Suspeitos de estuprar mulher são mortos pela polícia durante reconstituição do crime na Índia

Caso gerou grandes protestos no país, onde casos seguem ocorrendo mesmo após endurecimento das leis

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Hyderabad (Índia) | Reuters

Uma veterinária de 27 anos foi estuprada e morta por uma gangue na semana passada em Hyderabad, no sul da Índia. O caso gerou grandes protestos pelo país nos últimos dias. Nesta sexta (6), a polícia matou quatro homens acusados de terem cometido o crime, durante a reconstituição do ataque.

Segundo a polícia, eles tomaram armas dos agentes e tentaram fugir. Houve então uma troca de tiros e os quatro morreram. Dois agentes ficaram feridos. 

Policiais em área da reconstituição da crime, onde os suspeitos foram mortos, em Chatanpally, na Índia - Ranadheer Bakkannagari/Reuters

No dia do ataque, a veterinária, cujo nome não foi revelado, havia saído de moto para um compromisso e, logo depois, ligou para sua irmã para dizer que seu pneu havia furado. Ela contou que um motorista de caminhão havia oferecido ajuda e que ela estava esperando perto de um pedágio.

A polícia disse que ela foi levada à força para outro lugar, estuprada e asfixiada. Em seguida, seu corpo foi deixado na periferia de Hydebarad.

Quatro homens, Mohammad Areef, Jollu Shiva, Jollu Naveen, e Chintakunta Chennakeshavulu, foram presos pela suspeita de participação: dois motoristas e dois limpadores de caminhão, com idades entre 20 e 26 anos. Eles foram levados à cena do crime para reconstituir o que houve, na madrugada desta sexta (6), quando foram mortos.

As autoridades não detalharam se eles estavam algemados ou atados uns aos outros, como é comum nesse tipo de situação, e deu versões diferentes sobre o horário da morte. Inicialmente, disse que teria ocorrido às 3h30 na hora local. Depois, informou que foi às 6h. 

A polícia da Índia é frequentemente acusada de assassinar suspeitos, em situações chamadas de "encounters" (encontros), especialmente em regiões como Mumbai, Punjab e Caxemira. Guardas envolvidos nessas mortes são chamados de "especialistas em encontros" e foram retratados em vários filmes.

A família celebrou a morte dos suspeitos. "Faz dez dias que minha filha morreu. Expresso minha gratidão à polícia e ao governo por isso. A alma da minha filha deve estar em paz agora", disse o pai da vítima.

Uma pequena multidão foi ao local onde ocorreram as mortes e jogou pétalas de flores aos policiais. Alguns gritaram "longa vida à polícia". 

A ação também foi elogiada nas redes sociais. O termo #encounter se tornou um dos mais falados do mundo no Twitter.

Houve também críticas à ação. "Isso não é Justiça. É a ausência de Justiça. Nós não vamos deixar as mulheres mais seguras ao abandonar o uso da lei", disse Rukmini S., colunista na Índia.

Vrinda Grover, advogada e ativista dos direitos humanos, disse que os agentes envolvidos nas mortes deveriam ser alvo de um inquérito, mas que é muito provável que eles sejam homenageados com medalhas. "Matar acusados é como um atalho, mas ao final isso não vai funcionar", disse.

O premiê Narendra Modi não comentou o caso. 

Os crimes contra as mulheres seguem sendo cometidos em larga escala na Índia, apesar do endurecimento das leis realizado a partir de 2012, quando o estupro de uma jovem em um ônibus gerou forte comoção no país.

Apesar das mudanças, os casos seguem avançando lentamente na Justiça, devido à falta de testemunhas e a falta de conhecimento legal das famílias para seguir com os processos. 

Há também muitos casos de vítimas e de famílias que foram atacadas por processar homens poderosos, ligados à política local.

A polícia registrou mais de 32 mil casos de estupro em 2017. No entanto, apenas 18.300 deles foram avaliados pela Justiça. No fim de 2017, havia quase 130 mil casos de estupro aguardando avaliação.

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