Economista aposta em renovação de partido tradicional uruguaio para vencer eleições

Ernesto Talvi defende leis progressistas do país, mas quer posição mais dura para Venezuela

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Montevidéu

O Partido Colorado pelo qual o economista Ernesto Talvi, 62, disputará a Presidência do Uruguai não é mais o mesmo dos últimos anos. Impulsionada por uma juventude mais progressista, a legenda de direita passa por um processo de renovação.

“Tínhamos nos transformado num partido pequeno, mais conservador e condenado a ser um sócio menor do partido Nacional. Isso mudou”, diz Talvi, em entrevista à Folha, em seu comitê de campanha, em Montevidéu.

O candidato do tradicional direitista Partido Colorado, Ernesto Talvi 
 
O candidato do tradicional direitista Partido Colorado, Ernesto Talvi    - Pedro Ugarte - 26.ago.2019/AFP

Basta dizer que o candidato do partido nas últimas eleições presidenciais, em 2015, foi Pedro Bordaberry, filho do ex-ditador Juan María Bordaberry e defensor de retrocessos em leis de direitos civis no país, como a do aborto.

Formado pela Universidade de Chicago, Talvi desbancou nas eleições primárias o veterano Julio María Sanguinetti, 83, que buscava um terceiro mandato —no Uruguai, não há reeleição, mas é possível concorrer a cargos de modo não consecutivo.

Ele disputará o primeiro turno da eleição, no próximo dia 27 de outubro, contra Daniel Martínez, da Frente Ampla, que lidera as intenções de voto com 39%, e o centro-direitista Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, com 26%.

Por enquanto, o candidato do Partido Colorado está em terceiro, com 18%, mas aposta na renovação de seu eleitorado, que hoje gravita em torno de uma militância jovem com forte presença nas redes.

“Nós mudamos. Sou um liberal progressista, portanto essas leis de direitos civis [aborto, regulamentação da maconha, casamento gay] não apenas estão garantidas como serão ampliadas. Ainda se pode fazer muito para integrar imigrantes, a população negra e outras minorias.” 

Talvi reconhece avanços no longo governo da esquerdista Frente Ampla, no poder desde 2005, mas diz que “este ciclo está terminado”. Caso eleito, diz ele, marcará um ponto de inflexão com a atual gestão ao respaldar resoluções internacionais que condenam o regime ditatorial de Nicolás Maduro, na Venezuela. 

 

O atual presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, defende, junto ao México, a não ingerência sobre os assuntos venezuelanos, posição que Talvi classifica como “grave, porque mancha nossa tradição de defesa da democracia”.

Com a Frente Ampla no poder, o Uruguai cresceu uma média de 3% ao ano, um desempenho melhor que a média da região. Mas Talvi afirma que isso não significa uma melhoria concreta na economia do país e menos ainda no dia a dia dos trabalhadores. 

“O Uruguai não está em recessão, mas seu crescimento não está promovendo a criação de empregos. Ao contrário, perdemos 60 mil postos nos últimos anos, o que é muito para o tamanho do país [de 3,4 milhões de habitantes]”, afirma o candidato. “E tivemos uma perda de 25% do investimento estrangeiro.”

A solução, para ele, passa por dar mais demonstrações da credibilidade do país no exterior, o que traria investimentos em maior volume. “Temos regras sólidas, moeda estável e mão de obra capacitada. 
Temos que investir mais em capacitação especializada.”

Ainda na área econômica, diz que faltou audácia ao Uruguai ao não propor que o Mercosul deixe de ser uma união aduaneira e “passe a ser uma zona de livre-comércio”. Também defende que seja possível fazer mais acordos com outros países, por fora do bloco.

Mudanças no Mercosul, como sugere a equipe econômica de Jair Bolsonaro, dão a perspectiva de uma relação diplomática cordial com o Brasil caso Talvi seja eleito. 

Ainda que apoie as ideias do governo brasileiro para o bloco, o candidato uruguaio opina que a busca pela abertura comercial vem de período anterior ao do atual presidente. 

“No governo Dilma já havia essa vocação internacionalista, porque ela surge e é empurrada pelos empresários brasileiros. Portanto, também creio que, quando o governo Bolsonaro terminar, e venha outro, essa vocação internacionalista vai continuar, e o Uruguai deve acompanhar.”

Se defende a estabilidade, ataca as novidades do cenário político em todo o mundo, com a chegada de “outsiders” ou de nomes que se dizem “sem ideologia” ao poder.

Talvi diz ter medo dos políticos pragmáticos, dos que afirmam serem bons gestores e saberem conduzir os barcos. “Para mim, que importa que sejam excelentes condutores de barcos, se não sabem aonde os estão levando?”

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