Equador vive 1º dia de calma após acordo com manifestantes

Governo cede e retomará subsídio a combustíveis; preços devem voltar a patamar anterior na terça-feira

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Quito | Reuters e AFP

Nas horas seguintes ao acordo que pôs fim a 12 dias de protestos no Equador, o líder indígena Jaime Vargas disse que os preços dos combustíveis devem voltar nesta terça-feira (15) ao patamar em que estavam antes do começo da crise.

O estopim para as manifestações que incendiaram o país, levaram à declaração de um estado de exceção (com militares nas ruas e toque de recolher) e forçaram a transferência da sede do governo de Quito para Guayaquil foi um decreto do presidente Lenín Moreno que retirava o subsídio aos combustíveis.

Em cima de um caminhão, manifestantes gesticulam em sinal de celebração
Indígenas comemoram ao deixar a Casa da Cultura, onde estavam acampados, em Quito - Luis Robayo/AFP

O fim da concessão, que estava em vigor havia 40 anos, provocou a alta de até 123% nos valores da gasolina e do diesel e estimulou os trabalhadores do setor de transportes e os grupos indígenas a ocuparem as ruas.

A medida era parte de um pacote de ajustes para cumprir um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), em troca de um empréstimo de US$ 4,2 bilhões.

“Nós libertamos o país”, disse em uma entrevista coletiva o líder indígena, que é presidente da Conaie (Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador).

No Twitter, o presidente equatoriano confirmou que revogaria o decreto “nas próximas horas”. “Fizemos uma escolha pela paz”, escreveu.

Moreno disse ainda que vai preparar uma nova medida que “assegure que os recursos cheguem àqueles que realmente precisam”. Mas o novo texto não foi divulgado.

Com o fim dos protestos, os indígenas começaram a desmontar seus acampamentos em vários pontos de Quito. A área em torno do parque El Arbolito, epicentro dos protestos, começou a ser limpa ainda nesta segunda (14).

Dezenas de funcionários recolheram os lixos que ficaram espalhados pelas ruas da capital depois de vários dias de confronto violentos.

A rotina foi restabelecida, e o Ministério da Educação anunciou que as aulas serão retomadas nesta terça-feira. Todas as escolas públicas e privadas ficaram fechadas por oito dias com o agravamento dos protestos na capital e em outras cidades.

O secretário de Estado interino para Assuntos do Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos, Michael Kozak, destacou “o poder do diálogo pacífico” após a reunião que selou o acordo. O diplomata acrescentou que o acordo ajudará a restaurar a estabilidade do país.

A reunião de domingo à noite, em que Moreno se sentou à mesa de negociações com os representantes indígenas, foi mediada por representantes da ONU (Organização das Nações Unidas) e da Igreja Católica.

As tratativas entre as partes começaram com o governo dizendo que não anularia o decreto e oferecendo outras medidas para amenizar os efeitos do aumento. “Se isso também está afetando os mais humildes, temos que dialogar”, disse Moreno. “Mas não é justo que esses grupos poderosos fiquem ainda mais poderosos com o subsídio.”

Os indígenas pressionaram e mantiveram o pedido inicial. “Basta derrubar o decreto que acabam as manifestações”, disse Vargas. Ele ameaçou começar uma nova semana de protestos. “Senão, continuaremos mobilizados”.

O líder indígena declarou ainda que, durante os dias de manifestação, “foram violados direitos humanos e artigos da Constituição”.

O acordo pôs fim à pior crise enfrentada pelo país em décadas, que agora precisa lidar com um saldo de prejuízos milionários, sete mortos (todos eles manifestantes) e centenas de feridos e detidos.

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