Presidente da Colômbia afasta chefe do Exército envolvido no caso dos falsos positivos

General integrou um dos batalhões acusados de matar civis para cumprir meta de caça a guerrilheiros

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Bogotá | AFP

O presidente da Colômbia, Iván Duque, destituiu do comando do Exército, nesta sexta-feira (27), o general Nicacio Martínez, questionado pela oposição e por organizações internacionais por execuções extrajudiciais de civis praticadas por tropas sob seu comando. 

"Tivemos uma conversa profunda [...] e,depois tomamos a decisão de que o general Nicacio de Jesús Martínez deixará o comando do Exército", afirmou Duque em comunicado na Casa Presidencial de Nariño. 

Nicacio de Jesús Martínez Espinel bate continência
Nicacio de Jesús Martínez Espinel deixou o cargo de comandante-chefe Exército Nacional da Colômbia nesta sexta (27) - Luisa Gonzalez - 7.jun.2019/Reuters

Cercado pela cúpula das forças de segurança, incluindo Martínez, o presidente disse que o general deixa a posição que assumiu em janeiro de 2019 a seu pedido por "razões familiares". 

O também general Eduardo Zapateiro será o novo chefe do Exército. Ele liderou em 2008 a operação que resultou na morte do guerrilheiro das dissolvidas Farc, o comandante Raul Reyes, no território equatoriano, o que causou tensões diplomáticas com o então governo de Rafael Correa.

Promovido a general de quatro estrelas pelo Senado em junho, Martínez é apontado por organizações internacionais, como a Human Rights Watch (HRW), de comandar um batalhão investigado por assassinatos de civis e ligações com paramilitares de extrema-direita. 

Desde maio, ele é alvo de uma investigação disciplinar do gabinete do Procurador-Geral, que monitora funcionários públicos, após a publicação de um artigo naquele mês no jornal The New York Times que denunciou incentivos dentro do Exército que colocariam em risco a vida de civis. 

"Nicacio Martínez deixa o Exército, ele nunca deveria ter alcançado essa posição, ele tem muitas respostas pendentes diante do país", escreveu a ex-congressista da oposição Angela Maria Robledo em uma rede social.

Falsos positivos

Na década de 2000, durante a gestão do presidente Álvaro Uribe (2002-2010), as Forças Armadas passaram a distribuir premiações em dinheiro, promoções e outros benefícios para os oficiais que apresentassem grande eficácia na eliminação de guerrilheiros.

Para receber esses prêmios, alguns militares mataram civis e os disfarçaram de combatentes em cenários montados para simular os conflitos. 

Em 2008, porém, uma operação do tipo, em Soacha, perto de Bogotá, foi desmascarada. Familiares de 19 jovens assassinados denunciaram os militares responsáveis pelas mortes dos garotos, mostrando evidências de que eles não faziam parte de organizações armadas.

A partir de então, centenas de denúncias similares passaram a surgir. Até 2018, o número oficial de mortos desses chamados “falsos positivos”, segundo a Justiça, era de 2.000 civis, a maioria camponeses ou moradores de pequenas cidades do interior, entre eles indígenas e crianças

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