Atentado em Londres gera debate sobre como tratar jihadistas presos

Usman Khan havia sido condenado por terrorismo em 2012, mas estava em liberdade condicional

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Londres | Reuters e AFP

Na sexta (29), Usman Khan foi a um evento de aniversário de um projeto que aproximava estudantes de detentos e ex-detentos, para reduzir a reincidência criminal. O encontro teve uma oficina sobre escrita criativa, segundo o jornal The Guardian. 

No evento, realizado ao lado da London Bridge, Khan começou um ataque à faca aos participantes. A ação seguiu para a rua, onde Khan, que estava em liberdade condicional após cumprir pena por terrorismo, foi contido e morto pela polícia. A ação deixou dois mortos.

Uma das vítimas foi um coordenador de curso do programa de reeducação, Jack Merritt, 25. A outra foi Saskia Jones, 23, descrita pela família como uma pessoa que “tinha grande paixão por dar apoio inestimável às vítimas de injustiça criminal”, de acordo com o Guardian.

Ambos estudaram na Universidade de Cambridge.

Merritt ajudou a fazer um podcast voltado a presos, para explicar como funcionam as leis. Pessoas que o conheceram disseram que ele demonstrava grande alegria em ajudar os outros e era muito dedicado a projetos para recuperar ex-detentos por meio da educação.

Em um post no Twitter, o pai de Merritt escreveu: “Meu filho Jack não gostaria que sua morte fosse usada como pretexto para sentenças mais draconianas ou para deter pessoas sem necessidade”.

O ataque desencadeou um debate —incluindo ataques entre os partidos Conservador e Trabalhista— sobre o que fazer com presos condenados por terrorismo, quais os riscos de reincidência nesses casos e como monitorá-los.

O tema entrou no debate eleitoral. O país irá às urnas no próximo dia 12. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e candidato pelo Partido Conservador, defendeu o endurecimento das leis.

Ele propôs que pessoas condenadas por crimes ligados a terrorismo cumpram pena de prisão completa e sugeriu instaurar uma condenação mínima de 14 anos para casos semelhantes. 

Já o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, afirmou que manter presos condenados por terrorismo “depende das circunstâncias” e que ainda há perguntas a serem respondidas sobre o ataque de sexta-feira. 

Esse debate já teve consequências práticas: o Ministério da Justiça britânico anunciou uma revisão urgente das condicionais emitidas para todos presos condenados por terrorismo que foram soltos no Reino Unido.

Ela deve ser aplicada a 70 pessoas. 

O grupo Globsec, que realiza pesquisas sobre política e segurança, examinou os casos de dezenas de jihadistas processados na Europa.

De 199 presos por diferentes crimes relacionados a terrorismo, 45 já haviam sido soltos e outros 113 serão libertados até 2023, segundo um estudo, citado pela CNN.

Usman Khan foi condenado por terrorismo em 2012, sentenciado a um mínimo de oito anos de prisão, com a exigência de que o conselho de liberdade condicional avaliasse seu perigo à sociedade antes de sua soltura.

Khan, porém, foi liberado em dezembro de 2018 sob condicional sem uma avaliação —e estava usando uma tornozeleira eletrônica quando cometeu o atentado. Ele foi morto pela polícia. 

Nove anos antes do ataque, ele teve uma conversa ouvida pelo serviço secreto britânico discutindo como usar um manual da Al Qaeda para fazer uma bomba caseira. 

Foi o trecho da conversa, junto com outras informações de inteligência sobre um plano de realizar um atentado à Bolsa de Valores de Londres, que levou a polícia britânica a prender Khan, então com 19 anos, e um grupo de homens mais velhos.

Quando foi detido, em 2012, ele era considerado perigoso. Mas seu advogado Vajahat Sharif disse que não havia evidências de que ele pudesse ser um reincidente e que, nos últimos anos, demonstrou sinais de que estava se afastando do radicalismo.

Uma carta obtida pela CNN mostra o pedido de Khan para participar de um grupo de “desradicalização". 

A mensagem diz: “Você está ciente do meu crime, que é um crime de terrorismo. Ele está mais relacionado ao que eu pretendia e à mentalidade daquela época, também às visões que eu tinha. O que eu percebo agora, depois de passar algum tempo pensando, é que elas não estavam de acordo com o Islã e seus ensinamentos”. ​

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