Oposição na Bolívia comemora 'fim da tirania' e pede novas eleições

Derrotado no último pleito, Mesa disputa protagonismo com líder de protestos

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São Paulo

Responsáveis por encabeçar o movimento que contestou o resultado da eleição boliviana e inflamou as ruas do país, o segundo colocado no pleito, Carlos Mesa, e o líder opositor Luis Fernando Camacho celebraram a renúncia do presidente Evo Morales com falas que misturaram patriotismo e religiosidade.

Logo após a confirmação da queda, Mesa atribuiu o fato, em uma rede social, ao “heroísmo da resistência pacífica” e disse que nunca esquecerá esse dia. “É o fim da tirania”, escreveu o ex-presidente centrista (2003-2005).

Ele reivindicou que a linha de sucessão presidencial estabelecida na Constituição fosse seguida e disse que caberia ao Legislativo eleger o novo presidente. “Isso não foi um golpe de Estado”, afirmou à imprensa local.

Mesa ainda defendeu que a prioridade da polícia e das Forças Armadas seja a de “garantir e preservar a ordem” no território boliviano, já que “existe o risco de atos de provocação” dos partidários de Evo e de vandalismo.

O líder opositor Luis Fernando Camacho (ao centro) ajoelhado diante de uma Bíblia e da bandeira da Bolívia, no Palácio Quemado, sede do governo, em La Paz; ele levou para o local uma carta de renúncia para ser assinada por Evo
O líder opositor Luis Fernando Camacho (ao centro) ajoelhado diante de uma Bíblia e da bandeira da Bolívia, no Palácio Quemado, sede do governo, em La Paz; ele levou para o local uma carta de renúncia para ser assinada por Evo - Reprodução

Camacho, que neste domingo (10) foi ao palácio do governo levando uma Bíblia e fez um juramento de joelhos no local, comemorou a renúncia de Evo em tom religioso.

“Nossa luta não é com armas, é com fé. Deus abençoe a Bolívia”, disse em uma rede social, minutos após o anúncio.

Católico conservador, o advogado de 40 anos, líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, já havia erguido a Bíblia em outras manifestações contra o então presidente.

Ele vinha alardeando que levaria o livro religioso até a sede do governo junto com uma carta de pedido de renúncia, para que Evo assinasse.

Neste domingo, ele cumpriu a promessa e, depois de tentativas frustradas, finalmente entrou no Palácio Quemado, em La Paz, carregando os dois itens e uma bandeira do país. Pouco tempo depois, em Cochabamba, o presidente oficializaria a saída do cargo.

Camacho tornou-se um dos principais indutores da onda de protestos, com um discurso tido como radical, e foi responsabilizado pelos protestos violentos nas ruas.

O comitê que ele preside reúne entidades empresariais, associações de moradores e grupos de trabalhadores de direita da região de Santa Cruz de La Sierra, que se tornou um foco da oposição a Evo.

Com a proeminência, Camacho passou a ser comparado por parte da opinião pública ao líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, que é reconhecido como presidente interino por mais de 50 países.

Mas, ao contrário do homólogo venezuelano, Camacho ainda não tem apoio internacional explícito ou cargo público que lhe dê um impulso maior.

Há alguns dias, o agitador chegou a clamar por uma intervenção militar e pediu aos chefes das Forças Armadas para “estarem ao lado do povo”. Antes, fazia campanha pela realização de novas eleições.

Mesmo sem ter disputado, ele se tornou o rosto mais visível da oposição boliviana após as eleições, ofuscando o papel de Mesa, 66, que concorreu e terminou o pleito com 36% dos votos, ante 47% de Evo.

Jornalista e historiador, o ex-presidente lidera a aliança política Comunidade Cidadã. Ele chegou à Presidência em 2003, após a renúncia de Gonzalo Sánchez de Lozada, e fez um governo neoliberal.

Como candidato de oposição, não reconheceu a contagem de votos da eleição de outubro e passou a ser acusado por Evo e seus aliados de tentar promover um golpe de Estado no país.

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