Descrição de chapéu Brexit

'Doze trabalhos de Boris' incluem manter a paz e o reino unido

Vitorioso nas eleições, premiê precisará resolver uma série de problemas para entregar o brexit

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São Paulo

Ganhar a eleição britânica de lavada foi uma façanha, mas o primeiro-ministro Boris Johnson ainda tem muito trabalho pela frente.

Veja uma lista de problemas que ele encontrou para resolver quando acordou na segunda-feira (16), primeiro dia útil depois da confirmação de que o Partido Conservador levara 365 das 650 cadeiras 
do Parlamento britânico.

1. Aprovar o acordo de retirada no Parlamento

É a primeira e mais fácil tarefa da lista. O líder conservador conquistou ampla folga no pleito —39 cadeiras além da maioria. Projeto deve ser votado na sexta (20).

O acordo de divórcio

  • Tira os britânicos da EUA, mas dá início a um período de transição, que precisa ser concluído até dez.2020
  • Parlamento não pode pedir adiamento, exceto se o governo o fizer até o fim de julho
  • Termos definem áreas em que a Corte Europeia poderá atuar no Reino Unido e aquelas em que o acordo se sobrepõe às leis britânicas
  • Regula a alfândega entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte
  • Estipula indenizações à UE pelo divórcio

Aprovado pelos 27 membros da UE, acordo precisa do aval dos britânicos e do Parlamento Europeu antes de 31 de janeiro de 2020, data final do brexit.

2. Negociar um acordo comercial com a UE

Tarefa espinhosa, principalmente porque Boris pretende finalizá-lo até o fim de 2020. Negociadores experimentados falam em 2 a 7 anos.

Especialistas aventam a possibilidade de que, se insistir em manter o prazo, Boris recorra a um “recorta e cola” do acordo de livre comércio assinado em 2017 entre Canadá e Europa.

O Reino Unido precisa negociar também suas relações com a UE em áreas como defesa, direitos humanos, ambiente, Justiça e regulação. Todos os acordos com a União Europeia devem estar concluídos em 2025, segundo negociadores.

3. Resolver a questão da pesca

As relações podem ficar tempestuosas com países como França, Espanha e Dinamarca, que insistem que suas empresas mantenham o acesso a águas britânicas e que haja livre comércio de produtos pesqueiros entre os dois lados do canal da Mancha.

4. Evitar a fuga de corporações financeiras

Com uma forte presença no Reino Unido, o setor financeiro está inquieto. Executivos dizem que o governo está dando pouca importância ao tamanho do impacto nos negócios.
Um dos temores é a fuga de várias sedes financeiras de Londres para metrópoles de outros países, principalmente a Alemanha, onde fica o Banco Central Europeu. Dados recentes mostram que subiu o preço dos terrenos em Frankfurt, o que poderia ser um indício desse êxodo.
Consultoria, educação, turismo, economia criativa e laboratórios farmacêuticos também são setores em que o Reino Unido tem vantagens competitivas, e o governo britânico deve tentar protegê-los.

5. Manter a paz  na Irlanda do Norte

Incertezas sobre se haverá ou não barreiras alfandegárias entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte têm deixado insatisfeitos os representantes da região, marcada por anos de conflitos sangrentos.

Embora o texto do acordo negue essa possibilidade, trabalhistas divulgaram um documento do governo que diz que será impossível fiscalizar o trânsito de produtos

Isso porque, apesar de a Irlanda do Norte continuar legalmente sendo parte do território britânico no que se refere a aduanas, na prática vai se manter na união aduaneira europeia e seguir regras tributárias da UE por quatro anos.

6. Bloquear o movimento separatista escocês

Logo após sua vitória, Boris telefonou para a líder do SNP, o partido nacionalista escocês, Nicola Surgeon, e reiterou sua intenção de não permitir cisões no Reino Unido.

Nicola arrebatou 13 cadeiras a mais dos distritos escoceses do que em 2017 e prometeu propor um novo referendo ainda neste mês.

Em 2014, a escolha pela permanência no Reino Unido venceu na primeira consulta —continuar na UE pesou no resultado. Com o brexit, as cartas voltaram a se embaralhar. Apesar do sucesso eleitoral, porém, a líder do SNP não tem um caminho suave pela frente. 

Separar-se de um Reino Unido pós-brexit levará a Escócia a um longo processo para entrar na UE —terá de enfrentar a oposição de países que sofrem com movimentos separatistas, como a Espanha, que temerão incentivar seus próprios rebeldes.

7. Fechar o acordo comercial com os EUA 

Na campanha, Boris acenou que poderia apertar as mãos de Donald Trump sobre um acordo de comércio no curto prazo, mas analistas veem muitas arestas políticas a serem amparadas nos dois países.

Uma saída pode ser a de negociar acordos menores, para reger a facilitação de vistos e a imigração de trabalhadores qualificados, por exemplo. 

Uma das possibilidades é a adesão à Parceria Trans-Pacífica, o terceiro maior bloco econômico do mundo.
O fato de que o Reino Unido não é banhado pelo oceano Pacífico é contornável: o Japão já deixou claro que vê com bons olhos a candidatura.

8. Dar corpo ao Reino Unido Global 

Fora da União Europeia, a influência diplomática britânica perderá força, tornando o país mais vulnerável a pressões das duas grandes potências globais: EUA e China.

O governo precisará ir além dos acordos comerciais e estabelecer relações políticas valiosas com os antigos parceiros de bloco.

Também precisará se firmar como uma potência média, ao lado de países como Japão, Coreia do Sul, Canadá e Austrália. O fato de que continuará membro do Conselho de Segurança da ONU deve ajudar.

9. Recuperar a infraestrutura 

Rompendo a tradição conservadora de conter gastos e investimentos públicos, Boris prometeu investimentos altos nos próximos cinco anos de governo, e a fatura já começou a ser cobrada dentro de seu próprio partido.

Na terça (17), parlamentares da região centro-norte britânicas visitaram o premiê e pediram prioridade para as áreas de transporte e habitação.

As baixíssimas taxas de juros na Europa e no mundo em geral, que facilitam e barateiam empréstimos tomados pelo governo, devem ajudar Boris.

Além disso, o premiê já mostrou que gosta de grandes e vistosas obras quando foi prefeito de Londres, e agora pode juntar a fome com a vontade de comer.

10. Contratar 50 mil enfermeiros  

A queda na qualidade do sistema público de saúde britânico, o NHS, foi um dos principais temas dessa campanha. 

Sua face mais visível é a falta de enfermeiros. Só na Inglaterra, há mais de 40 mil vagas abertas. Outros 10 mil postos de médicos estão desocupados.

O NHS é uma das instituições mais respeitadas pelos britânicos e está no dia a dia dos eleitores de classe média, que votaram em grande parte nos conservadores.

Um obstáculo nessa tarefa é que as regras de imigração devem mudar no Reino Unido, o que pode dificultar a entrada de profissionais de saúde europeus. Boris já prometeu criar um visto especial para eles.

11. Cicatrizar as feridas do brexit 

“Vamos deixar o período de cicatrização começar”, pediu Boris Johnson em seu primeiro discurso como premiê na última sexta (13). A preocupação tem razão de ser. 

Desde o referendo de 2016, em que o brexit saiu vitorioso por 52% a 48%, a sociedade tem estado dividida.

12. Renovar seu eleitorado

Já faz algum tempo que analistas políticos sugerem que não são mais as classes sociais que determinam a afinidade partidária, mas a idade —e isso tem bastante a ver com o brexit. 

Britânicos de até 40 anos formam a ‘geração Erasmus’ em referência ao programa de intercâmbio de estudantes europeus criado em 1987. 

Esses jovens cosmopolitas querem continuar europeus e não compraram a ideia do brexit conservador.
Com a página virada, resta saber o que Boris Johnson fará para atraí-los.

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