México teria prendido e soltado não um, mas dois filhos de El Chapo em operação frustrada

Ex-diretor do órgão americano para controle e combate às drogas contraria narrativa do governo mexicano

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Nacha Cattan
Bloomberg

O governo mexicano não está falando a verdade sobre a tentativa frustrada de capturar o filho de Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo, traficante de drogas mais notório do mundo, diz o ex-diretor de operações internacionais da Drug Enforcement Administration (DEA, na sigla em inglês).

Mike Vigil, ex-diretor do órgão dos EUA para controle e combate às drogas, disse em entrevista que o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador não revelou que, enquanto tentavam prender Ovidio Guzmán Lopez, forças de segurança mexicanas haviam capturado outro filho do Chapo.

Ivan Archivaldo Guzmán Salazar também havia sido detido e solto após homens armados dominarem a polícia, disse Vigil, citando informações não confirmadas que recebeu de fontes altamente situadas da polícia mexicana.

Veículos danificados e atingidos com tiros em Culiacán, no estado de Sinaloa, no México
Veículos danificados e atingidos com tiros em Culiacán, no estado de Sinaloa, no México - Rashide Frias - 17.out.19/AFP

Citando pessoas que pediram para não serem identificadas, o New York Times foi o primeiro a divulgar que Ivan também foi capturado e depois solto.

“Há vários fatores que apontam para o fato de que ele foi detido e que também foi solto”, disse Vigil. “Mas eles [as forças mexicanas] nunca vão admitir isso. Eles mentiram desde o primeiro momento.”

Vigil se negou a revelar as fontes por trás de suas alegações, que não puderam ser confirmadas de modo independente. Disse também que as autoridades enganaram o público, minimizando o planejamento envolvido na operação.

Na quarta-feira (23), em sua entrevista coletiva diária, López Obrador disse que não tinha informações sobre se Ivan Archivaldo chegou a ser capturado e depois solto.

A assessoria de imprensa do presidente rejeitou cabalmente a afirmação de Vigil de que o governo teria enganado a população sobre a tentativa malsucedida de prender os filhos do Chapo.

“Houve uma transparência incomum, não apenas em termos do México mas também pelos padrões internacionais. O gabinete de segurança inteiro explicou cada detalhe”, disse Jesus Cantu, diretor de informações da assessoria de imprensa do presidente.

“O próprio presidente disse que se dispõe a depor diante das autoridades, se elas considerarem que ele fez algo de ilegal.”

Conhecido como AMLO, o presidente mexicano vem tendo dificuldade em convencer o público de que seu governo tomou a medida correta ao soltar Guzmán Lopez depois de homens armados começarem a atacar civis em um esforço para libertá-lo, na cidade de Culiacán, em Sinaloa.

Guzmán Lopez teria assumido a direção de algumas das atividades criminosas de seu cartel depois de seu pai, El Chapo, ter sido sentenciado à prisão perpétua em um presídio dos Estados Unidos.

Em um primeiro momento, o diretor de segurança do México, Alfonso Durazo, disse que tropas mexicanas toparam com Guzmán Lopez por acaso. Mais tarde, representantes do governo disseram que a ação fez parte de uma operação planejada.

Mais recentemente, autoridades indicaram que a prisão foi aprovada por autoridades policiais de baixo escalão e que é possível que ministros do governo não tivessem conhecimento dela.

O presidente e Durazo falaram em “erros”, aludindo à operação, mas vêm se distanciando dela. AMLO disse na terça-feira que não foi informado previamente sobre a operação para prender Guzmán Lopez.

Ele confirmou a existência de uma ordem de extradição do alegado traficante e colocou em dúvida se o ministro da Defesa chegou a ser informado sobre a operação. “Acho que o Ministério da Defesa tinha conhecimento dela. Não sei. Creio que sim.”

Jesus Ramirez, porta-voz do presidente, disse à Bloomberg News na segunda-feira que o México tentou capturar Guzmán Lopez depois de receber da DEA um pedido de extradição dele.

A DEA se negou a comentar o assunto, e a embaixada dos EUA na Cidade do México encaminhou perguntas sobre o assunto ao escritório de imprensa da Casa Branca, que não respondeu a pedidos de comentários.

Vigil questionou o que levaria as autoridades a americanas a pedir a extradição de Guzmán Lopez, considerando que os outros filhos de El Chapo são muito mais ativos no cartel de Sinaloa, antes comandado por seu pai.

“Jesus Alfredo e Ivan Archivaldo são muito mais importantes que Ovidio”, disse. “O México começou a distorcer a verdade desde o começo para comprar tempo para conseguir apresentar uma história de negação plausível.”

Tradução de Clara Allain

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