Barcelona e Amsterdã testam ações para reduzir concentração de turistas

Iniciativas têm objetivo de conter saída dos moradores de bairros mais visitados

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São Paulo

De cada 13 pessoas que caminham por Barcelona, em média, uma é moradora —as outras são turistas.

O excesso de visitantes, que somam 12 milhões por ano, complica a rotina dos moradores até em coisas simples, como achar um supermercado. “Em alguns bairros, o comércio local foi trocado por lojas de suvenir”, conta Janet Sanz, vice-prefeita e secretária de urbanismo da cidade.

A prefeitura anunciou um plano para combater as lojas de lembrancinhas e favorecer os negócios voltados aos cidadãos locais. O esforço é uma das tentativas para tentar conter a saída de moradores.

Moradores de Barcelona protestam contra o número excessivo de turistas
Moradores de Barcelona protestam contra o número excessivo de turistas - Lluis Gene - 28.jan.2017/AFP

Nos últimos quatro anos, a população residente no centro de Barcelona encolheu 11%.

A cidade tenta também estimular os turistas a não ficarem apenas na região central, nem mesmo para dormir. Há um veto à abertura de novos hotéis no centro, e estabelecimentos que fecharem não poderão ser reabertos. 

Novos locais de hospedagem só podem ser construídos em bairros mais afastados, e em número limitado.

Amsterdã, que recebe 20 milhões de visitantes ao ano, aposta em promoções: turistas que forem a alguns museus centrais ganham passagens de ônibus para conhecer cidades nos arredores.

“As cidades precisam criar museus fora do centro, para estimular a circulação dos turistas”, sugere Frans-Anton Vermast, chefe de tecnologia de Amsterdã. Vermast destaca o uso de aplicativos que indicam, em tempo real, quais lugares estão com mais filas, o que ajuda os turistas a se organizar, e também ações em redes sociais para popularizar atrações menos conhecidas.

Em um símbolo do esforço para reduzir o turismo massificado, a prefeitura removeu o monumento com a frase “I Amsterdam” no fim de 2018, sob argumento de que as filas para tirar selfies ali não condiziam com o espírito da cidade.

A prefeitura também aumentou as multas para pequenas ofensas, como fazer xixi nas ruas, e criou cercas digitais: quando um viajante entra em determinadas zonas e abre suas redes sociais, recebe alertas de que deve agir ali com respeito.

“Os turistas são uma fonte importante de recursos, mas os moradores, que ficam ali o ano todo, também são”, afirma Vermast.

O boom no número de turistas foi favorecido por iniciativas como o Airbnb e transportes de baixo custo. Para tentar receber menos gente, as cidades querem conter esses negócios. Barcelona e Amsterdã estão entre as que tentam reduzir o número de voos.

Na cidade espanhola, 2,2 milhões ficaram em casas alugadas via internet em 2018. A prefeitura limitou o uso desse modelo e reforçou a fiscalização. Mais de 7.000 locações irregulares foram fechadas. 

O avanço do Airbnb ajuda a expulsar moradores. Como as diárias geram mais ganhos do que os aluguéis mensais, proprietários preferem os turistas. E com menos casas para viver, sobe o custo da moradia.

Em Lisboa, onde as pequenas calçadas e bondes não comportam todos os visitantes, o governo busca conter o modelo Airbnb comprando casas para alugar aos residentes. “Há um temor de que a saída dos habitantes faça com que os bairros percam a identidade portuguesa”, diz Alan Guiti, doutorando na Universidade de Aveiro, que pesquisa os problemas do turismo na capital portuguesa.

Outra cidade que tenta reduzir a concentração de turistas (que somam 25 milhões ao ano), Veneza fez testes de bloqueio a ruas e praças famosas em dias de muito movimento: apenas moradores e pessoas cadastradas podem ter acesso, mesmo a pé.

Na semana passada, enquanto moradores lidavam com alagamentos gerados por uma maré recorde, turistas tiravam selfies. 

A cidade italiana criou neste ano uma taxa de 3 euros (R$ 14,07) por visitante, cobrada mesmo daqueles que não pretendem pernoitar. A tarifa básica subirá para 6 euros (R$ 28,14) em 2020. Barcelona também cobra uma taxa, em torno de 2 euros (R$ 9,38) por pessoa por noite, e usa parte do dinheiro para fazer melhorias em bairros periféricos. 

Para Guiti, as cidades lotadas de turistas poderão passar a focar sua estratégia em atrair viajantes com mais dinheiro para gastar e interessados em ficar mais tempo, e menos em mochileiros que buscam economizar em tudo e passageiros que ficam poucas horas.

Cruzeiros geram uma grande poluição, e muitas vezes o passageiro desce, vai numa lojinha e volta para almoçar no navio, sem gastar quase nada na cidade”, diz.


Concentração de turistas

Visitantes por ano
Veneza: 25 milhões 
Amsterdã: 20 milhões
Lisboa: 14 milhões
Barcelona: 12 milhões
Brasil: 6,6 milhões

Fontes: Ministério do Turismo, INE-Portugal e prefeituras

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