O ex-enviado especial dos Estados Unidos à Ucrânia Kurt Volker afirmou que não sabia que os pedidos do presidente Donald Trump para a reabertura da investigação envolvendo a empresa ucraniana Burisma visavam, na verdade, a família de Joe Biden.
Volker depôs nesta terça-feira (19) perante a Câmara dos Deputados, onde tramita a fase inicial do impeachment contra Trump.
O processo foi aberto após o conteúdo de um telefonema entre o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e o americano se tornar público.
Um dos filhos do democrata Joe Biden, Hunter, atuou como membro do conselho de administração da companhia, enquanto Joe Biden foi vice-presidente durante o governo de Barack Obama e atualmente é um dos líderes da disputa para ser o candidato democrata que enfrentará Trump no pleito de 2020.
A empresa já havia sido investigada pelas autoridades ucranianas, mas Hunter não era o alvo do inquérito. Nunca foi encontrada nenhuma irregularidade envolvendo o filho de Biden.
Os deputados democratas, que têm maioria na Câmara, consideram que as conversas entre Trump e Zelenski configuram um pedido de interferência estrangeira na eleição americana —o que motivou o pedido de impeachment.
“Em retrospecto, eu deveria ter visto essa conexão [entre a Burisma e os Bidens] de outra forma, e, se eu tivesse feito isso, eu teria levantado minhas objeções”, disse Volker.
Ainda nesta terça, dois assessores do governo americano que ouviram o telefonema entre Trump e Zelenski afirmaram à Câmara que o pedido ao presidente ucraniano foi “inapropriado”.
“Sinceramente, eu não acreditei no que estava ouvindo”, disse o tenente-coronel Alexander Vindman, principal especialista em Ucrânia do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
“Meu maior pesadelo do que poderia acontecer nas nossas relações com a Ucrânia estava acontecendo.”
Jennifer Williams, assessora para assuntos relacionados à Rússia do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, disse aos deputados que considerou o diálogo entre os dois líderes atípico e inapropriado porque “envolveu discussões do que pareceu ser um assunto político doméstico”.
O depoimento de Vindman foi marcado por embates entre democratas e republicanos sobre sua credibilidade.
O militar nasceu na Ucrânia, e sua família deixou o país fugindo da União Soviética quando ele tinha três anos. Antes de se juntar à equipe da Casa Branca, Vindman lutou na Guerra do Iraque e foi condecorado por sua atuação.
Enquanto ele participava da audiência na Câmara, a conta oficial da Casa Branca em uma rede social publicou mensagens o atacando.
Vindman também foi alvo de críticas do filho do presidente americano Donald Trump Jr., que escreveu que o assessor era “um burocrata partidário de baixo escalão e nada mais”.
O deputado republicano Jim Jordan confrontou Vindman dizendo que seus chefes haviam questionado sua capacidade de tomar decisões.
Em resposta, o militar leu um trecho de uma avaliação de desempenho de julho na qual seu trabalho foi descrito como “brilhante” e ele foi elogiado por sua “excelente capacidade de tomar decisões”.
Em outro momento, um advogado que representa os deputados do Partido Republicano perguntou a Vindman se ele consideraria fazer parte do governo ucraniano —um assessor de Zelenski fez uma oferta a ele nesse sentido.
O militar respondeu que não se interessaria em uma proposta desse tipo, chamou-a de “cômica” e disse que ele era um cidadão americano.
Trump tem repetidamente atacado as testemunhas que comparecem à Câmara para testemunhar no inquérito do impeachment —na sexta (15), enquanto a ex-embaixadora na Ucrânia Marie Yovanovitch prestava depoimento, o presidente atacou a diplomata dizendo que “todos os lugares em que ela trabalhou pioraram”.
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