Trabalhadores do setor de transportes no Equador suspenderam na noite de sexta (4) a greve contra o corte de subsídios a combustíveis no país, após dois dias de protestos violentos.
Em entrevista coletiva, Abel Gómez, líder dos trabalhadores, confirmou o encerramento das paralisações e propôs às autoridades estabelecer novas tarifas de compensação.
Grupos indígenas e organizações sindicais, no entanto, prometeram seguir mobilizadas contras as medidas de austeridade do governo do presidente Lenín Moreno e bloquearam estradas neste sábado (5).
“Com ou sem prisão, nossa determinação é firme”, afirmou Jaime Vargas, presidente do Conaie, que reúne diversos grupos indígenas.
Os distúrbios, dos quais também participaram estudantes universitários e setores da oposição, deixaram 59 agentes feridos e 379 pessoas detidas, segundo balanço consolidado mais recente do governo. O Serviço de Gestão de Riscos registrou 14 civis feridos.
Gómez pediu ao governo que assegure as condições para que as operações de transporte se normalizem em todo o país, onde vigora desde quinta (4) um estado de exceção decretado pelo presidente.
O representante fez alusão à “situação caótica em que o país se encontra” devido à greve contra o acordo do Executivo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para acessar empréstimos da ordem de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,04 bilhões).
O pacto, assinado em fevereiro, permitiu ao Equador receber uma quantia imediata de US$ 652 milhões. Em troca, deverão ser feitas mudanças estruturais, incluindo o aumento da receita tributária e o fortalecimento da independência do Banco Central.
No setor de transportes, o país teve de subir o preço do diesel de US$ 1,03 (R$ 4,18) para US$ 2,30 (R$ 9,33), e o da gasolina de US$ 1,85 (R$ 7,50) para US$ 2,39 (R$ 9,69) —o país não tem moeda própria e usa o dólar.
O presidente se diz aberto a conversar com os manifestantes, mas afirma que o corte dos subsídios não será revisto.
Moreno, assim como outras autoridades do país, afirma que a eliminação dos subsídios era necessária para elevar a economia e deter o contrabando.
Em virtude do estado de exceção, que habilita o governo a suspender ou limitar direitos como livre circulação, além de fechar portos, aeroportos e passagens de fronteira, o Exército foi às ruas para conter as manifestações.
Nos piores distúrbios em anos, manifestantes atiraram pedras e confrontaram policiais na capital, enquanto taxistas e caminhoneiros bloquearam ruas e estradas com pedras e pneus em chamas. Houve também ataques a ambulâncias da Cruz Vermelha.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) expressou em uma rede social sua “preocupação pelo uso excessivo da força pela polícia do Equador”. O órgão se referiu a “pelo menos 19 feridos e 20 jornalistas agredidos”.
O presidente da Federação Nacional de Cooperativas de Transporte de Táxi, Jorge Calderón, foi preso e deve ser processado. A Corporación Quiport, que opera o aeroporto internacional de Quito, informou que 32 voos foram cancelados entre quinta (3) e sexta-feira (4).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.