Protestos contra uma nova lei de cidadania da Índia baseada na religião se espalharam por universidades nesta segunda-feira (16), e críticos disseram que o governo hindu nacionalista está tentando impor uma pauta partidária que se choca com a fundação do país como República secular.
Estudantes lançaram pedras contra policiais que trancaram os portões de uma universidade da cidade de Lucknow, no norte indiano, para tentar impedi-los de ir às ruas. Cerca de duas dezenas de alunos de outra universidade da cidade conseguiram escapar do bloqueio e ir protestar.
A revolta contra o governo do primeiro-ministro Narendra Modi foi atiçada por alegações de brutalidade policial na universidade Jamia Millia Islamia, no domingo (15), quando policiais entraram no campus da capital, Nova Déli, e dispararam gás lacrimogêneo para interromper um protesto. Ao menos cem pessoas ficaram feridas.
Houve cenas semelhantes na universidade muçulmana Aligarh, de Uttar Pradesh, no norte do país, em que a polícia também entrou em confronto com manifestantes.
Segundo a lei aprovada pelo Parlamento na semana passada, membros de minorias religiosas, como hindus e cristãos, vindos de países vizinhos como Bangladesh, Paquistão e Afeganistão e que se estabeleceram na Índia antes de 2015, poderão pleitear cidadania por enfrentarem perseguição nos seus lugares de origem.
No entanto, a nova lei não oferece a mesma proteção para muçulmanos. Para os críticos, isso enfraquece os fundamentos seculares indianos.
O diretor da Jamia Millia exigiu que se investigue como a polícia conseguiu entrar no campus. "Não é de se esperar que a polícia entre na universidade e espanque os estudantes", disse Najma Akhtar.
Estudantes contaram que a polícia disparou gás lacrimogêneo e que janelas da biblioteca foram quebradas. Eles se protegeram debaixo das carteiras e apagaram as luzes, por orientação dos professores.
Centenas de pessoas se reuniram diante da sede da polícia de Nova Déli para protestar contra a suposta brutalidade policial e a detenção de alunos. A polícia disse ter agido com moderação.
Rahul Gandhi, líder do Congresso, o principal partido da oposição, disse que o governo Modi está dividindo a sociedade indiana por causa desta lei e que planeja lançar um registro nacional de cidadania.
"A melhor defesa contra essas armas sujas é a satyagraha pacífica e não violenta", disse ele em um tuíte, referindo-se à estratégia de resistência política passiva defendida pelo líder da independência Mahatma Gandhi.
O governista Partido Bharatiya Janata, do premiê Modi, nega qualquer viés religioso. Segundo ele, a nova lei visa ajudar os grupos minoritários que enfrentam perseguição nos três países muçulmanos próximos.
Modi disse que a lei foi aprovada pelo Parlamento e não há como voltar atrás. Ele disse em uma manifestação no domingo que a decisão está "1.000% correta".
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