expectativa é que os comitês da Câmara e do Senado encontrem o denunciante separadamente, em ambos os casos provavelmente longe do Capitólio.

O encontro provavelmente se dará em uma sala segura providenciada pelo Executivo, segundo uma das fontes. As reuniões podem acontecer “nas próximas duas semanas”, mas ainda não foi definida uma data.

Se o denunciante depuser a partir de outro lugar, o painel da Câmara pode pedir ao inspetor-geral do setor de inteligência, Michael Atkinson, para confirmar a identidade do denunciante.

Atkinson, que adjudicou a queixa do denunciante em agosto, determinou que suas alegações eram dignas de crédito e constituíam uma preocupação urgente à segurança nacional.

Assessores congressionais discutem a possibilidade de ser feita uma transcrição do depoimento, mas se a equipe jurídica do denunciante vai concordar com isso vai depender de se a identidade dele puder ser protegida.

Os advogados não vão querer que sejam compartilhadas informações que possibilitem a identificação do denunciante.

A mesma equipe legal foi contratada por uma segunda testemunha que tem conhecimento em primeira mão dos fatos denunciados na queixa.

Segundo o funcionário, ainda não se discutiu no Capitólio a possibilidade de essa segunda testemunha depor diante do Congresso. Para isso seria necessária uma autorização do diretor de inteligência nacional, mas isso é mera formalidade neste ponto, disse a fonte.

Tradução de Clara Allain

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