Em resposta a manifestantes, Piñera troca núcleo de seu governo

País sai do estado de emergência, mas novos atos ocorrem em véspera de grande marcha programada na capital

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Santiago e São Paulo | AFP

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou nesta segunda-feira (28) uma reforma de seu gabinete, em mais uma tentativa de responder aos manifestantes que ocupam as ruas do país há mais de uma semana. Mas os ativistas continuaram ocupando as ruas de Santiago.

No total, oito ministros foram trocados, incluindo Andrés Chadwick, que comandava a pasta do Interior e era um dos principais alvos dos protestos. Em seu lugar, entrará Gonzalo Blumel, até então secretário-geral da Presidência.

O presidente chileno, Sebástian Piñera, posa ao lado da nova equipe de ministros - Ivan Alvarado/Reuters

O ministro do Interior é responsável pela segurança do país e, consequentemente, pela atuação das forças de segurança contra os manifestantes. Na semana passada, ele foi bastante criticado por ter chamado os ativistas de "criminosos". E Chadwick ainda carrega um agravante: é primo de Piñera.  

"O Chile mudou, e o governo também tem que mudar para enfrentar os novos desafios", disse o presidente em um discurso na televisão.

Enquanto ele falava, manifestantes se reuniam novamente em frente ao Palácio de la Moneda, sede do Executivo, em Santiago. Com bandeiras e buzinas, os grupos gritavam pedindo sua renúncia.

Na tarde desta segunda, um grande incêndio atingiu um centro comercial no centro de Santiago, onde há um hotel, lojas e consultórios médicos, enquanto manifestantes tentavam chegar ao palácio. 

Várias guarnições dos bombeiros foram enviadas ao prédio, situado na esquina das ruas Santa Rosa e Alameda, a quatro quadras do La Moneda. Moradores de um edifício residencial de 19 andares foram evacuados. 

Houve confrontos violentos com a polícia ao longo do dia, e os manifestantes fizeram barricadas com fogo em alguns pontos no centro da cidade. Os protestos foram dispersados com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água.

Os incidentes se concentraram na capital, mas se repetiram também nas cidades de Valparaíso e Concepción.

Em Santiago, algumas estações de metrô foram fechadas por precaução —muitas delas foram destruídas desde o início dos protestos.

Bombeiros combatem incêndio em centro comercial em Santiago, no Chile
Bombeiros combatem incêndio em centro comercial em Santiago, no Chile - Edgard Garrido/Reuters

No fim do dia, milhares de pessoas começaram a se encontrar na praça Itália —um dos principais locais dos atos, também próximo ao palácio presidencial. Foi ali que os chilenos que se reuniram na sexta (25) para a maior manifestação no país desde o retorno da democracia, em 1990. 

Segundo números oficiais divulgados por um órgão da capital vinculado ao Ministério do Interior e da Segurança Pública, 1,2 milhão de pessoas ocuparam as ruas —mais de um quinto da população da cidade (5,6 milhões de habitantes).

As convocações para novas manifestações nesta terça-feira se multiplicam. A Central Unitária de Trabalhadores (CUT), junto com dezenas de organizações sociais, voltou a convocar uma greve nacional.

Nas redes sociais, circulam chamados para um protesto na frente do palácio presidencial e na praça Itália. 

Uma equipe da Anistia Internacional chegou ao Chile nesta segunda para investigar mais de cem denúncias de abusos policiais cometidos contra os manifestantes. 

Pelo menos cinco das 18 mortes registradas até agora foram provocadas por militares e policiais que estavam nas ruas desde que Piñera decretou estado de emergência na madrugada de 19 de outubro. O regime especial foi suspenso à meia-noite de domingo.

Na terça, deve chegar uma missão da ONU, chefiada pela ex-presidente chilena Michele Bachelet, que também vai verificar denúncias de violações de direitos humanos.

O presidente Piñera disse que a visita é bem-vinda e que eles não têm "nada a esconder".

A crise explodiu em 18 de outubro, inicialmente pela alta no preço do bilhete do metrô. Os protestos já deixaram pelo menos 18 mortos e milhares de feridos. Os manifestantes questionam a alta do custo de vida, a precarização da saúde e da educação e a corrupção no país, entre outros temas

Santiago e outras cidades enfrentam grandes engarrafamentos nas ruas e filas em postos de gasolina, que voltaram a funcionar. Pelo menos 78 postos na capital foram danificados ou incendiados. O prejuízo passa de US$ 300 milhões, segundo o governo.

A maioria das escolas retomou as aulas, embora algumas instituições tenham preferido funcionar apenas em um turno. O comércio também abriu as portas, mas alguns shoppings, como o Costanera Center, o maior da cidade, permanecem fechados.

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