Netanyahu é indiciado por corrupção, fraude e abuso de confiança

Premiê chamou o processo de 'tentativa de golpe' e disse que não vai renunciar

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Jerusalém | Reuters e AFP

Na mais grave crise da carreira política do premiê Binyamin Netanyahu, o procurador-geral de Israel o indiciou por corrupção, recebimento de propina, fraude e quebra de confiança. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (21).

É a primeira vez que um premiê israelense é indiciado no exercício do cargo. E Netanyahu disse que não vai renunciar. "Esta é uma tentativa de golpe baseada em invenções e em uma investigação parcial e corrupta."

O premiê israelense Binyamin Netanyahu, durante reunião em Jerusalém - Gali Tibbon - 20.nov.2019/AFP

Seu principal adversário político, Benny Gantz, rechaçou as declarações. "Não há nenhum golpe em Israel, apenas uma tentativa de [Netanyahu] se manter no poder."

O primeiro-ministro é alvo de três investigações. A primeira apura se ele teria concedido benefícios no valor de US$ 500 milhões (R$ 2,1 bilhões) à empresa de telecomunicações Bezeq, a maior do país, em troca de uma cobertura favorável de seu governo no site de notícias Walla, de propriedade do ex-presidente da companhia. ​

Nos outros dois casos, ele é acusado de aceitar presentes de bilionários, como charutos e bebidas, no valor de US$ 264 mil (R$ 1,1 milhão), e de oferecer vantagens ao jornal Yedioth Ahronoth (o mais vendido no país), também em troca de uma cobertura positiva.

Netanyahu nega todas as acusações e afirma ser vítima de uma "caça às bruxas", termo também usado por um de seus aliados, o presidente Donald Trump, para se referir à oposição democrata nos EUA. Ele não é obrigado a renunciar enquanto está sendo processado, mas precisará deixar o cargo se for condenado. 

Primeiro-ministro desde 2009, Netanyahu, 70, também exerceu a função entre 1996 e 1999. Na última década, ele dominou a política israelense e foi o principal responsável pela virada mais à direita do país. 

Uma possível condenação pode levar meses, segundo o jornal Times of Israel.

O premiê pode pedir ao Parlamento que lhe conceda imunidade para o processo, mas o comitê responsável por analisar esse pedido está atualmente sem membros. Sua recomposição depende da formação de um novo governo —o que está no centro da crise política atual no país.

Israel se encaminha para a terceira eleição no período de um ano. O Likud, partido de Netanyahu, ficou em segundo lugar nas eleições de setembro, mas, por ter mais apoio de outros partidos, foi o primeiro a tentar formar governo —entretanto, não conseguiu um acordo final. Seu rival, Benny Gantz, também falhou na tarefa.

A decisão pelo indiciamento veio após uma série de audiências entre promotores e advogados de Netanyahu, realizadas em outubro. As conversas não convenceram os investigadores da inocência do premiê. 

A notícia foi bem recebida pelos palestinos. Abu Youssef, oficial da Organização para Libertação da Palestina, afirmou que Netanyahu passou anos "lançando guerras contra o povo palestino" para aumentar sua popularidade e evitar a abertura do processo. 

Em sua campanha, Netanyahu destacou a proximidade com Trump. Ele obteve conquistas como o reconhecimento americano da soberania israelense sobre as Colinas de Golã e a mudança de posição do governo dos EUA sobre os assentamentos israelenses na Cisjordânia. Antes criticados, eles passaram a ser vistos como legais por Washington.

Netanyahu também se aproximou de Jair Bolsonaro. O israelense veio ao Brasil para a posse, em janeiro, e depois recebeu o presidente brasileiro em Jerusalém para uma visita. 

Bolsonaro prometeu mover a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém (como fez Trump), gesto que agrada a Netanyahu e a parte dos evangélicos brasileiros. No entanto, o governo recuou após pressão de países árabes, que são grandes importadores de carne brasileira. 

Antes do atual premiê, outro ocupante do cargo foi processado por corrupção: Ehud Olmert foi condenado e cumpriu 16 meses de prisão, mas ele renunciou ao cargo antes de ser indiciado, em 2008.

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