Benny Gantz, principal rival do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não conseguiu formar um novo governo dentro do prazo estabelecido, o que aprofunda a crise política no país e aproxima Israel de uma terceira eleição em menos de um ano.
O partido Azul e Branco, de Gantz, anunciou o insucesso da negociação de uma aliança nesta quarta-feira (20), antes mesmo do fim do prazo de meia-noite dado pelo presidente de Israel, Reuven Rivlin.
Antes da tentativa do líder centrista, Netanyahu também havia fracassado na missão.
Gantz, que foi chefe das Forças Armadas sob Netanyahu, buscou se apresentar ao eleitorado como uma figura unificadora. "Fizemos grandes esforços para formar um governo [...] que serviria a todos, religiosos e seculares, judeus e árabes", afirmou.
Durante o anúncio desta quarta, ele se dirigiu diretamente ao premiê em vários momentos, criticando o que ele considera uma insistência de Netanyahu de preservar seu bloco parlamentar, descrito por Gantz como ultrarreligioso e de extrema direita.
Ele também acusou o adversário de tentar fomentar uma guerra civil ao culpar os legisladores árabes pelo impasse político.
"O bem de Israel vem em primeiro lugar, antes de qualquer outra consideração", disse.
Estima-se que a realização de um novo pleito custará US$ 750 milhões (cerca de R$ 3,5 bilhões) aos cofres públicos, cifra próxima a um terço do déficit fiscal israelense.
Gantz procurou atribuir ao primeiro-ministro a responsabilidade pela crise política. "O povo de Israel precisa de uma liderança de visão e não de imunidade", disse, aludindo aos esforços do partido Likud, de Netanyahu, para aprovar leis que possam protegê-lo das denúncias.
Para Netanyahu, não garantir um quinto mandato —ou alternar o comando de Israel com Gantz, em uma proposta de aliança nacional— pode aumentar sua vulnerabilidade a acusações de corrupção.
O primeiro-ministro é alvo de três investigações. A primeira apura se ele teria concedido benefícios à empresa de telecomunicações Bezeq, a maior do país, em troca de uma cobertura favorável de seu governo no site de notícias Walla.
Nos outros dois casos, o premiê é acusado de aceitar presentes de bilionários, como charutos e bebidas, no valor de US$ 264 mil, e de oferecer vantagens a um jornal também em troca de uma cobertura positiva.
Ele nega todas as acusações e afirma ser vítima de uma caça às bruxas.
Membros da legenda de Netanyahu stimam que a promotoria deve oferecer uma denúncia (ato formal que dá início ao processo penal) contra ele antes do fim do mês. A lei israelense não exige a renúncia ou afastamento de um primeiro-ministro nessa hipótese.
O aparente fracasso de Netanyahu ocorre apesar do amplo apoio que tem recebido dos Estados Unidos. O premiê tem capitalizado essa proximidade, conquistando concessões que os americanos negam há décadas a Israel.
Pouco mais de duas semanas antes da primeira eleição deste ano, em abril, o presidente americano, Donald Trump, reconheceu a soberania israelense sobre as colinas de Golã, região que foi tomada da Síria e anexada em 1967, numa ação nunca legitimada pela comunidade internacional.
Em 2018, Trump já havia reconhecido Jerusalém como a capital do país, transferindo a embaixada americana para a cidade. A mudança foi amplamente criticada, uma vez os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como sua capital.
Após a expiração do prazo de Gantz, no fim desta quarta-feira, terá início um período de 21 dias em que os legisladores israelenses poderão nomear qualquer parlamentar para tentar formar uma nova aliança. O nome deve contar com o apoio de 61 dos 120 membros do Knesset, o Parlamento local, e a autorização formal do presidente.
Caso o novo escolhido também fracasse, uma nova eleição será realizada dentro de 90 dias.
O que acontece a partir de agora?
Novo escolhido
Parlamentares terão 21 dias para nomear qualquer membro do Knesset, o Parlamento local, incluindo Binyamin Netanyahu e Benny Gantz, para uma terceira tentativa de formar um governo —algo sem precedentes na história do país. O escolhido precisa ser endossado por 61 dos 120 legisladores. Caso ninguém seja apontado, novas eleições serão convocadas.
A terceira tentativa
O negociador terá duas semanas para formar um bloco de maioria no Parlamento —considerando
que, para receber a missão, ele foi apoiado por ao menos 61 parlamentares, suas chances de sucesso são altas. Se for bem sucedido, o nomeado assume o novo governo
Sem acordo
Se o parlamentar falhar, o Knesset convocará novas eleições, que devem acontecer em março do próximo ano—seria o terceiro pleito em menos de um ano
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