Mais do que vice, Cristina Kirchner terá atuação no Congresso e em nomeação de juízes

Ex-presidente da Argentina assume cargo nesta terça-feira (10)

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Buenos Aires

Muito se discutiu sobre qual será a atuação de Cristina Kirchner em sua volta ao poder na Argentina, agora na condição de vice do presidente eleito, Alberto Fernández.

Agora, prestes a assumir o cargo, no final da manhã desta terça-feira (10), o cenário está delineado. A ex-mandatária terá função estratégica junto ao Congresso e aos ministérios e também coordenará a relação do Executivo com as províncias, responsabilidade que concedeu a si mesma.

Segundo a lei argentina, o vice-presidente comanda as sessões do Senado. Cristina, porém, fará um pouco mais do que isso. Assim como designou Fernández para ser o candidato a presidente em sua chapa, ela e seu grupo montaram as listas de candidatos à Câmara de Deputados e ao Senado.

A então candidata a vice-presidente Cristina Kirchner durante comício da campanha eleitoral em Mar del Plata
A então candidata a vice-presidente Cristina Kirchner durante comício da campanha eleitoral em Mar del Plata - Juan Mabromata - 24.out.19/AFP

Em ambas as Casas, o peronismo terá maior número de vagas, reforçadas pela virada de lado de três congressistas da aliança de Macri (Juntos por el Cambio), que se aliaram ao bloco governista.​

Na Câmara de Deputados, terá como líder da bancada Sergio Massa, que foi chefe de gabinete no primeiro mandato de Cristina e abdicou da candidatura presidencial neste ano para apoiar a chapa kirchnerista.

Outro com papel importante será Máximo Kirchner, filho de Cristina e líder da agrupação La Cámpora, que contará com representantes em postos-chave —como no ministério do Interior, a ser ocupado por Eduardo "Wado" de Pedro.

Massa e Máximo garantem a influência de Cristina em duas comissões estratégicas no Congresso. Na do orçamento do país, a vice-presidente eleita terá como influenciar os repasses para as províncias, o que a coloca como operadora política de Fernández junto aos governadores.

A outra área na qual Cristina terá acesso direto é a da designação de juízes. Uma reforma, de 2017, passou a exigir aval do Congresso para algumas nomeações, como em caso de falta dos magistrados ou de substituição dos titulares. Esse ponto é crucial, uma vez que ela é investigada em nove casos de corrupção. Ainda há outros processos que envolvem líderes kirchneristas.

No gabinete de ministros, há nomes leais à ex-presidente, como Agustín Rossi (Defesa), Felipe Solá (Relações Exteriores), Mercedes Marcó del Pont (Receita Federal), além de Eduardo "Wado" de Pedro (Interior).

A decisão de colocar Martín Guzmán como ministro da Economia se deu, também, por insistência de Cristina, uma vez que é seguidora do ganhador do Nobel Joseph Stiglitz, padrinho do escolhido.

Foi ela quem deu a palavra final entre os que disputavam a vaga.

Portanto, quando Cristina subir nesta terça ao palco da Praça de Maio, o fará não apenas como quem assume o cargo de vice-presidente. Será também a líder do peronismo dentro do atual governo.

Por mais que tenha havido um entendimento entre ela e Fernández sobre quem aparece em primeiro plano e quem atua nos bastidores, basta olhar as decisões dessas últimas semanas para que fique claro que Cristina será bem mais do que uma vice-presidente neste governo.

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