Equador decreta estado de exceção devido a protestos por alta da gasolina

Presidente Lenín Moreno sofre reação à retirada de subsídios a combustíveis após acordo com FMI

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Quito | AFP e Reuters

O presidente do Equador, Lenín Moreno, decretou nesta quinta-feira (3) estado de exceção em todo o país após protestos contra uma série de medidas do governo, que incluem a alta de até 123% nos preços de combustíveis e reformas tributárias.

"Para garantir a segurança dos cidadãos e evitar o caos, decretei estado de exceção em nível nacional", disse o líder equatoriano à imprensa depois de se reunir com membros de seu gabinete em Quito.

A medida, válida durante 60 dias, de acordo com a Constituição, pode ser estendida por outros 30.

Sob estado de exceção, o território equatoriano se torna uma zona de segurança, e o governo pode suspender ou limitar direitos como livre circulação ou impor censura prévia à imprensa.

Também autoriza o governo a colocar oficiais militares e policiais na administração pública e fechar portos, aeroportos e passagens de fronteira.

Quando a medida referente aos combustíveis entrou em vigor, nesta quinta-feira, motoristas de táxi, ônibus e caminhões bloquearam as ruas da capital Quito e de Guayaquil, enquanto terminais de ônibus ficaram fechados.

Grupos indígenas, estudantes e sindicatos aderiram às manifestações, bloqueando estradas com pedras e pneus queimados. 

Manifestantes que tentavam chegar ao palácio do governo, no centro de Quito, entraram em confronto com a polícia. A ministra do Interior, María Romo, disse que 19 pessoas foram presas por bloquear estradas e outros crimes.

"Abaixo ao pacote!", gritaram manifestantes na capital, se referindo ao conjunto de medidas de austeridade do governo. Jovens usando máscaras entraram em confronto com a tropa de choque, que usou gás lacrimogêneo e veículos blindados para contê-los.

"É um ato com duração indefinida, até que o governo revogue o decreto sobre os subsídios. Nós estamos paralisando a nação", disse o líder de transporte de ônibus Abel Gomez.

O governo de Moreno está no centro da ira popular por conta do desmonte dos subsídios para diesel e gasolina após um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que levou a um aumento das taxas de até 123%.

O presidente enfrenta as primeiras consequências dos termos que assinou com o órgão em março para obter créditos depois do elevado endividamento público da economia dolarizada.

Autoridades do país afirmam que a eliminação dos subsídios era necessária para elevar a economia e deter o contrabando.

Moreno, que venceu a eleição em 2017 e sucedeu Rafael Correa, disse a repórteres que o subsídio "perverso" ao combustível, em vigor há 40 anos, distorceu a economia.

Ele alertou os manifestantes que não permitirá "a imposição do caos" e que os protestos não podem paralisar o Equador.

"Esse tempo já passou, esse tempo acabou. Devemos abandonar esse costume que limita os miseráveis, que impõe critérios e, pior, com atos de vandalismo e de violência."

Com uma população de mais de 17 milhões de pessoas, o Equador tem uma longa história de instabilidade política. Protestos de rua derrubaram três presidentes durante turbulências econômicas na década anterior à chegada de Correa ao poder, em 2007.

O ministro da Economia, Richard Martinez, disse na quarta-feira (2) que o Equador espera economizar cerca de US$ 1,5 bilhão por ano com a eliminação dos subsídios aos combustíveis.

Com as reformas tributárias, diz ele, o governo se beneficiaria de cerca de US$ 2,27 bilhões.

Na terça, o Equador anunciou que deixaria a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para bombear mais petróleo e aumentar as receitas.

O governo quer reduzir o déficit fiscal de cerca de US$ 3,6 bilhões neste ano para menos de US$ 1 bilhão em 2020.

A dívida do Equador cresceu sob Correa, que endossou Moreno nas eleições de 2017, mas desde então se tornou um crítico de seu sucessor devido a políticas econômicas pró-mercado.

O governo de Moreno chegou a um acordo de US$ 4,2 bilhões com o FMI em fevereiro.

Mas o ceticismo do órgão continua forte com o Equador e com outros países da América Latina, onde muitos culpam as políticas de austeridade pelas dificuldades econômicas.

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