Descrição de chapéu Governo Trump

Discurso fatalista marca sessão de impeachment de Trump na Câmara

Presidente da Casa diz que republicano deixou parlamentares sem opção

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Washington

A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, decidiu fazer um discurso fatalista para abrir as seis horas de debate que precederam a votação do impeachment de Donald Trump.

Ao subir à tribuna nesta quarta-feira (18), a democrata afirmou que o presidente americano havia violado a Constituição do país e deixado os parlamentares sem opção.

"Se não agirmos agora, estaríamos abandonando nosso dever. É trágico que as ações imprudentes do presidente façam que o impeachment seja necessário. Ele não nos deu escolha."

 
Manifestante contrário a Trump protesta enquanto parlamentares debatem artigos do impeachment, em Washington
Manifestante contrário a Trump protesta enquanto parlamentares debatem artigos do impeachment, em Washington - Alex Edelman/AFP

Diante de cerca de 180 deputados —150 democratas e 30 republicanos presentes no início da sessão— Pelosi descreveu Trump como "uma constante ameaça à segurança nacional e à integridade das eleições dos EUA."

Foi aplaudida de pé pelos correligionários quando disse que estava ali em defesa da democracia para o povo. Do lado republicano, porém, ninguém se mexeu.

 

Era o começo de uma tarde que parecia ensaiada e de resultados previsíveis, mas que não deixou de contar com algumas performances memoráveis.

A acusação do lado esquerdo do plenário, fisicamente ocupado por democratas, era de que Trump cometeu os crimes de abuso de poder e obstrução dos poderes investigativos do Congresso ao pressionar a Ucrânia a investigar Joe Biden, um de seus principais adversários na disputa de 2020, e ao tentar atrapalhar as investigações depois que o episódio fora descoberto.

Do lado direito, onde ficam os republicanos, a defesa era de que o presidente não cometeu irregularidades e que o processo de impeachment é uma perseguição sem provas ao chefe da Casa Branca.

Os argumentos para defender cada tese passavam, por parte da oposição, pela retórica de que ninguém está acima da lei, nem mesmo o presidente. 

Por parte dos aliados de Trump, era comum ouvir que democratas abusam do poder para tentar destituir o republicano, mas também houve pedido de um minuto de silêncio em homenagem aos eleitores do presidente e citações ao diabo e a Pôncio Pilatos, romano que condenou Jesus à morte, de acordo com o Novo Testamento.

"Desci dentro do ventre da besta. Testemunhei o terror em seu interior. E me comprometo a me opor às forças insidiosas que ameaçam nossa república", afirmou o republicano Clay Higgins, de Louisiana.

Foi seguido por Barry Loudermilk, deputado republicano da Geórgia. "Antes de fazerem esta votação hoje, uma semana antes do Natal, quero que tenham em mente o seguinte: quando Jesus foi falsamente acusado de traição, Pôncio Pilatos deu a Jesus a oportunidade de encarar seus acusadores. Durante esse julgamento vergonhoso, Pôncio deu a Jesus mais direitos do que os democratas deram ao presidente neste processo."

 
Responsável por redigir as acusações contra Trump, Jerry Nadler, que comanda o Comitê Judiciário da Câmara, respondeu: "Foi dado ao presidente a oportunidade de depor e interrogar as testemunhas, mas ele se recusou."
 
O democrata também interveio quando o republicano Chris Stewart disse que a votação desta quarta nada tinha a ver com a Ucrânia, mas sim com o ódio da oposição a Trump.

"Acham que somos estúpidos, que cometemos um erro. Acham que Hillary Clinton deveria ser presidente e querem corrigir isso."

"Gostaria de lembrar ao cavalheiro que, se o presidente Trump sofrer impeachment e for removido do cargo, o novo presidente será [o vice-presidente] Mike Pence, não Hillary Clinton", disse Nadler.
Ouviu um "obrigado" entre risos do lado governista.

Durante toda a tarde, as poltronas de couro marrom da Câmara acomodavam centenas de parlamentares que entravam e saíam do plenário durante os discursos.

As dezenas que escolhiam ficar e ouvir os oradores revezavam-se entre cochichos com os colegas, leituras de papéis impressos e checadas na tela do celular.

Nancy Pelosi passou grande parte do tempo sentada na penúltima fileira do lado democrata. De tempos em tempos, levantava-se para conversar com membros de seu partido.

Uma assessora mostrava seguidas papeladas, que ela checava rapidamente, sem fazer muitos comentários.

Aliados e mesmo adversários dizem que a presidente da Câmara é especialista em angariar votos e só abriu o inquérito contra Trump, em setembro, quando teve certeza de que teria apoio para aprová-lo.

Por muito tempo, a cúpula do Partido Democrata —Pelosi inclusive— resistiu em fazer avançar o impeachment no Congresso.

Sabia que, apesar da aprovação certa na Câmara, o Senado, de maioria republicana, absolveria o presidente.

No início da noite, com o plenário mais cheio às vésperas da votação final, os discursos aconteceram sob ânimos um pouco mais exaltados.

Democratas e republicanos aplaudiam e vaiavam seus colegas de partidos e, algumas vezes, foram interrompidos pela martelada que pedia ordem na Casa.

O líder da minoria, Kevin McCarthy, por exemplo, foi um dos que arrancou palmas entusiasmadas dos republicanos.

"Esse é o mais partidário e menos crível impeachment da história americana", afirmou.
Seu oponente, o líder da maioria Steny Hoyer, disse sob risos dos governistas e aplausos da oposição que os democratas "não escolheram esse impeachment."

"Nós votamos contra isso. Votamos contra isso uma vez, duas, três vezes até julho. Não queríamos isso. Mas a conduta imprópria do presidente Trump forçou nossa república a proteger a si mesma."

A sessão desta quarta começou por volta das 9h (11h de Brasília), com a tentativa frustrada dos republicanos de adiarem a votação —foram 226 votos a 188 contra a medida.

Antes da chancela às regras do processo, assessores avisavam aos deputados democratas que mais republicanos estavam a caminho do plenário e aconselhavam que eles não deixassem o local.

Dos 431 deputados da Câmara, 233 são democratas e 197, republicanos. Um se declara independente e há quatro vagas em aberto.

John Shimkus, deputado republicano de Illinois, não vai votar porque está visitando o filho na Tanzânia. Disse que avisou a Trump que a viagem estava marcada desde antes da votação ser agendada na Câmara e que não apoiaria o impechment caso estivesse na Casa.

A maioria simples, de 216 votos se todos os parlamentares estiverem presentes, seria suficiente para aprovar o impeachment de Trump nesta quarta, mas não para tirar o presidente da Casa Branca.

O processo ainda seguirá para o Senado, de maioria republicana, que conduzirá uma espécie de júri para chancelar ou não a acusação dos deputados.

Ali, são necessários 2/3 dos votos para tirar o presidente do cargo —cenário remoto, visto que os republicanos têm 53 dos 100 senadores da Casa.

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