Especialista trabalha para resgatar os sons da catedral de Notre-Dame

Igreja de Paris foi atingida por incêndio em abril deste ano

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Paris

A tarefa de Mylène Pardoen, arqueóloga de paisagens sonoras, é difícil: tentar restaurar o “volume particular” da catedral de Notre-Dame, em Paris, após o incêndio que a destruiu em abril.

Como a luz que entra pelas janelas, ou o cheiro particular de velas, os sons de uma catedral fazem parte de seu DNA.

Obras na catedral de Notre-Dame - Philippe Lopez/AFP

A acústica desse local depende de sua arquitetura, dos materiais utilizados e dos móveis escolhidos, mas também do tecido urbano circundante.

“Cada igreja, cada catedral, tem uma acústica única e singular”, afirma Pardoen, a engenheira de pesquisas do Instituto de Ciências Humanas (ISH) de Lyon. Um elemento de madeira, por exemplo, não soa como uma pedra.

Na Notre-Dame, essa receita única pegou fogo em 15 de abril, quando as chamas deixaram a catedral com três buracos importantes em sua abóboda. “Agora não há som”, diz, “apenas os ruídos externos, a agitação das máquinas e os aspiradores de pó.”

A cientista do CNRS coordena o grupo acústico que funcionará por cinco anos. O papel desses especialistas é identificar as melhores estratégias de restauração para que a catedral recupere sua acústica inicial. Para isso, Pardoen e seu colega Brian Katz têm um registro acústico de 2013, que será o ponto de partida. 

A engenheira também contará com a ajuda de especialistas e historiadores. Ela recriará o interior e o exterior da catedral e deduzirá como eram “os ambientes sonoros da Notre-Dame em um determinado momento” do tempo.

Trata-se de um trabalho minucioso, já que a localização e o tamanho das capelas mudaram, assim como os corredores, as cornijas e os móveis. Até o tecido urbano de hoje é completamente diferente. 
O átrio, por exemplo, era muito menor. “Tudo isso tem um impacto direto no que é ouvido”, explica Pardoen.

Em seguida, usando um modelo virtual, os dois especialistas poderão calcular como cobrir os buracos, visando principalmente as pedreiras onde serão coletadas as pedras destinadas à reconstrução da abóbada.

“Quando soubermos quem ganhou as diferentes licitações, visitaremos os artesãos selecionados”, acrescenta. “Verificaremos cada trabalho realizado para readaptar o modelo, se necessário, e dizer o que pode ou não continuar.”

Especialistas em som farão recomendações, embora a escolha final não dependa deles. “O cientista não tem controle sobre a política”, ressalta a especialista.

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