Descrição de chapéu The Washington Post

Depoimentos públicos no inquérito de impeachment terminam com advertência sobre a Rússia

Testemunhas dizem que esforços de Trump e aliados beneficiam os russos, que apoiam separatistas ucranianos

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Washington | Washington Post

Os deputados democratas concluíram na quinta-feira (21) um bombardeio de 72 horas de audiências no inquérito de impeachment do presidente Donald Trump, com depoimentos de duas testemunhas que reforçaram que ele provavelmente negou a ajuda militar à Ucrânia e uma cobiçada reunião na Casa Branca para influenciar o presidente ucraniano a investigar seu adversário na próxima eleição.

Os depoimentos de Fiona Hill, ex-conselheira da Casa Branca na Rússia, e David Holmes, advogado na embaixada dos EUA na Ucrânia, encerraram uma semana dramática, em que os legisladores convocaram nove testemunhas para descrever o que os democratas acreditam ter sido um esforço de Trump e seus aliados para coagir a Ucrânia a anunciar uma investigação do ex-vice-presidente Joe Biden —em detrimento dos interesses de segurança nacional dos EUA.

A ex-assessora do Conselho de Segurança Nacional para questões russas, Fiona Hill, depõe em Washington
A ex-assessora do Conselho de Segurança Nacional para questões russas, Fiona Hill, depõe em Washington - Liu Jie - 21.nov.2019/Xinhua

Esses podem ser os últimos depoimentos que a Comissão de Inteligência da Câmara ouve publicamente como parte do inquérito. 

A comissão começou a escrever um relatório resumindo suas descobertas. Uma vez concluído, o processo passará à Comissão de Justiça da Câmara, que elaborará artigos específicos de impeachment.

A Comissão de Justiça poderá começar seu trabalho quando os legisladores retornarem do feriado do Dia de Ação de Graças (28).

Hill e Holmes detalharam discussões tensas nos bastidores do governo Trump, apresentando uma nova perspectiva sobre como os esforços do presidente e de seus aliados acabou beneficiando a Rússia, que apoia os separatistas ucranianos que lutam contra o governo de Kiev.

Além de pressionar por investigações, testemunharam os dois, aqueles alinhados com o presidente —especialmente o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani— sabotaram Marie Yovanovitch, respeitada diplomata que serviu como embaixadora na Ucrânia.

A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, afirmou na quinta-feira que os democratas não esperariam pelos tribunais para convocar várias outras potenciais testemunhas, incluindo o chefe de gabinete interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o ex-assessor de segurança nacional John Bolton.

O presidente da Comissão de Inteligência, Adam Schiff, pareceu esclarecer o próximo passo dos democratas, dizendo que as ações de Trump foram “além” até mesmo do que o presidente Richard Nixon fez no escândalo de Watergate, que o forçou a renunciar.

Enquanto isso, meia dúzia de senadores republicanos e autoridades graduadas do Executivo se reuniram para traçar a estratégia de um possível julgamento de impeachment do presidente Trump, incluindo a tentativa de limitar o processo a duas semanas.

Apesar dos depoimentos prejudiciais sugerindo que o presidente queria que uma potência estrangeira investigasse um cidadão americano como contrapartida por ajuda, os republicanos não se abalaram.
O deputado Devin Nunes, líder republicano na Comissão de Inteligência da Câmara, afirmou que os democratas estão fazendo uma “tentativa de derrubar o presidente”.

Como outras testemunhas anteriores, Hill e Holmes disseram que ficaram cada vez mais consternados quando seus esforços para organizar uma reunião entre Trump e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, foram frustrados por Giuliani e outros.

As autoridades disseram que souberam que a Casa Branca estava retendo cerca de US$ 400 milhões em ajuda de segurança à Ucrânia, e Holmes disse que teve a “clara impressão” de que isso foi porque Zelenski não anunciou as investigações, como queriam Trump e Giuliani.

Fiona Hill disse que havia visto Gordon Sondland, embaixador dos EUA na União Europeia, pressionar os ucranianos para anunciarem as investigações e sugerir que caso contrário eles não teriam uma reunião na Casa Branca.

Isso ocorreu em um encontro em 10 de julho entre ucranianos e Bolton, Sondland, o secretário de Energia, Rick Perry, e o então enviado especial à Ucrânia, Kurt Volker, disse Hill. Quando a reunião estava terminando, afirmou ela, uma autoridade ucraniana indagou sobre o encontro na Casa Branca, e Bolton tentou mudar de assunto.

Segundo Hill, Sondland interveio para dizer: “Haverá uma reunião, se investigações específicas forem realizadas”. “Foi quando vi o embaixador Bolton endurecer”, testemunhou Hill, acrescentando que o conselheiro de segurança nacional logo declarou que tinha que sair.

Hill testemunhou que Bolton disse a ela mais tarde para relatar o assunto ao principal advogado do Conselho de Segurança Nacional, John Eisenberg, e transmitir a mensagem: “Eu não faço parte disso, seja qual for o negócio de drogas que Mulvaney e Sondland estejam planejando”. Sondland, segundo ela, afirmou que Mulvaney aceitou agendar uma reunião se a Ucrânia concordasse em anunciar as investigações.

O advogado de Bolton disse que ele está disposto a depor apenas se um juiz federal decidir que pode fazê-lo apesar de uma objeção da Casa Branca. Seu depoimento pode ser particularmente importante porque ele teve contato direto com Trump e, de acordo com outras testemunhas, ficou desconfortável com parte do que estava acontecendo na Casa Branca.

Holmes também descreveu importantes tratativas do governo com a Ucrânia, em particular uma conversa entre Trump e Sondland em 26 de julho —um dia depois que Trump pressionou Zelenski para investigar os Biden em um telefonema que foi um estopim para o inquérito de impeachment.

Almoçando em um café ao ar livre em Kiev, afirmou Holmes, Sondland ligou para a Casa Branca de seu celular pessoal. Trump falou tão alto, segundo ele, que sua voz era clara, mesmo sem estar no viva-voz.
Holmes disse que ouviu Trump perguntar: “Então, ele fará a investigação?” e Sondland responder: “Ele vai fazer” —referindo-se a Zelenski. “Nunca vi nada parecido na minha carreira”, testemunhou Holmes.

Depois que a ligação terminou, ele perguntou a Sondland o que Trump pensava da Ucrânia. Ele disse que o embaixador respondeu que Trump não se importava com a Ucrânia e se preocupava apenas com as “coisas importantes” que o afetavam pessoalmente.

Enfatizando a ideia de que a Rússia interferiu nas eleições de 2016, Hill fez uma advertência seca sobre a campanha de 2020, dizendo que o Kremlin está “preparado para repetir” seus ataques e “estamos quase sem tempo para detê-los”.

Ela disse que levantou essas questões porque o objetivo da Rússia seria colocar o presidente dos EUA “sob uma nuvem”. “Isso é exatamente o que o governo russo estava esperando”, disse ela.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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