Dezenas de milhares vão às ruas em 'supersegunda' de protestos no Chile

Durante confrontos, Santiago foi atingida por terremoto; não há vítimas

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Santiago | AFP

Convocados pelas redes sociais para uma “supersegunda” de manifestações, dezenas de milhares de chilenos, a maioria estudantes, marcharam e encheram as ruas de Santiago e de outras cidades, como Valparaíso e Viña del Mar, nesta segunda-feira (4). Os protestos entraram na terceira semana consecutiva.

Na capital, logo cedo, manifestantes se concentraram em frente aos tribunais, e taxistas protestaram contra a cobrança de pedágio dentro da cidade. Mais tarde, o ato ganhou corpo e reuniu uma multidão no entorno da praça Itália, principal palco dos atos desta crise.

Durante a tarde, manifestantes enfrentaram a polícia no local e em outros pontos do centro de Santiago.

Fogo atinge policial durante protesto em Santiago - Jorge Silva/Reuters

Os confrontos começaram quando os participantes do protesto tentaram chegar ao Palácio Presidencial de La Moneda pela avenida Alameda, forçando passagem pelas barreiras da polícia ao longo do trajeto.

Na praça Itália, agentes jogaram bombas de gás lacrimogêneo e utilizaram jatos d’água para dispersar os manifestantes. Uma policial ficou ferida.

Em Viña del Mar, 120 km a oeste de Santiago, manifestantes também enfrentaram as forças de segurança e saquearam lojas de um shopping.

Policiais disparam durante protesto em Santiago - Jorge Villegas/Xinhua

Enquanto a polícia dispersava manifestantes no centro da capital, foi possível sentir o tremor de um terremoto de 6,1 graus de magnitude, segundo o Centro Sismológico Nacional. Até o momento “não há relatos de vítimas ou danos, alteração dos serviços básicos ou problemas na infraestrutura”, de acordo com o Escritório Nacional de Emergências (Onemi).

O abalo atingiu ao menos seis regiões do centro e sul do Chile.

Nas ruas, os manifestantes continuam questionando o que consideram um Estado ausente em educação, saúde e Previdência com base em um modelo econômico de livre-mercado, rechaçado por grande parte dos chilenos.

Nas últimas semanas, multiplicaram-se as vozes da esquerda e da direita que pedem uma mudança na Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Manifestante atravessa nuvem de gás lacrimogêneo
Manifestante passa por nuvem de gás lacrimogêneo durante confrontos com a polícia em Concepción, a cerca de 530km da capital Santiago - Jose Luis Saaveda/Reuters

Segundo uma pesquisa realizada pelo instituto Cadem e divulgada no domingo, 87% dos chilenos apoiam a mudança.

O presidente Sebastián Piñera cancelou a realização da conferência da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) e a COP-25, cúpula do clima da ONU, previstas para este mês no Chile, devido aos protestos.

Piñera paga pelos erros na gestão da crise com uma queda acentuada da sua popularidade desde o primeiro dia de manifestações. Nesta segunda, o índice registrou 13%, segundo o Cadem —o menor desde o retorno da democracia no Chile.

Os protestos deixaram 20 mortos (cinco deles nas mãos de agentes) do Estado. Cerca de 150 manifestantes tiveram ferimentos nos olhos durante confrontos.

Nesta segunda-feira, o ministro da Justiça, Hernán Larraín, disse que se comprometeu com a missão do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU fornecer informações, com “total transparência”, sobre a atuação da polícia e dos militares.

“Há denúncias de condutas graves” feitas por instituições de direitos humanos pela atuação de policiais e militares, admitiu o ministro, acrescentando que os cerca de 600 civis detidos serão processados.

A crise começou com um protesto de estudantes contra o aumento dos preços das passagens de metrô em Santiago. Até agora se trata de um movimento heterogêneo, sem bandeiras políticas e sem liderança identificável.

As atividades foram retomadas em Santiago e nas principais cidades do país, embora os chilenos estejam atentos às manifestações maciças convocadas por meio de redes sociais.

O metrô de Santiago, que transportava cerca de 2,6 milhões de passageiros em dias úteis, sofreu graves danos em 118 de suas 136 estações —25 delas foram incendiadas, principalmente em zonas muito populosas e onde vive a classe trabalhadora. 

Os danos ao metrô, um dos mais modernos da região, são estimados em mais de US$ 350 milhões. A depredação de pequenas e médias empresas e de estabelecimentos comerciais, além da infraestrutura pública, superam os US$ 900 milhões, segundo dados oficiais.

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