Em três dias de ofensiva turca, 100 mil pessoas deixaram suas casas na Síria

Ataques chegam a Kobani, uma das principais cidades da região

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Istanbul e Ras al-Ain (Síria) | Reuters e AFP

A ofensiva militar feita pela Turquia contra a minoria curda no nordeste da Síria segue crescendo e já fez ao menos 100 mil pessoas abandonarem suas casas de acordo com a ONU. Há temor de aumento de uma crise humanitária na região.

O número foi divulgado nesta sexta-feira (11), quando as tropas turcas chegaram às proximidades de Kobani, a principal cidade da região que ainda não tinha sido alvo de ataques. 

As ações turcas estão concentradas no lado sírio da fronteira entre os dois países e se estendem por uma faixa de 400 km. 

Rebeldes apoiados pela Turquia na fronteira com a Síria durante ofensiva militar
Rebeldes apoiados pela Turquia na fronteira com a Síria durante ofensiva militar - Nazeer Al-khatib/AFP

A maior parte das pessoas que fugiram são civis curdos que se dirigiram para as cidades de Al Hassakeh e Tal Tamer, ambas um pouco mais ao sul da fronteira com a Turquia. 

O conflito na região começou na quarta (9), quando Ancara deu início a ataques aéreos e terrestres contra os curdos na Síria. As ações aconteceram depois de o presidente americano, Donald Trump, retirar os soldados da região e anunciar que não iria interferir. 

A medida foi interpretada como uma traição de Washington, já que os curdos são há anos aliados dos americanos na luta contra o Estado Islâmico na região.    

Trump foi questionado até pelo Partido Republicano e vem fazendo sugestões de que gostaria de mediar o conflito. 

Segundo Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, o presidente ordenou que a pasta prepare um documento com sanções econômicas contra a Turquia. Mas ainda não há definição se as medidas serão implementadas de fato.

Em resposta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse vai retaliar qualquer sanção que receba. "A Turquia está lutando contra organizações terroristas que ameaçam sua segurança nacional", disse em  um comunicado. "Ninguém deve duvidar que vamos retaliar qualquer medida tomada contra isso."

A disputa opõe as tropas turcas e seus aliados do Exército Livre da Síria (FSA, um grupo rebelde) aos curdos, reunidos principalmente em uma coalizão de milícias locais chamada SDF (Forças Democráticas da Síria).

Não está claro quantas pessoas morreram no conflito, já que os dois lados fornecem dados discrepantes. 

Segundo a ONG britânica Observatório Sírio de Direitos Humanos, sete civis foram mortos nesta madrugada, além de 32 membros das SDF, 34 da FSA e um militar turco.

De acordo com a Anadolu, a agência estatal de notícias turca, 342 militantes curdos foram mortos em três dias. O Crescente Vermelho (versão islâmica da Cruz Vermelha) contabiliza 11 mortos desde o início do conflito. 

Os principais enfrentamentos entre as forças turcas e as SDF na noite desta quinta aconteceram em Qamishli, e nove vilarejos foram cercados nos arredores de Ras al-Ain e Tal Abyad.

A ação turca provoca temores de que integrantes do Estado Islâmico, que ainda atua na região, fujam e reorganizem o grupo terrorista. 

Segundo o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Trump quer ter certeza de que a Turquia não pode “permitir que nenhum prisioneiro do Estado Islâmico fuja”.

O comando dos curdos no norte da Síria acusou a Turquia de atacar uma prisão onde estavam detidos ex-combatentes do Estado Islâmico, em Chirkin. Nessa cadeia, havia presos de mais de 60 nacionalidades diferentes. 

Pela primeira vez desde o início dessa ofensiva, o grupo terrorista assumiu responsabilidade por um ataque com carro-bomba na cidade de Qamishli, que estava sob forte bombardeio turco. 

Segundo os curdos, cinco prisioneiros do Estado Islâmico fugiram e atacaram guardas com pedras e paus. 

O general americano Mark Milley, chefe do Estado-Maior, disse que conversou com representantes da Turquia, que confirmaram que são eles os responsáveis pelos prisioneiros do Estado Islâmico mantidos nas áreas que estão sob ataque turco. 

“Nós, o Exército dos Estados Unidos, não temos responsabilidade em garantir esses prisioneiros do EI na Síria”, afirmou o general americano.

Autoridades do Pentágono também reforçaram a necessidade de a Turquia evitar atingir as forças americanas que já estavam em território sírio. Uma explosão foi registrada perto de um posto militar americano nas proximidades da cidade de Kobani. Mas não há registros de feridos.

Na quinta (10), o presidente turco ameaçou liberar mais de 3 milhões de refugiados para entrarem na Europa caso sua operação militar seja questionada.

A Turquia é o país com mais refugiados no planeta, segundo a Acnur (a agência da ONU destinada ao assunto).

O país fez um acordo com a União Europeia para manter milhões de sírios que fugiam da guerra civil, diminuindo assim o fluxo deles para os países do bloco.

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