Opositor que deu ultimato a Evo é barrado por ativistas em aeroporto de La Paz

Manifestantes ligados ao presidente cercam o local e impediram saída de Camacho

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São Paulo e La Paz | AFP

Depois do fim do prazo que tinha dado a Evo Morales para que deixasse o cargo, o opositor radical Luis Fernando Camacho resolveu ir a La Paz entregar pessoalmente uma carta de renúncia para o presidente.

No sábado (2), Camacho deu um ultimato a Evo: além de clamar por ajuda militar, exigiu que o mandatário abrisse mão do cargo até a noite de segunda-feira (4). O Exército, porém, não reagiu, e Evo segue no poder.

Ao aterrissar em La Paz, o advogado de 40 anos, líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, reduto de opositores de Evo, no entanto, foi retido no aeroporto por apoiadores do governo na noite de segunda.

Sem conseguir sair, voou de volta a Santa Cruz na manhã de terça-feira (5), em um avião militar. A cidade fica a 900 km da capital.

Em entrevista à mídia local, prometeu tentar ir à capital outra vez na quarta (6) e todas as vezes que forem necessárias até entrar no Palácio do Governo e entregar a carta.

Luis Fernando Camacho durante reunião em Santa Cruz, na Bolívia - Rodrigo Urzagasti - 3.nov.19/Reuters

"Não estou indo com armas. Vou com minha fé e esperança, com uma Bíblia na mão direita e a carta de renúncia na mão esquerda", disse Camacho, segundo o jornal local La Razón.

Camacho é um advogado de 40 anos com mestrado em direito tributário na Universidade de Barcelona.

Ele preside o Comitê Cívico de Santa Cruz, um conglomerado de entidades empresariais, associações de moradores e trabalhadores de direita.

Os manifestantes que cercaram o aeroporto fizeram um controle estrito de todas as pessoas que deixam o local, para evitar que Camacho saísse.

O líder ficou em uma sala no aeroporto, com proteção policial, segundo uma nota divulgada pelo governo. 

Camacho defende que haja um bloqueio às instituições de governo e nas fronteiras, para paralisar o governo e, assim, forçar a renúncia de Evo. A oposição diz que a eleição de 20 de outubro teve fraudes.

No pleito, Evo foi apontado como vencedor. No entanto, durante a apuração, o sistema de contagem ficou paralisado por 20 horas e, quando foi retomado, trouxe uma mudança de tendência, segundo observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos), responsáveis por uma auditoria dos votos. 

O governo diz que a oposição tenta dar um golpe de Estado no país e que não aceita perder no voto popular. 

​​Luis Almagro, secretário-geral da OEA, pediu ao governo que libere a circulação de Camacho. 

Especialistas na Bolívia fazem uma analogia entre esse adversário de Evo e o líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, que é reconhecido como presidente interino por mais de 50 países.

Mas, ao contrário do líder venezuelano, Camacho ainda não tem apoio internacional explícito ou cargo público que lhe dê apoio a seu desejo de desafiar o presidente boliviano.

De família oriunda de Cochabamba, região central caracterizada por um povo combativo, Camacho é membro de uma empresa familiar imobiliária e outra avícola.

Ele se tornou o rosto mais visível da oposição boliviana após as eleições, embora não tenha concorrido à Presidência, ofuscando o ex-presidente centrista Carlos Mesa (2003-2005), segundo colocado na votação.

Mesa expressou sua solidariedade a Camacho, afirmando que a ele "foi impedido o que não se pode impedir a nenhum cidadão boliviano".

A Bolívia enfrenta protestos nas ruas há três semanas, tanto de apoiadores quanto de críticos de Evo. Ao menos 140 pessoas ficaram feridas e duas morreram.

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