Descrição de chapéu The Washington Post

2019 entrará na história como um dos piores anos da família real britânica?

Acidente, denúncia de tráfico sexual e brigas com tabloides marcaram o ano

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Londres | The Washington Post

A rainha Elizabeth 2ª, do Reino Unido, certa vez se referiu ao ano de 1992 como "Annus horribilis", expressão em latim que significa "ano horrível".

"1992 não foi um ano de que me lembrarei com prazer", disse ela durante um discurso marcando o 40º aniversário de sua coroação. Foi um ano em que três casamentos reais desmoronaram, um incêndio destruiu mais de cem aposentos no castelo de Windsor e um escândalo envolvendo Sarah Ferguson, duquesa de York, abalou o Reino Unido e a monarquia.

A rainha Elizabeth 2ª, durante seu discurso de Natal - Steve Parsons/AFP

Agora, 27 anos depois, outro ano turbulento para a família real faz alguns britânicos especularem que 2019 poderá entrar para a história da rainha como "Annus horribilis, parte 2".

"O brexit dividiu profundamente a nação e ainda há muito a se resolver", indagou na segunda-feira (23) o comentarista real Richard Fitzwilliams.

Aqui está uma retrospectiva de alguns fatos que ocorreram durante um ano difícil para a família real inglesa.

Acidente de carro com o príncipe Philip

O ano começou com o marido da rainha, príncipe Philip, dirigindo seu Land Rover e batendo em outro veículo perto da propriedade real de Sandringham. Enquanto o príncipe, que tinha 97 anos na época, se afastou ileso, o outro motorista teve cortes nos joelhos e uma passageira adulta quebrou o pulso. Um bebê no banco de trás não se feriu.

Destroços que eram supostamente da cena do acidente acabaram sendo vendidos no eBay, com a legenda: "Pode até ter o DNA de Phil nele, se você quiser cloná-lo". As ofertas para os fragmentos de plástico chegaram a US$ 84 mil antes que a oferta fosse removida pelo eBay, por "lucrar com o sofrimento ou a tragédia humana".

A colisão provocou um debate na Grã-Bretanha, com muitos perguntando: alguém ainda deve dirigir aos 97 anos? O incidente levou o príncipe a pedir desculpas e depois entregar sua carteira de motorista.

Príncipe Andrew e o escândalo de Epstein

Para o príncipe Andrew, o terceiro filho da rainha e supostamente o favorito, 2019 foi um ano em que o passado voltou para assombrá-lo.

A amizade de Andrew com Jeffrey Epstein, o financista americano que caiu em desgraça e foi condenado por crime sexual, foi questionada mais uma vez quando documentos judiciais não sigilosos trouxeram em agosto uma atenção renovada às reivindicações de uma americana chamada Virginia Giuffre, que diz ter sido "traficada" para Andrew e forçada a ter três encontros sexuais com ele.

Os laços de Andrew com Epstein há muito causam problemas para a família real. E a questão persistiu depois que Epstein, preso por acusações não relacionadas de tráfico sexual, se suicidou em agosto.

Em novembro, o príncipe apareceu na televisão nacional em uma tentativa de limpar seu nome. A entrevista, com Emily Maitlis, da BBC, fez exatamente o contrário e foi considerada uma "explosão nuclear de nível ruim".

"Eu posso absolutamente e categoricamente dizer que isso não aconteceu", afirmou Andrew a Maitlis, sugerindo um álibi duplo: ele estava em casa depois de uma festa da pizza com crianças numa das noites citadas por Giuffre, e ela o descreveu como "suado", mas ele afirmou ter um problema médico que não o deixa suar. "Não me lembro de ter conhecido essa senhora, de jeito nenhum", disse.

A entrevista de 60 minutos deixou muitos observadores atônitos, pois o príncipe se recusou a dizer que lamentava sua amizade com Epstein e não demonstrou simpatia pelas vítimas do americano. Logo depois, organizações beneficentes começaram a se distanciar de Andrew, que havia patrocinado mais de 200 delas.

O príncipe já tinha se afastado dos deveres reais —medida altamente incomum— quando a BBC transmitiu a primeira entrevista de Giuffre na televisão, em dezembro. "Esta não é uma história de sexo sórdida, é uma história de tráfico, uma história de abuso e uma história da realeza de vocês", disse ela, afirmando que foi servida aos amigos ricos e poderosos de Epstein "como um prato de frutas".

Harry e Meghan se enredam com os tabloides

Desde que Meghan Markle começou a namorar o príncipe Harry, em 2016, ela foi frequentemente difamada pela imprensa britânica, com todos os seus movimentos analisados e seus relacionamentos familiares esmiuçados. No ano passado, quando o duque e a duquesa de Sussex fizeram a transição de recém-casados para novos pais, o relacionamento entre o casal real e os tabloides foi especialmente intenso.

Harry e Meghan foram criticados pelo planejamento do nascimento, por quanto gastaram reformando sua casa e pelas despesas e a pegada de carbono de suas viagens. O casal, que sempre manifestou preocupação com as mudanças climáticas, foi acusado de hipocrisia. "Meghan Markle carrega Archie, com 3 meses, enquanto ela e o príncipe Harry pousam no sul da França após seu TERCEIRO passeio de jato privado no verão", escreveu o jornal "Daily Mail" em agosto.

Meghan, além disso, foi acusada nos tabloides de causar uma rixa entre os irmãos William e Harry. E as críticas se amontoaram após a edição de setembro da Vogue britânica, feita por Meghan a convite.

O jornal Sun reclamou que a duquesa supostamente apolítica estava celebrando mulheres com "opiniões esquerdistas", enquanto Piers Morgan, do Daily Mail, a rotulava de "Me-Me-Meghan" e uma autopromotora.

O mais novo membro da realeza também recebeu atenção indesejada, quando um apresentador de rádio da BBC comparou o recém-nascido Archie Harrison Mountbatten-Windsor a um chimpanzé —o que muita gente considerou um insulto relacionado à herança mestiça de Meghan. O apresentador, Danny Baker, foi demitido, mas se defendeu, dizendo que pretendia comparar a realeza com animais de circo.

A realeza, aparentemente, chegou a um ponto de ruptura. Em outubro, Meghan lançou uma ação legal contra o jornal Mail on Sunday por publicar ilegalmente uma carta particular, e Harry condenou publicamente os tabloides por comportamento que, segundo ele, "destrói vidas". Referindo-se à sua falecida mãe, a princesa Diana, Harry disse: "Perdi minha mãe, e agora vejo minha esposa sendo vítima das mesmas forças poderosas".

Em uma entrevista emocionada que foi ao ar logo depois, Meghan falou sobre o preço de ser uma nova mãe sob o olhar dos tabloides. "É uma coisa muito real para estar passando pelos bastidores", admitiu ela. Quando perguntada se a experiência "realmente foi difícil", ela respondeu com um sim moderado.

O casal provocou a simpatia de parlamentares britânicos, de Hillary Clinton e de pessoas tuitando com a hashtag #WeLoveYouMeghan. O presidente Donald Trump, porém, não é um grande fã, e quando soube de algumas das coisas que Meghan disse sobre ele durante sua campanha de 2016, afirmou: "Eu não sabia que ela era desagradável". O tabloide Sun publicou os comentários de Trump em um momento particularmente embaraçoso para a família real: quando a rainha Elizabeth se preparava para receber o presidente americano para uma visita de Estado.

O príncipe Philip, ao deixar o hospital Rei Eduardo 7º, em Londres - Hannah McKay/Reuters

Príncipe Philip hospitalizado

O ano está terminando com o príncipe Philip novamente nas manchetes. O Palácio de Buckingham disse em comunicado na sexta-feira (20) que o marido da rainha, de 98 anos, havia sido internado em um hospital de Londres como "medida preventiva" e que estava passando por "observação e tratamento em relação a uma condição preexistente".

Enfatizando que a situação não era urgente, Philip teria dado entrada no hospital enquanto a rainha continuou seus compromissos previamente agendados. Ele deixou o hospital antes do Natal. E assim segue a realeza, mesmo em um ano que talvez não recordem com grande prazer.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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