Filhos de Netanyahu se destacam em Israel por motivos opostos

Yair é conhecido por militância nas redes sociais, enquanto o caçula Avner é discreto

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Tel Aviv

“O que o seu pai faz?”, perguntou ironicamente o apresentador do programa A Perseguição, do canal Kan 11, em que participantes respondem a perguntas para superar um especialista sabe-tudo. 

“Ele é servidor público”, respondeu, com um sorriso, Avner Netanyahu, 25, o filho mais novo do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu —conhecido como Bibi.

Avner (à esq.) e Yair com os pais, Binyamin e Sara Netanyahu, em foto de família
Avner (à esq.) e Yair com os pais, Binyamin e Sara Netanyahu, em foto de família - @Netanyahu no Facebook

Simpático, Avner se apresentou apenas como um estudante de arqueologia, esquivou-se de perguntas com viés político e riu sem restrições. E não reclamou quando saiu do programa de mãos vazias.

A participação surpresa de Avner no programa, por iniciativa própria, foi ao ar na segunda-feira passada (28/10), arrancando elogios gerais pela humildade do estudante, que vestia apenas camiseta e jeans e tentava passar uma imagem de normalidade (apesar do guarda-costas que o acompanhava nos bastidores).

Impressão totalmente diferente daquela deixada pelo irmão mais velho, Yair Netanyahu, 28, conhecido pela verborragia e militância de direita.

Em discursos durante a visita do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em março deste ano, Bibi comentou diversas vezes que gosta do nome Jair porque se parece ao de seu filho Yair (que significa “iluminará”, em hebraico).

Apesar da semelhança física, os dois “príncipes” da dinastia Netanyahu não poderiam ser mais distintos. 

No mesmo dia em que o mais jovem Netanyahu apareceu na televisão, o mais velho era manchete nos principais jornais do país por ter desfiado acusações histriônicas contra rivais do pai em depoimento à polícia.

Transcrições do testemunho de Yair no chamado Caso 4000 (no qual Binyamin Netanyahu é suspeito de negociar favores com um magnata da mídia) revelaram que ele chamou o parlamentar Gideon Sa’ar, rival do primeiro-ministro dentro do partido Likud, de “estuprador”.

“O Gideon Sa’ar, que estuprou sua secretária e arranjou para que ela se calasse, vocês não investigam porque não interessa!”, reclamou Yair, para quem as investigações de suspeita de corrupção são apenas perseguição política a seu pai e sua mãe, Sara Netanyahu, que também enfrenta a Justiça.

Ela foi condenada em junho por uso indevido de recursos públicos e é acusada de tratar de forma cruel funcionários da residência oficial.

Yair também descreveu como “assassino” Nir Hefetz, um ex-assessor de imprensa do primeiro-ministro que agora testemunha contra ele. O filho do premiê contou às autoridades  uma improvável história de que Hefetz teria matado um soldado durante seu serviço militar e arrastado o corpo por trilhos de trem.

Yair ainda chamou a polícia israelense de “nazista” e “stasi” (a polícia secreta da Alemanha Oriental) por investigar seu pai. Ele se referiu ao chefe da polícia como “Tony Soprano” (um mafioso ficcional da série “Sopranos”).

Não é a primeira vez que Yair Netanyahu se destaca por fazer comentários grosseiros. Seus posts em redes sociais são quase sempre polêmicos. Em dezembro de 2018, por exemplo, ele foi suspenso do Facebook por 24 horas por postar conteúdo considerado antimuçulmano.

Apoiadores de seu pai o apontam como possível herdeiro, mas ele nega que queira seguir carreira política, mesmo se interessando pelo assunto. Costuma publicar artigos em sites como o direitista Breitbart, associado a Steve Bannon, ex-estrategista-chefe do presidente americano, Donald Trump.

Já Avner, que se mantém longe dos holofotes, não parece ter interesse nenhum por redes sociais ou militância política. Opositores do primeiro-ministro dizem ser uma pena.

“Avner conseguiu manter sua sanidade à sombra da personalidade dominante do pai”, escreveu Amit Salonim, o crítico de TV do site Walla. “Por que ele quis participar do programa de TV? Talvez para mostrar o Netanyahu que estamos perdendo.”

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