Descrição de chapéu The Washington Post

Pentágono vê Estado Islâmico atingido, mas prestes a se reagrupar

Forças dos EUA estão posicionadas para impedir ataques no curto prazo, afirma general

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Missy Ryan
Washington | Washington Post

Uma operação de alto risco lançada na semana passada que resultou na morte do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, deve prejudicar as atividades da organização temporariamente, mas é provável que os militantes se reagrupem e possivelmente lancem ataques contra os Estados Unidos, disse na quarta-feira (30) um comandante sênior americano.

“Vai levar algum tempo para que se estabeleça um novo líder da organização, e enquanto isso não acontecer é possível que as ações da entidade sejam um pouco desorganizadas”, disse a repórteres no Pentágono o general Kenneth “Frank” McKenzie Jr., chefe do Comando Central dos EUA.

“Não antevemos um futuro sem derramamento de sangue, porque essa ideologia estará presente lá fora, infelizmente.”

Para McKenzie, o êxito de longo prazo contra o Estado Islâmico e outras organizações extremistas não levará à eliminação dessas ideologias, mas incluirá uma situação em que forças de segurança locais contenham as ameaças e os EUA garantam que as organizações não consigam atacar o país diretamente.

Ele disse que as forças norte-americanas estão posicionadas para impedir contra-ataques no curto prazo.

McKenzie falou aos jornalistas quando o Pentágono disponibilizou pela primeira vez vídeos e fotos mostrando partes da operação contra Baghdadi em seu esconderijo na província de Idlib, no noroeste da Síria.

As imagens ampliam a visão do público sobre uma operação que o presidente Donald Trump reivindicou como uma vitória importante de sua política externa, em um momento em que ele enfrenta uma investigação de impeachment e críticas por sua política maior em relação à Síria.

Imagens de vídeo granuladas em preto e branco exibidas enquanto McKenzie falava aos jornalistas mostraram uma equipe de tropas de Operações Especiais, parte das quais tirada da sigilosa Força Delta do Exército, aproximando-se de um complexo murado perto do povoado de Barisha, numa área próxima à fronteira turca com forte presença de grupos extremistas diversos.

Fazendo um apanhado geral da operação, McKenzie disse que ele, com autorização da Casa Branca, deu a ordem para o início da empreitada por volta das 9h pelo horário local do sábado (26), no QG do Comando Central em Tampa.

Segundo McKenzie, o Pentágono acreditava que Baghdadi estivesse escondido em Idlib “para fugir da pressão intensa” que as forças americanas e curdas sírias tinham imposto ao EI em outras áreas. Acredita-se que não houvesse outras forças do EI na área imediata, disse.

Quando os militares americanos se aproximaram em seus helicópteros, um grupo de militantes não identificados disparou contra as aeronaves norte-americanas, que eram apoiadas por drones e aviões de combate. Outro vídeo mostrou ataques aéreos lançados por helicóptero contra esses combatentes.

Depois que os militares controlaram o complexo, disse McKenzie, eles detiveram e logo em seguida soltaram um grupo de civis, incluindo 11 crianças.

Cinco adultos –quatro homens e uma mulher— foram mortos no local, além de Baghdadi. Eles não atiraram nas tropas dos EUA, mas vários deles estavam usando coletes suicidas e não responderam a pedidos verbais para que cooperassem.

McKenzie disse que, em parte graças a informações fornecidas pelas pessoas interrogadas no complexo e informações obtidas antes da operação, Baghdadi foi encontrado escondido em um túnel ou buraco subterrâneo.

Um agente do EI desiludido com a organização teria fornecido informações chaves que ajudaram na localização de Baghdadi.

Segundo o general, a administração norte-americana disse originalmente que Baghdadi levou três crianças com ele para o túnel, que foram mortas na explosão de seu colete suicida, mas que as autoridades agora acreditam que apenas duas crianças estavam com ele.

As duas teriam menos de 12 anos.

McKenzie não corroborou diretamente a declaração de Trump, que o presidente fez ao anunciar a operação no domingo, de que Baghdadi estava “chorando e se lamuriando” em seus momentos finais.

Questionados sobre isso desde então, outros líderes do Pentágono disseram que não podiam confirmar a descrição feita por Trump.

Quando perguntado sobre as palavras do presidente, McKenzie disse que só podia compartilhar sua “observação empírica” do que aconteceu.

“Posso lhes dizer o seguinte: ele se arrastou para um buraco com duas crianças pequenas e se explodiu enquanto seus acompanhantes estavam no piso superior, então vocês podem deduzir que tipo de pessoa ele é com base nessa atividade”, disse o general.

McKenzie disse que Baghdadi pode ter atirado contra as forças norte-americanas de dentro do túnel, antes de detonar seu colete explosivo.

Dois militantes suspeitos foram detidos e levados do local, e em seguida o complexo foi destruído com ataques aéreos dos EUA.

McKenzie disse que a identidade de Baghdadi foi confirmada por meio da análise de uma amostra de DNA colhida na época em que ele esteve numa prisão norte-americana no Iraque. Os restos mortais de Baghdadi foram sepultados no mar menos de 24 horas após sua morte.

O general disse que as mudanças recentes na postura dos EUA na Síria não afetaram o planejamento da operação.

O ataque ocorreu no momento em que o Pentágono se esforça para reorientar sua campanha contra o Estado Islâmico, que não controla mais território, mas, segundo autoridades, continua a representar uma ameaça grave na esteira da retirada ordenada por Trump das forças americanas da área ao longo da fronteira com a Turquia.

Críticos da decisão de Trump dizem que ela possibilitou uma ofensiva militar turca contra as forças curdas sírias que foram as principais aliadas dos EUA na luta contra o EI na Síria, e que essa ofensiva, por sua vez, permitiu que o governo sírio e a Rússia, sua aliada, ocupassem um território no qual não puderam entrar durante anos.

McKenzie disse que o Pentágono está reforçando posições em volta de campos petrolíferos no leste da Síria, com o objetivo de impedir que o EI financie suas atividades insurgentes com receita petrolífera.

Trump sugeriu que empresas americanas talvez explorem esses recursos energéticos.

Também na quarta-feira (30), o governo sírio chamou a SDF (Forças Democráticas Sírias), a força liderada por curdos cuja aliança com Washington foi posta em risco pelo reposicionamento norte-americano recente, a aliar-se a unidades do exército sírio “para combater a agressão turca que ameaça o território sírio”, segundo a agência de notícias Syrian Arab.

“O ministro da Defesa destacou que a Síria enfrenta um inimigo único e que os filhos da Síria, árabes e curdos, precisam se unir e combater juntos para recuperar cada centímetro de território de nosso amado país”, disse a agência de notícias estatal.

Depois que as forças norte-americanas se retiraram de seus postos de observação no norte da Síria, a SDF selou um pacto com o governo de Damasco para ajudar a proteger-se contra a ofensiva turca.

Tradução de Clara Allain

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