Um tribunal do Suriname condenou nesta sexta-feira (30) o presidente Desi Bouterse pela execução de 15 oponentes em 1982 após um golpe de Estado para tomar o poder, sentenciando o homem que dominou a história recente da ex-colônia holandesa a 20 anos na prisão.
Os partidos de oposição pediram a renúncia de Bouterse, atualmente na China em visita oficial. O tribunal militar que o considerou culpado ainda não ordenou sua prisão.
Entre 1980 e 1987, Bouterse liderou o país sul-americano, como ditador. Ele voltou ao poder em 2010, via eleições. Seu partido, o NDP (Partido Nacional Democrata) , foi o mais votado, e ele obteve o cargo em seguida. No Suriname, a eleição presidencial é indireta: os parlamentares eleitos pelo povo escolhem o presidente.
O NDP também obteve ligeira maioria nas eleições de 2015, o que levou Bouterse à se reeleger. Seu mandato vai até agosto de 2020. Haverá novas eleições em maio, e ele disse que quer ser candidato novamente. Não há impedimentos legais para isso.
O tribunal determinou que Bouterse supervisionou uma operação na qual soldados sob seu comando sequestraram 16 importantes críticos do governo —incluindo advogados, jornalistas e professores universitários— e mataram 15 deles em uma fortaleza colonial na capital Paramaribo.
Um líder sindical sobreviveu e depois testemunhou contra Bouterse.
O presidente, que negou firmemente as acusações, pode recorrer da decisão. Até agora, ele não fez comentários sobre sua condenação e espera-se que viaje a Cuba, como planejado, neste sábado.
Em comunicado, o governo do Suriname disse que “tomou nota dos desenvolvimentos e pede à comunidade que mantenha a paz”.
Angelic del Castillo, líder do partido de oposição Alternativa Democrática, exigiu a saída imediata do presidente do país de 560 mil habitantes, independente do domínio holandês desde 1975. "[A renúncia] é pela dignidade do cargo e de nossa nação", declarou del Castillo.
Em 1999, Bouterse foi condenado por tráfico de drogas por uma corte holandesa, embora tenha negado qualquer crime. Em 2005, a justiça do Suriname condenou o filho de Bouterse, Dino, por formação de quadrilha e tráfico de cocaína, armas e carros de luxo.
O tribunal condenou na sexta seis outros ex-oficiais, incluindo um ex-cônsul da vizinha Guiana Francesa, por assassinato. A sentença abrangeu crimes que foram do sequestro de vítimas a participações nas execuções.
Em um comunicado conjunto, representantes diplomáticos de Holanda, Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, Alemanha e França disseram ser crucial que os veredictos sejam "implementados e cumpridos de acordo com a lei".
Bouterse deixou o Exército em 1992, quando ingressou na política ao chefiar o NDP, de orientação pró-militar, e manteve-se em evidência como uma figura controversa no país.
Ele e o partido têm empreendido sucessivas tentativas de obstruir os trabalhos do julgamento, iniciados em 2007. Em 2012, a Assembleia Nacional do país, com maioria do NDP, aprovou uma lei de anistia que concedeu imunidade a Bouterse. A medida foi considerada inválida logo em seguida.
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