Com barricadas em chamas em vários pontos de Santiago e uma grande marcha em uma avenida na região central da capital chilena, uma greve geral convocada por uma centena de organizações sociais reuniu milhares de pessoas nesta terça-feira (12) para pressionar o governo a aprofundar as reformas sociais.
No mesmo dia, o peso chileno entrou em colapso e atingiu seu menor valor histórico, de 783 unidades por dólar, em meio a temores dos efeitos da crise social na economia do país.
Os incêndios impediram a passagem de veículos em alguns acessos a Santiago, e a manifestação, que, segundo cálculos do governo, reuniu 80 mil de pessoas, tomou as calçadas da avenida Alameda com ativistas exigindo a renúncia do presidente de centro-direita.
Com bumbos e bandeiras chilenas e de associações que aderiram ao protesto —principalmente entidades públicas—, os manifestantes se reuniram na praça Itália, epicentro dos protestos, e depois marcharam por vários quarteirões até a sede da CUT (Central Unitária de Trabalhadores).
O transporte público operava com relativa normalidade, tanto os ônibus quanto o metrô, assim como o aeroporto de Santiago.
Também houve protestos em outras cidades chilenas como Arica, Antofagasta, Concepción, Rancagua e Valparaíso —esta última abriga o Congresso Nacional, que teve que suspender suas atividades.
A convocação da greve geral ocorre após mais de três semanas do início dos protestos, que contou com ataques a estações do metrô de Santiago, saques a lojas e supermercados, além de manifestações em massa nas ruas.
Os protestos começaram como crítica à alta da tarifa de metrô, já revogada, e passaram a questionar a desigualdade social e o aumento do custo de vida.
As manifestações em todo o país já deixaram ao menos 23 mortos, 2.000 civis hospitalizados e mais de mil queixas de violações de direitos, de acordo com grupos e promotores de direitos humanos.
Na noite de segunda-feira (11), um policial teria atirado no rosto de um estudante de teatro da Universidade do Chile em um protesto realizado na praça Itália.
Ennio Vivaldi, reitor da universidade, disse que em breve fará uma queixa legal. Ele acusou a polícia de usar "violência tremenda" contra protestos pacíficos enquanto falha ao combater vandalismo e saques.
"Nunca mais deve haver um ataque a um jovem com balas a dois metros de distância", disse ele. "Isso tem de parar."
Nesta terça, as escolas públicas aderiram à paralisação, e grande parte das instituições de ensino privadas também, algumas das quais por motivos de segurança. A maioria das universidades não realizou atividades desde que começaram as mobilizações.
A greve ocorre após o presidente Sebastián Piñera anunciar o início do processo para mudar a Constituição, uma herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), embora não com uma Assembleia Constituinte —como solicitado nas ruas—, mas de um Congresso Constituinte, cujos detalhes e composição ainda não estão definidos.
Na tentativa de agregar apoios, o mandatário se reuniu com os ex-presidentes Eduardo Frei (1994-2000) e Ricardo Lagos (2000-2006) e falou por telefone com a ex-presidente Michelle Bachelet, atual Alta Comissária para Direitos Humanos das Nações Unidas.
O governo Piñera também chegou a um acordo com a oposição para promover uma reforma tributária que arrecadaria cerca de US$ 2 milhões, destinada a financiar parte dos anúncios sociais feitos para arrefecer os protestos e fechou um acordo para aprovar o Orçamento de 2020, incluindo algumas concessões sociais.
Os sindicatos, porém, exigem reformas mais profundas no sistema de pensões —também herdadas da ditadura. Eles ainda pedem o aumento do orçamento para a rede de saúde pública, pela qual quase 80% da população chilena é atendida, além de acréscimo no valor do salário mínimo.
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