Descrição de chapéu The New York Times

Entrevista chocante de príncipe Andrew sobre Epstein contamina eleição britânica

Anúncios de candidatos foram eclipsados por perguntas sobre relação com criminoso sexual

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Londres | The New York Times e Reuters

Quando membros da família real britânica concordam em dar entrevistas à TV, nas quais falarão sem censura sobre suas conturbadas vidas particulares, o efeito geralmente é de deixar as águas mais revoltas em vez de mais calmas.

Assim, quando o príncipe Andrew se propôs a explicar numa entrevista à BBC transmitida na noite de sábado (16) sua amizade com o financista e criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein, o tiro saiu pela culatra —previsivelmente.

Os espectadores ficaram perplexos diante da decisão do príncipe de ser submetido a um interrogatório cortês, mas implacável da jornalista Emily Maitlis. Muitos disseram ter achado suas declarações defensivas, nada convincentes ou simplesmente estranhas.

O príncipe britânico Andrew, duque de York, após discursar em cerimônia em Bagcoc
O príncipe britânico Andrew, duque de York, após discursar em cerimônia em Bagcoc - Lillian Suwanrumpha - 3.nov.19/AFP

Andrew, também conhecido como duque de York, negou várias vezes as acusações feitas por Virginia Roberts Giuffre, segundo as quais ele teria tido relações sexuais com a mulher quando ela tinha 17 anos, depois de ter sido oferecida por Epstein —à rede britânica o duque insistiu que não se lembrava de ter conhecido Giuffre.

Mas ele não conseguiu explicar a foto feita em Londres, que aparentemente o mostra com o braço em volta da cintura descoberta da adolescente, com a ex-namorada de Epstein, Ghislaine Maxwell, sorrindo em segundo plano.

Questionado se lamentava seu relacionamento com Epstein, que continuou depois de o empresário ter cumprido pena de prisão por ter aliciado uma menor de idade para prostituição, Andrew respondeu: “Se eu lamento o fato de que ele muito obviamente se comportou de maneira indecorosa? Sim.”

“Indecorosa?”, retrucou a entrevistadora da BBC em tom incrédulo. “Ele era criminoso sexual.” O duque voltou atrás rapidamente, dizendo: “Sim, sinto muito, estou sendo educado. Quero dizer, no sentido de que ele era criminoso sexual.”

A reação da mídia britânica e nas redes sociais foi de escárnio generalizado. “Nem uma única palavra de arrependimento”, disse a manchete em letras garrafais no jornal The Mail on Sunday. 

As respostas também ofuscaram a campanha eleitoral britânica nesta segunda (18). 

O premiê Boris Johnson e seu principal adversário, o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, planejavam apresentar suas propostas para o país para as eleições de 12 de dezembro. Em vez disso, seus discursos foram eclipsados pela entrevista do príncipe Andrew.

Em um evento organizado pelo principal grupo de lobby de negócios da Grã-Bretanha, o CBI, Boris foi questionado duas vezes sobre o príncipe, incluindo se ele compartilhava “a incredulidade do país” sobre o relato de Andrew sobre seu comportamento e o que ele recomendaria à rainha.

“Não serei arrastado para comentários sobre assuntos relacionados à família real”, disse Boris após prometer acabar com a incerteza do brexit no dia 31 de janeiro.

Antes, foi questionado se ele encorajaria Andrew a cooperar com as autoridades dos EUA sobre as ações de Epstein. Boris respondeu: “Boa tentativa”.

Advogados das vítimas do empresário disseram que o príncipe mostrou pouca simpatia pelos que foram abusados.

Na entrevista, o príncipe questionou várias das acusações. Ao explicar a foto que aparentemente o mostra com Giuffre, ele não chegou a dizer que a foto pode ter sido manipulada, como já sugeriram alguns de seus amigos. 

Mas disse que nunca se veste casualmente quando está em Londres, que evita gestos públicos de afeto com desconhecidos e que não poderia ter estado no local onde a foto foi feita.

Mesmo depois de os detalhes repugnantes do tráfico de meninas menores de idade cometido por Epstein terem vindo à tona nos tribunais, Andrew, na entrevista à BBC, recusou-se a dizer que lamentava ter sido amigo do empresário, que se matou em agosto em sua cela de prisão em Manhattan.

Andrew reconheceu que as acusações tiveram efeito negativo sobre sua família, ofuscaram seu trabalho com entidades beneficentes e lançaram uma sombra legal sobre ele. 

Giuffre e outras acusadoras o convidaram a repetir suas negativas diante da Justiça, mas Andrew disse que terá que consultar advogados antes de fazê-lo sob juramento.

Tradução de Clara Allain

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