Tenor italiano vira popstar em Hong Kong sem saber a língua do hino que canta

Stefano Lodola gravou versão de 'Glória a Hong Kong' que viralizou

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Hong Kong

“Lá vem o italiano”, disse uma jovem com máscara durante o primeiro grande ato da oposição em Hong Kong após a vitória nas eleições locais.

“O italiano” é uma improvável estrela dos protestos na cidade, e não é de hoje.

Em 2014, o tenor profissional Stefano Lodola morava no Japão e viu pela televisão os protestos do Occupy Central, que ficou conhecido pelo nome de Movimento dos Guarda-Chuvas, símbolo e também arma de proteção contra spray de pimenta e jatos de água das forças de segurança.

Lodola voou a Hong Kong e passou três meses cantando em protestos. Quando a história começou a se repetir com maior intensidade neste ano, o cantor de 36 anos fez o mesmo caminho.

O tenor italiano Stefano Lodola, que gravou uma versão do hino extraoficial dos protestos em Hong Kong
O tenor italiano Stefano Lodola, que gravou uma versão do hino extraoficial dos protestos em Hong Kong - Igor Gielow/Folhapress

Agora, ele viralizou, para usar a gíria da internet, que é a forma central de comunicação entre os jovens que tomaram as ruas da cidade para protestar contra uma lei que aumentaria o jugo chinês sobre o território, em tese capitalista e liberal até 2047, segundo o tratado que o devolveu de Londres a Pequim.

“Resolvi gravar ‘Glória a Hong Kong' no YouTube”, disse. A música, com quatro estrofes que usam o mote “Liberte Hong Kong - Revolução no nosso tempo”, é uma espécie de hino não oficial dos protestos.

Sua origem é tão obscura como outros aspectos dos atos, como a participação ou não de empresários hongcongueses exilados no seu financiamento. Foi gravada no site LIHKG, um agregador de mídia social ao estilo do americano Reddit, no dia 29 de agosto.

Ninguém conhece seu autor, identificado só como “Thomas dgx yhl”. Aos poucos, surgiu nos protestos, sendo cantada durante ocupações de shopping centers e praças da cidade.

Como já tinha uma fama pregressa, logo os ativistas passaram a convidar Lodola a cantar nos eventos.

Detalhe: ele não fala o cantonês local, mas sua pronúncia é considerada “impecável” pela jovem que o tietava e pelos assessores de Joshua Wong, o líder ativista que também discursou na noite de quinta (28).

Lodola lê a letra no seu celular enquanto faz a performance.

No comício, ele não cantou “Glória a Hong Kong”, mas abriu a apresentação com “Star Sprangled Banner”, o hino dos Estados Unidos.

Era Dia de Ação de Graças, feriado nacional americano, e na véspera o presidente Donald Trump tinha assinado leis que na prática apoiam os manifestantes em Hong Kong.

O italiano foi acompanhado por uma multidão que variou entre 10 mil e 100 mil pessoas, a depender da fonte dos dados (o primeiro número, da polícia, é mais crível), grande parte com as lanternas de seus celulares acesas. Ao fim, foi ovacionado.

Já o hino dos protestos foi cantado mais à frente, no meio do evento, pela cantora Denise Ho Wan-see, que levou muitos dos presentes às lágrimas.

Outras músicas dão as caras nos protestos. Às vezes, um pop cantonês, outras vezes músicas associadas a momentos revolucionários, como o tema da adaptação de “Os Miseráveis” para o formato de musical.

Natural de Carrara, na Toscana, Lodola raramente vai à Itália. Vive entre países da região, baseado a maior parte do tempo no Japão.

Ele descarta a ideia de ter virado uma celebridade. “Às vezes me param e agradecem pelo meu trabalho. Fui parar no noticiário local, só isso. Em um mês meu visto de turista expira e vou embora de volta ao Japão”, disse.

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