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O que você precisa saber sobre a possível fuga de membros do Estado Islâmico na Síria

Não está claro quem se responsabilizará por criminosos capturados após escalada na região

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Washington | The Washington Post

A escalada do caos no norte da Síria, conforme a Turquia intensifica seu ataque aos curdos, antigos aliados dos Estados Unidos, está despertando temores sobre o destino de milhares de prisioneiros do grupo Estado Islâmico (EI) que os curdos mantêm em prisões de guerra improvisadas.

Ao anunciar que estava aberto o caminho para a operação militar turca no norte da Síria, o presidente Donald Trump insistiu que a Turquia deveria assumir a responsabilidade pelos combatentes do Estado Islâmico capturados e suas famílias, e depois disse que os Estados Unidos assumiriam a custódia dos mais perigosos.

Mas, enquanto o Pentágono retira as forças americanas do norte da Síria, está longe de ficar claro se qualquer uma dessas intenções se realizará.

O que está acontecendo no norte da Síria?

A situação é profundamente complexa. A Turquia lançou uma invasão contra as Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos, que eram o principal aliado dos EUA na Síria contra o EI e que controlam o norte do país. A Turquia luta contra os curdos separatistas dentro de suas fronteiras e considera os curdos sírios terroristas.

A presença de tropas americanas ao lado dos curdos ajudou a manter uma paz frágil. Mas, desde que Trump disse à Turquia que poderia iniciar uma operação na Síria e que os EUA retirariam suas forças de uma área ao longo da fronteira, a Turquia e uma milícia árabe síria mataram muitos curdos —e também podem ter disparado deliberadamente perto das forças americanas.

No domingo (12), o Pentágono anunciou que Trump ordenou a saída das forças americanas do norte da Síria.

Enquanto isso, o ditador sírio, Bashar Al-Assad, apoiado pela Rússia, controla a parte sul do país e quer retomar tudo. No domingo, os curdos aparentemente fecharam um acordo com o governo sírio, mas seus detalhes —e o que ele significaria para os detidos— ainda não estavam claros.

Quem são os detidos do EI?

As Forças Democráticas Sírias operaram cerca de meia dúzia de locais de detenção de guerra aleatórios para combatentes do EI presos, desde antigas escolas em cidades como Ain Issa e Kobane até uma antiga prisão do governo sírio em Hasaka.

As prisões abrigam cerca de 11 mil homens, dos quais aproximadamente 9.000 são locais —sírios ou iraquianos— e 2.000 vêm de outros 50 países cujos governos locais relutam em repatriá-los.

Dezenas desses homens são europeus, de países como Bélgica, Reino Unido, França e Alemanha, mas muito mais vêm de outros países do mundo muçulmano, como Egito, Tunísia e Iêmen.

Os curdos também operam mais de uma dúzia de campos para famílias deslocadas pelo conflito, que abrigam dezenas de milhares de pessoas, muitas delas mulheres e filhos não sírios de combatentes do EI.

Isso inclui o gigantesco campo de Al Hol, cerca de 40 quilômetros a sudeste de Hasaka, onde aproximadamente 70 mil pessoas vivem em condições cada vez mais difíceis, e um campo em Ain Issa.

Os membros do EI serão libertados no caos?

Havia o temor de que os curdos estivessem realocando guardas das prisões e campos para ajudar a combater os turcos, facilitando a fuga de membros do EI.

No domingo, centenas de mulheres e crianças do EI foram aparentemente autorizadas a deixar uma parte do campo de deslocados de Ain Issa, onde estavam detidas, em meio a ataques aéreos turcos que ameaçavam sua segurança. Não está claro se algum combatente homem já escapou das prisões.

O "pior cenário" é que os curdos estejam tão frustrados e irritados com a ação dos EUA que "decidam libertar por atacado alguns detidos", disse Christopher P. Costa, ex-diretor sênior de contraterrorismo do Conselho de Segurança Nacional de Trump que hoje dirige o Museu Internacional do Espião.

A Turquia ou o regime de Assad podem assumir a custódia dos prisioneiros do EI?

A Casa Branca disse que a Turquia "agora será responsável por todos os combatentes do EI na área capturados nos últimos dois anos". Mas Ancara não deu sinais públicos de que aceitou assumir essa dor de cabeça.

"É difícil imaginar que a Turquia tenha a capacidade de lidar de forma segura e adequada com os detidos há muito tempo pelos curdos sírios —isto é, se a Turquia realmente pretende tentar", disse Joshua A. Geltzer, ex-diretor sênior de contraterrorismo do Conselho de Segurança Nacional no governo Obama.

Também é possível que o governo sírio acabe assumindo algumas prisões em consequência de um acordo entre os curdos e o regime Assad. Mas não ficou claro se havia algum plano para uma transferência controlada de autoridade e responsabilidade em meio aos eventos acelerados.

Trump não disse que os Estados Unidos já haviam retirado os piores detentos do EI da Síria?

Sim, mas não era exatamente verdade. Na quarta-feira (9), à medida que o caos se intensificava no norte da Síria, Trump fez comentários tranquilizadores aos repórteres, revelando que os Estados Unidos mantinham sob custódia os piores detidos do EI para garantir que não escapariam.

"Estamos retirando alguns dos mais perigosos combatentes do EI", disse Trump. "Nós os removemos e colocamos em locais diferentes, onde é seguro. Além disso, os curdos estão assistindo. E se os curdos não assistirem a Turquia assistirá, porque não quer essas pessoas, tanto quanto nós."

Ele acrescentou: "Mas pegamos um certo número de combatentes do EI que são especialmente maus. E queríamos garantir que nada acontecesse com eles em relação à saída. E acho que estamos fazendo um ótimo trabalho".

Apesar de Trump ter falado no tempo passado, como se essa operação tivesse sido realizada, na verdade era bastante intencional  —e agora parece cada vez mais improvável.

O que realmente aconteceu?

Os Estados Unidos conseguiram apenas dois detidos de alto valor —muito aquém de seu objetivo.

Os militares estavam fazendo planos de contingência para obter uma lista de cerca de 60 detidos de alta prioridade desse grupo do norte da Síria desde dezembro, quando Trump anunciou pela primeira vez que retiraria tropas do país antes que seu governo desacelerasse esse plano, disse uma autoridade.

Após a súbita luz verde de Trump para a Turquia, os militares tentaram realizar o planejado. Na quarta-feira, forças de operações especiais conseguiram tomar a custódia de dois britânicos seriam a metade de uma célula do EI que torturou e matou reféns ocidentais e que agora estão detidos em uma base dos EUA no Iraque.

Mas, depois que os curdos concordaram com essas duas transferências, pararam de cooperar com os Estados Unidos, irritados com o que consideraram uma traição de Trump, segundo autoridades dos EUA.

A decisão do Pentágono de retirar as forças americanas do norte da Síria no domingo significa que a oportunidade de tomar a custódia de prisioneiros adicionais do EI —mesmo que os curdos decidam voltar a cooperar— está evaporando rapidamente, disseram as autoridades.

Quem são os dois britânicos que os Estados Unidos conseguiram pôr sob custódia?

Eles são El Shafee Elsheikh e Alexanda Kotey  —dois dos chamados Beatles, uma célula de quatro membros britânicos do EI que abusaram de reféns ocidentais, incluindo James Foley, jornalista americano decapitado em agosto de 2014 para um vídeo de propaganda do EI.

Outro membro da célula, que mais tarde foi morto em um ataque de drone, teria matado Foley.

O Departamento de Justiça pretende levar os dois a julgamento no Distrito Leste da Virgínia, mas uma disputa judicial no Reino Unido atrasou essa transferência.

O processo é sobre se o governo britânico pode compartilhar evidências com os Estados Unidos sem a garantia de que os promotores americanos não pedirão a pena de morte dos acusados.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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