Espanha vai às urnas de novo em meio a fantasma da ingovernabilidade

Eleição não tem cenário claro, mas há previsão de que ultradireita ganhe força

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Patu Antunes
Barcelona

A Espanha realiza neste domingo (10) sua quarta eleição geral desde 2015, com o fantasma da ingovernabilidade e da ascensão definitiva da extrema direita.

O primeiro desafio é levar os 37 milhões de eleitores às urnas. Às 14h (12h do horário de Brasília), seis horas antes do fim da jornada eleitoral, foi registrada uma queda no comparecimento às urnas: apenas 37,83% dos eleitores haviam ido aos colégios eleitorais a registrar seu voto. Nas últimas eleições, em 28 de abril, a essa hora 41,49% já haviam ido às urnas.

Mulher prepara cédulas de votação em Barcelona
Mulher prepara cédulas de votação em Barcelona - Josep Lago - 10.nov.19/AFP

Naquela ocasião, PSOE e Unidas Podemos, as principais forças de esquerda, não chegaram a um acordo para garantir a governabilidade e, com isso, foram convocadas as eleições de hoje.

Não há um cenário claro no pleito, e sobram incertezas. Dos 350 assentos no Parlamento disputados hoje, apenas 153 já teriam “dono” assegurado, segundo análise do jornal El País.

Os socialistas (PSOE) comandados por Pedro Sánchez, atual primeiro-ministro, são os que mais teriam votos seguros (70), mas também os que teriam mais votos cambaleantes (58).

Na sequência vêm o Partido Popular (PP) e Cidadãos (C’s), forças de direita com um forte discurso antisseparatista, que nos últimos dias se alinhou ainda mais ao Vox, a ultradireita que propõe ilegalizar os partidos pró-separação da Catalunha e expulsar imigrantes. 

Apesar de não ter chegado ao nível que esperava em 28 de abril, o Vox, partido comandado por Santiago Abascal, desta vez pode saltar ao terceiro lugar entre as forças mais votadas, graças ao extremismo em relação à Catalunha.

A região no nordeste espanhol, que criou um imbróglio na Europa ao tentar se separar à força do resto do país há dois anos, voltou a testar os nervos dos espanhóis (e barceloneses) há poucas semanas. 

Com o fim do julgamento dos líderes do processo separatista e uma pesada sentença de condenação, dois grandes grupos tomaram as ruas de Barcelona, promovendo quebra-quebra e ataques à delegação do governo espanhol.

Um grupo, formado principalmente por jovens antissistema e pelos CDR (Comitê de Defesa da República), leva mais de uma semana acampado em uma das praças centrais de Barcelona. 

Nesta eleição, no entanto, o clima é de tranquilidade na capital catalã, apesar de certa tensão registrada no sábado (9) à noite, quando um contêiner foi queimado no centro e houve uma tentativa de tomar novamente a praça Urquinaona, além de uma aproximação dos manifestantes à sede do governo espanhol. A forte presença policial conseguiu dispersar o protesto.

Para esta noite, está convocada uma manifestação desse grupo para bloquear uma das principais avenidas de acesso à cidade, e a partir da segunda (11), outro grupo, Tsunami Democrático, convocou três dias de manifestações pacíficas nas ruas.

Há cinco forças políticas principais disputando o Parlamento e o comando do governo espanhol nas eleições.

Não há uma aposta segura e muito menos a certeza de que apenas um partido consiga a maioria absoluta, como ocorreu em 2011 quando o Partido Popular tirou o Partido Socialista (PSOE) do poder. 

A ascensão do Vox fez duas vítimas neste ano: Partido Popular e Cidadãos. Ambos acabaram sendo identificados com o extremismo do novo partido, embora tenham uma agenda menos conservadora.

Na semana passada, por exemplo, PP e C’s apoiaram Vox em um projeto de lei, a partir do Parlamento madrileno, para ilegalizar partidos separatistas. O projeto deverá ser apresentado ao governo central.

Essa identificação, no entanto, é especialmente prejudicial a Cidadãos, que tem visto parte do seu capital político, conquistado justamente com uma mensagem unionista, diluído. 

Se o separatismo catalão une a direita espanhola com uma mensagem clara, a esquerda se vê outra vez no que parece um beco sem saída: a dificuldade de conciliar o projeto nacional espanhol com o projeto catalão de soberania sem separatismo.

A incapacidade de formar governo com os resultados de 28 de abril fez com que a esquerda se fragmentasse ainda mais, criando a vertente Mais País, um subproduto da Unidas Podemos. 

Enquanto o líder socialista Pedro Sánchez pedia aos eleitores para irem votar, Pablo Iglesias, o líder de Unidas Podemos, voltava a bater na tecla da união perdida: “Vamos estender a mão ao PSOE porque combinar a valentia de Unidas Podemos com a experiência do PSOE pode transformar nosso país em um referente em políticas sociais”, afirmou depois de votar.

Iglesias assegurou que seu partido é capaz de “deixar as picuinhas para trás”.

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