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Premiê socialista cai nas pesquisas, mas deve vencer eleição em Portugal

Escândalo às vésperas de pleito mina popularidade de António Costa para votação deste domingo

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Lisboa

Antes previstas como uma vitória avassaladora para o Partido Socialista, as eleições gerais em Portugal, que acontecem neste domingo (6), devem ter um resultado bem mais modesto para a legenda, que governa o país desde 2015. 

António Costa deve seguir como premiê, mas ainda sem maioria e dependendo de outros partidos para governar.

Um escândalo envolvendo um ex-ministro da Defesa em um caso de roubo de armas do Exército abalou as intenções de voto nos socialistas.

Divulgada na última sexta (4), a pesquisa Expresso/SIC mostra que os socialistas perderam força em setembro, caindo quatro pontos percentuais e estacionando em 38%.

O primeiro-ministro português António Costa em evento da campanha eleitoral em Lisboa 
O primeiro-ministro português António Costa em evento da campanha eleitoral em Lisboa  - Patricia de Melo Moreira - 24.set.19/AFP

Principal partido da oposição, o PSD (direita) subiu cinco pontos no mesmo período, acabando com 28%.

A diferença entre os dois partidos baixou de 19 pontos, no início de setembro, para 10 pontos.

Impulsionada pela recuperação econômica, pelo desemprego mais baixo em mais de uma década (6,3%) e pela reversão de medidas de austeridade, a popularidade do primeiro-ministro parecia levá-lo a um sucesso inédito nas urnas.

Pesquisas chegaram a posicioná-lo perto de uma maioria absoluta no Parlamento.

O cenário mudou a menos de duas semanas das eleições, quando o Ministério Público português indiciou o ex-ministro da Defesa José Azeredo Lopes (2015-2018), além de vários nomes da cúpula militar.

O grupo é acusado de ter ajudado a encobrir responsabilidades em um roubo de armas do paiol do Exército em Tancos, ocorrido em 2017. 


Segundo os promotores, a Polícia Judiciária Militar teria encenado uma operação de recuperação das armas roubadas quando, na verdade, a devolução do armamento teria sido combinada com os militares responsáveis pelo crime.

O MP diz que o ex-ministro ficara sabendo do esquema e nada fez para impedi-lo.

O caso foi usado como munição pela oposição, que tem explorado a questão da corrupção como uma das fragilidades dos socialistas. Nos últimos meses, casos envolvendo familiares empregados em cargos públicos, além de empresas contratadas sem licitação, também vieram à tona.

No provável cenário sem maioria absoluta, o PS precisará de alianças para governar.

Após terminar em segundo lugar nas eleições de 2015, Costa tornou-se premiê graças a um inédito acordo com os outros partidos da esquerda do país, que tradicionalmente nunca se entenderam.

Apelidada de geringonça devido a sua aparente fragilidade, a coalizão dos socialistas com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista sobreviveu ao ceticismo generalizado e terminou a legislatura sem grandes sobressaltos.

Mas o arranjo formado pelas esquerdas obrigou os socialistas a passarem por intensas negociações em todas as votações importantes.

Enquanto outros partidos da geringonça sinalizam a abertura a uma repetição da aliança, os socialistas são mais cautelosos e já flertam com uma emergente força política: o partido ambientalista PAN, que deve saltar de um para pelo menos quatro deputados na próxima legislatura. 

“Tudo vai depender do resultado eleitoral, mas António Costa é capaz de negociar tanto à direita como à esquerda. Quando ele foi presidente da Câmara de Lisboa [cargo equivalente a prefeito], fez acordos com a esquerda e com a direita. Ele consegue encontrar soluções onde aparentemente não seria possível”, avalia a cientista política Isabel David, professora da Universidade de Lisboa.

Enquanto países como Espanha, Itália e Alemanha enfrentam o crescimento consistente de partidos da direita nacionalista nas últimas eleições, as legendas deste tipo seguem sem emplacar em Portugal e, mais uma vez, devem ficar de fora do Parlamento.

Partidos nacionalistas tentam seguir a cartilha anti-imigração bem-sucedida em outros países do continente, mas continuam sem conquistar o eleitorado português.


Direita ‘nanica’ em Portugal na contramão da Europa

Itália
Personalizada pelo líder populista Mateo Salvini, a Liga Norte foi o partido mais votado nas eleições para o Parlamento Europeu em maio

França
Apesar de derrotada nas eleições, Marine Le Pen e o nacionalismo de direita seguem em alta. A União Nacional foi a sigla francesa mais votada para o Parlamento Europeu

Espanha
Após vencer governos regionais, o nacionalista Vox chegou ao Parlamento nas últimas eleições, em abril 

Alemanha
Contra políticas migratórias, a AfD vem ganhando espaço

Hungria
Eleito pela 3ª vez, o premiê Viktor Orbán é contra a imigração e uma suposta ‘invasão’ islâmica na Europa


Os cientistas políticos dividem-se quanto às razões, mas muitos citam a lembrança viva do período da ditadura de António Salazar (1889-1970) e os benefícios da abertura democrática após a Revolução dos Cravos, em 1974.

Para Isabel David, o caráter fechado do sistema político português, com pouco espaço e financiamento para partidos populistas, também contribui. “O sistema político português não dá muita abertura para que esses partidos tenham voz”, afirma ela. 

“E os portugueses também procuram nos políticos um perfil mais institucional e menos folclórico, digamos assim. O povo português é muito conservador quando olha para o perfil do político. Os portugueses gostam de políticos que tenham um ar sério”, avalia a cientista política.

Para Paula Espírito Santo, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, há também uma questão legal, com a Constituição portuguesa proibindo a disseminação de ideias comumente associadas à extrema-direita.

O artigo 46 da Carta, de 1976, proíbe nominalmente “organizações racistas ou que perfilem a ideologia fascista”.

“Nossa Constituição não fala nada da extrema-esquerda, mas fala da extrema-direita”, diz ela. 
Segundo a cientista política, isso não significa que Portugal esteja imune a este tipo de ameaça.

“O populismo é um fenômeno que é um polvo, se manifesta de formas muito diversas”, completa.

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