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Seis meses após coroação de novo rei, intrigas no palácio da Tailândia se espalham

Vários cortesãos são depostos ao passo em que monarca reforça autoridade

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Hannah Beech
Bancoc (Tailândia) | The New York Times

As denúncias se espalharam pelos palácios dourados da Tailândia com a extravagância retórica de uma história de Shakespeare. 

A amante oficial do rei foi acusada de tentar ofuscar a rainha e "minar a nação", levando à retirada de seus títulos reais após menos de três meses na posição.

Um alto oficial real foi afastado por "atos severamente imorais" que supostamente incluíram forçar uma amante a fazer um aborto.

E, na semana passada, mais quatro cortesãos, dois dos quais foram descritos como pajens de companhia, foram afastados por "má conduta grave".

O rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, durante evento em memória da morte do rei Rama 5º, em Bancoc - Athit Perawognmetha/Reuters

Há quase seis meses, o rei Maha Vajiralongkorn foi coroado em um espetáculo luxuoso que culminou na colocação de uma coroa de sete quilos em sua cabeça.

Desde então, o monarca de 67 anos montou uma corte que frequentemente figura nas páginas do Diário Real do Governo da Tailândia, que normalmente registra assuntos mais amenos.

Os detalhes fulgurantes das expulsões do palácio contrastam com o teor reservado do reinado de sete décadas do rei Bhumibol Adulyadej, seu pai.

Até a sua morte, em 2016, Adulyadej era a realeza mais antiga do mundo. Ele não saiu da Tailândia por décadas e era frequentemente fotografado em arrozais ou fábricas com seus súditos.

Vajiralongkorn passa grande parte do tempo na Alemanha e não continuou a tradição de interagir com os tailandeses comuns, pelo menos nas fotos que foram divulgadas. O rei adotou medidas notórias que parecem ter reforçado sua autoridade.

No ano passado, ele assumiu a supervisão do Crown Property Bureau —agência semigovernamental responsável pela gestão das propriedades da coroa tailandesa—, cuja fortuna, estimada em mais de US$ 30 bilhões, ajuda a torná-lo uma das realezas mais ricas do mundo.

Em fevereiro, ele anulou a candidatura política de sua irmã mais velha, Ubolratana Rajakanya Sirivadhana Barnavadi, chamando sua tentativa de concorrer ao cargo de primeira-ministra de "altamente inadequada”.

No mês passado, ele ordenou que duas unidades de infantaria em Bangcoc, a capital, passassem do comando militar normal para o de seu corpo real.

"Essa tomada direta de controle é algo que não vemos desde o fim da monarquia absoluta em 1932", disse Tamara Loos, presidente do departamento de história da Universidade de Cornell e especialista em tradições monárquicas tailandesas. "É um desvio para algo muito diferente da maneira discreta de seu pai de comandar."

O recente anúncio de que quatro membros do palácio estavam sendo destituídos de seus títulos reais e militares encerrou uma semana tumultuada, que começou quando a amante oficial do rei foi expurgada publicamente. 

Em 21 de outubro, um anúncio no Diário Real do Governo da Tailândia declarou que Sineenatra Wongvajirabhakdi havia perdido seu título de consorte real. Ela foi acusada de "ingratidão" e de conspirar contra a rainha Suthida Vajiralongkorn Na Ayudhya, a quarta esposa do rei.

As ações de Sineenatra "causaram antipatia na equipe da família real", afirmou o comunicado oficial.

Formada em enfermagem, Sineenatra desfrutou de sua posição oficial, que é distinta da de esposa, por apenas algumas semanas. O título de consorte real não era usado desde que a Tailândia aboliu a monarquia absoluta e a poligamia há mais de oito décadas.

Dois dias depois de Sineenatra ter perdido seu título, vários outros cortesãos, incluindo um representante sênior do rei em muitas cerimônias, uma enfermeira e um veterinário da divisão canina real foram demitidos por aquilo que foi chamado de "má conduta grave usando suas posições no governo para buscar benefícios para si mesmos”.

Frases semelhantes foram usadas na semana passada para descrever os supostos crimes de outros quatro. Dois dos cortesãos foram acusados de adultério, o que foi considerado "uma ofensa aos princípios da equipe da família real".

"É difícil imaginar que essa seja a linguagem de um diário oficial do governo", disse Loos. "Parece mais um tabloide."

O rei, que é conhecido em alguns pronunciamentos oficiais como "o senhor sagrado de todos os indivíduos", foi casado quatro vezes.

Sua primeira esposa, que também é sua prima em primeiro grau, manteve o título de princesa mesmo após o divórcio, em 1991. Eles tiveram uma filha.

A segunda esposa, com quem ele teve cinco filhos, ainda casado com sua primeira esposa, era atriz. Ela e seus quatro filhos vivem no exterior, mas sua filha, Sirivannavari Nariratana, exerce funções reais na Tailândia.

Sirivannavari, estilista, ganhou as manchetes no ano passado, depois que uma apresentadora de entretenimento tailandesa, que usou um vestido que ela havia criado, foi ameaçada com uma ação penal.

A Tailândia tem leis rígidas contra críticas à família real. Os infratores podem ser condenados a até 15 anos de prisão por cada acusação de lesa-majestade.

Como as queixas podem ser feitas por qualquer pessoa, não apenas à polícia, os grupos de direitos humanos dizem que a lei, destinada a proteger a monarquia, foi distorcida para suprimir divergências políticas.

Talvez não seja surpresa que vários acadêmicos e comentaristas políticos na Tailândia tenham se recusado a comentar sobre a série de demissões registradas no Diário Real do Governo da Tailândia.

A terceira esposa do rei, Srirasmi Suwadee, foi considerada princesa até ela e pelo menos nove de seus parentes serem expulsos cinco anos atrás, depois de o palácio alegar que eles teriam usado suas conexões reais para aumentar ilegalmente sua riqueza. Os pais de Srirasmi foram presos por lesa-majestade.

O casal teve um filho, Dipangkorn Rasmijoti, que é considerado o suposto herdeiro ao trono.

O casamento do rei com sua quarta esposa, a rainha Suthida, ex-comissária de bordo, foi divulgado em maio, três dias antes dele ser coroado.

Foi no aniversário do rei neste ano, em 28 de julho, que ele nomeou Sineenatra sua consorte real.

Mais tarde, o Royal Household Bureau (Gabinete de Família Real) divulgou fotos dos dois juntos, incluindo imagens de Sineenatra pilotando um avião enquanto vestia um top esportivo com estampa de camuflagem e outra segurando um poodle branco, usando o que parecia ser um macacão de couro preto.

O rei já teve vários poodles, um dos quais recebeu o posto militar de marechal-chefe da aviação.

Várias mulheres associadas ao rei também alcançaram altas posições militares. A rainha Suthida foi nomeada general no corpo de guarda-costas do rei, enquanto Sineenatra foi major-general de divisão antes de sua derrocada.

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