Descrição de chapéu The New York Times

EUA detêm britânicos do Estado Islâmico que torturaram e mataram reféns

Dupla estava em prisão curda no norte da Síria, mas agora está sob custódia americana

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Charlie Savage
The New York Times

As Forças Armadas dos EUA tomaram a custódia de dois presos britânicos famosos por sua atuação em uma célula do Estado Islâmico (EI) que torturou e matou reféns ocidentais.

Segundo autoridades americanas, a dupla foi retirada de uma prisão de guerra no norte da Síria que era administrada por uma milícia liderada por curdos.

A medida inesperada ocorreu quando militares turcos avançaram para o norte da Síria, depois de receber luz verde do presidente Donald Trump.

El Shafee Elsheikh e Alexanda Kotey, os dois combatentes do Estado Islâmico que agora estão sob custódia dos EUA
El Shafee Elsheikh e Alexanda Kotey, os dois combatentes do Estado Islâmico que agora estão sob custódia dos EUA - 11.fev.18/Syrian Democratic Forces/AFP

A Turquia tem como alvo os curdos apoiados pelos EUA —conhecidos como Forças Democráticas da Síria— que foram os principais aliados dos Estados Unidos na luta contra o EI na Síria.

A invasão turca levantou dúvidas sobre a capacidade da milícia de continuar detendo com segurança cerca de 11 mil combatentes do EI capturados.

Os dois homens, El Shafee Elsheikh e Alexanda Kotey, faziam parte de uma célula britânica de quatro membros que o EI encarregou de cuidar dos reféns ocidentais, que os apelidaram de "Beatles" devido ao sotaque.

Entre suas vítimas estava o jornalista americano James Foley, que foi decapitado em agosto de 2014 para um vídeo de propaganda do Estado Islâmico.

Acredita-se que outro membro da célula, Mohammed Emwazi, o "Jihadi John", tenha matado Foley. Emwazi foi morto mais tarde em um ataque de drone.

O Departamento de Justiça pretende levar Elsheikh e Kotay aos Estados Unidos para serem julgados na Virgínia, mas uma disputa judicial no Reino Unido atrasou a transferência.

O processo questiona se o governo britânico pode compartilhar evidências com os EUA sem a garantia de que os promotores americanos não pedirão a pena de morte.

Militares americanos estavam levando os homens para uma base no Iraque, onde os EUA mantinham prisioneiros do EI com cidadania americana antes de transferi-los para seu país —ou, em um caso, libertar um detido no Bahrein.

Não está claro quanto tempo os dois britânicos ficarão nessa base. O Departamento de Justiça relutou em assumir a custódia deles e inseri-los no sistema de justiça criminal —onde, entre outras coisas, terão direito a um julgamento rápido— até conseguir as evidências ainda em poder dos britânicos que poderão ajudar em seu eventual processo.

O governo britânico entregou declarações de testemunhas sobre os dois homens ao Departamento de Justiça, mas depoimentos de autoridades britânicas provavelmente também seriam necessários em qualquer julgamento.

A mãe de Elsheikh entrou com uma ação tentando bloquear essa cooperação porque o governo dos EUA não prometeu que não tentará executar o terrorista. O Reino Unido aboliu a pena de morte.

Devido a sua atuação nos abusos contra americanos, os dois britânicos estavam no topo de uma lista de detidos do EI de interesse para o governo dos EUA, segundo autoridades. Mas essa lista tem mais de 60 nomes, incluindo uma dúzia de prisioneiros do EI considerados especialmente perigosos em poder dos curdos.

Ainda não está claro se o governo Trump tentará tirar outros detidos das Forças Democráticas da Síria , pois a situação no norte da Síria continua se deteriorando rapidamente após a decisão do presidente americano de abrir caminho para a Turquia iniciar sua operação no norte do país.

A medida está levando um problema antigo a uma crise repentina: cerca de 50 países têm cidadãos nas prisões dos curdos para combatentes do Estado Islâmico —e também nos campos de deslocados onde são mantidas dezenas de milhares de mulheres e crianças do EI— e têm relutado em repatriá-los, deixando-os nas mãos dos curdos indefinidamente.

Os combatentes homens detidos pelos curdos somam 9.000 sírios e iraquianos e 2.000 estrangeiros —incluindo dezenas da Europa Ocidental. Muitos policiais europeus temem que se repatriarem seus cidadãos extremistas não conseguirão condená-los ou mantê-los presos por muito tempo.

Depois que o Reino Unido se recusou a levar Elsheikh e Kotey ao país para serem processados, em vez disso retirando sua cidadania, o governo dos EUA avaliou várias opções para lidar com eles antes de decidir processá-los em um tribunal civil depois de obter todas as evidências necessárias.

Entre elas, o governo Trump também avaliou o envio dos dois britânicos para a prisão militar dos EUA na Baía de Guantánamo, em Cuba, por um período de detenção indefinido em tempo de guerra sem julgamento.

O senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, que é um aliado próximo de Trump, mas criticou sua política na Síria, defendeu essa medida.

As Forças Armadas, porém, são contra envolver-se mais profundamente em operações de detenção em longo prazo, e há fortes obstáculos legais para levar os homens a Cuba.

Entre esses desafios, as restrições de transferência impostas pelo Congresso americano para impedir o presidente Barack Obama de executar seu plano de fechar a prisão de Guantánamo tornariam ilegal transferir os homens, uma vez na base, para o território nacional dos EUA para eventual julgamento em um tribunal civil, e o sistema de comissões militares em Guantánamo é geralmente considerado muito disfuncional.

Também não está claro se existe autoridade legal para manter os membros do Estado Islâmico —em oposição aos membros da Al Qaeda— em detenção indefinida em tempo de guerra.

Uma vez em Guantánamo, os dois homens teriam o direito de mover ações de habeas corpus contestando a legalidade de sua detenção, aumentando a perspectiva de uma decisão de que todo o esforço de guerra contra o Estado Islâmico foi ilegal.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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