Milhares marcham na Colômbia em greve geral contra governo de Iván Duque

Há registros de enfrentamentos com a polícia em Bogotá, Manizales e Cali

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Bogotá | Reuters e AFP

Sindicatos, grupos de estudantes, indígenas e ambientalistas colombianos marcharam nesta quinta (21), na capital e nas principais cidades do país, em uma greve geral para rechaçar medidas como uma reforma trabalhista e outra previdenciária que estão sendo propostas pelo governo do presidente Iván Duque.

Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas, e houve registros de enfrentamentos com a polícia em Bogotá, Manizales e Cali, onde foi decretado toque de recolher.

Segundo as primeiras estimativas do ministério do Interior, por volta das 16h desta quinta, havia cerca de 207 mil pessoas nos atos por todo o país. Os números oficiais somavam 42 civis e 47 policiais feridos, além de dez pessoas presas.

Manifestantes acendem fogo no prédio da prefeitura de Bogotá
Manifestantes acendem fogo no prédio da prefeitura de Bogotá - Raul Arboleda/AFP

"Infelizmente uma série de vândalos estão atacando e saqueando lojas", disse Maurice Armitage, prefeito de Cali, ao jornal El Tiempo. A proibição de circular nas ruas começou a valer às 19h desta quinta e durará até as 6h da sexta (22). 

Sete policiais ficaram feridos e 11 ônibus do transporte público da cidade foram destruídos. Uma ambulância que se dirigia ao vilarejo de El Cerrito, a cerca de 50 km de Cali, foi apedrejada.

A cidade de Facatativá, a cerca de 45 km de Bogotá, também decretou toque de recolher de 20h às 6h.

Na capital, os manifestantes se reuniram em sete pontos da cidade e marcharam até a praça Bolívar, a uma quadra do palácio presidencial. Uma dezena de pessoas atirou pedras contra o prédio do Congresso, localizado na praça e um outro grupo acendeu fogo no prédio da prefeitura da cidade —não há informações sobre feridos. 

Milhares bloquearam avenidas e terminais de transporte público. Uma estação do sistema de ônibus rápido Transmilenio foi vandalizada por homens encapuzados, que foram expulsos por outros manifestantes.

No bairro de Suba, região noroeste da cidade, a polícia usou gás lacrimogêneo na tentativa de reabrir uma estação. ​Estudantes que tentavam chegar ao aeroporto internacional da capital entraram em confronto com membros da tropa de choque.

Na noite desta quinta, em Bogotá, houve panelaço em diversos bairros. 

Além da capital, as cidades de Bucaramanga e Medellín registraram forte redução no fluxo de veículos e de pedestres por conta dos protestos. Muitas empresas, universidades e faculdades cancelaram suas atividades por conta da paralisação do sistema público de transporte.

Em Cartagena e Barranquilla, as manifestações ocorreram de forma pacífica e sem incidentes. 

Os manifestantes insistem que Duque —que enfrenta sua pior crise de popularidade desde que assumiu, há 15 meses—, mantenha salários mínimos para os jovens e o direito universal à aposentadoria.

Há também críticas à política de segurança focada na luta contra o narcotráfico e a tentativa do presidente de modificar o pacto de paz que levou ao desarmamento da antiga guerrilha das Farc em 2016.

Presidente da Confederação Geral do Trabalho, uma das entidades que convocaram a marcha no mês passado, Julio Roberto Gómez disse à agência de notícias AFP esperar que o "acúmulo de situações" que levou aos protestos possa ser negociado.

O presidente negou repetidamente que planeja propor leis de reforma previdenciária e tributária que contenham as mudanças alegadas pelos manifestantes. Ele disse que rejeitou imediatamente a ideia de reduzir os salários dos jovens.

"Nenhuma reforma foi proposta", disse Duque durante uma rara transmissão ao vivo pelo Facebook nesta semana, acrescentando que ele não quer aumentar a idade da aposentadoria.

"Foi dito que queremos pagar aos jovens menos que o salário mínimo. Isso também é mentira."

Na quarta-feira (20), ele reconheceu a legitimidade de algumas reivindicações, mas disse que há uma campanha baseada em "mentiras" que busca desencadear violência.

Enquanto as manifestações tomavam as ruas, no entanto, Duque publicou numa rede social que o governo trabalha "por garantias e proteção a todos os colombianos".

Os partidários da marcha, que incluem sindicatos importantes, alegam que o governo também quer tornar privado o fundo de pensão estatal Colpensiones e diferenciar salários por região. Já os indígenas exigem proteção após o assassinato de 134 membros da comunidade desde que Duque assumiu o cargo.

Outros grupos de manifestantes protestaram contra o que eles dizem ser falta de ação do governo para impedir o assassinato de centenas de ativistas de direitos humanos, corrupção nas universidades e outras questões.

Em um momento de tumulto generalizado em outros países da América Latina, a polícia invadiu nesta semana uma revista de cultura antes do protesto, ao passo em que Duque advertia que seu governo não toleraria violência.

Na noite de terça (19), a polícia entrou na redação da revista Cartel Urbano e revirou obras de arte. Funcionários da publicação postaram vídeos nas redes sociais mostrando a ação.

Policiais usam gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes em Bogotá
Policiais usam gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes em Bogotá - Juan Barreto/AFP

Em função dos protestos, o governo fechou fronteiras terrestres e fluviais do país até sexta (22) em 12 postos de controle migratório nas divisas com o Brasil, Equador, Peru e Venezuela, afirmou o diretor da agência de migração colombiana, Christian Krüger.

"Esta é uma medida que pretende evitar que estrangeiros ingressem no território nacional com a intenção de alterar a ordem pública e a segurança", acrescentou Krüger.

A ONU manifestou preocupação com o aumento da presença de militares nas ruas do país nos dias anteriores ao protesto. O escritório local das Nações Unidas também observou "com preocupação" a emissão de "vários decretos, circulares e instrutivos" que permitem às autoridades declarar toque de recolher e ter apoio do Exército em caso de excesso.

A universitária Valentina Gaitán, 21, carregava uma faixa para convidar à mobilização: "Que o privilégio não tire a sua empatia". Ao redor dela, alunos cantavam.

"Há muito medo de sair para as ruas, mas mesmo assim saímos porque muito desse medo foi espalhado pelo Estado com repressão simbólica, militarização, fechamento de fronteiras", afirmou.

América Latina convulsionada

Peru
Em 30.set, o presidente Martín Vizcarra dissolveu o Congresso após uma disputa envolvendo a nomeação de membros do Tribunal Constitucional. Manifestantes apoiaram a agenda anti-corrupção do presidente

Chile
O aumento na tarifa do metrô de Santiago em 18.out levou milhares de pessoas à ruas. A pauta cresceu, e os chilenos protestam contra a desigualdade social e por melhorias na saúde e na educação. Até o momento, 23 morreram e cerca de 3.700 ficaram feridos

Bolívia
Vaivém na contagem de votos da eleição de 18.out e denúncias de fraude levaram à renúncia do presidente Evo Morales. Milhares saíram às ruas contra e a favor do líder indígena e foram reprimidos por polícia e Forças Armadas—32 morreram

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