Rota de avião chileno desaparecido é conhecida por instabilidade climática

Trajeto também apresenta poucas opções para pousos de emergência, diz piloto

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Lisboa

O avião da Força Aérea chilena desaparecido desde a noite de segunda (9) operava em uma rota conhecida pela instabilidade climática, ventos fortes e poucas opções para pousos de emergência, diz o piloto brasileiro Edmundo Ubiratan.

Ubiratan, que escreve para revistas especializadas em aeronáutica, já fez duas vezes, como passageiro, o trajeto entre Punta Arenas, no sul do Chile, até a base aérea Eduardo Frei Montalva, na península Antártida.

“São poucas as margens para um pouso de emergência. Na região de Magalhães [perto de onde o avião desapareceu], as montanhas são altíssimas”, explica.

O ministro da Defesa do Chile, Alberto Espina, ao centro, chega à base aérea de Punta Arenas para coordenar os trabalhos de busca do avião militar desaparecido
O ministro da Defesa do Chile, Alberto Espina, ao centro, chega à base aérea de Punta Arenas na terça (10) para coordenar os trabalhos de busca do avião militar desaparecido - Joel Estay/AgenciaUno via Xinhua

“Os estreitos também são muito cheios de curvas, não se consegue colocar um avião, não tem espaço adequado para um pouso de emergência.”

A instabilidade meteorológica e as fortes rajadas de vento adicionam dificuldades adicionais aos voos com direção à Antártida.

Antes de decolar, as aeronaves aguardam a chamada “janela” de condições climáticas. Mesmo obedecendo a esse critério, os ventos são tão instáveis que a chegada à Antártida não está garantida.

É comum que os aviões precisem voltar aos aeroportos de origem devido às más condições para o pouso.

O avião desaparecido é do modelo Hércules C-130, considerado um dos mais seguros do mundo. Apesar de ter quatro motores, a aeronave foi projetada para conseguir operar mesmo com apenas um deles em funcionamento.

“O Hércules foi feito como um avião militar para missões táticas. É aquela aeronave que, num contexto de guerra, vai operar baixo e vai para a zona de combate”, conta Ubiratan.

Com 38 pessoas a bordo, o avião chileno decolou às 16h55 (mesma de Brasília) e perdeu comunicação por rádio às 18h13.

A comunicação foi perdida quando o avião sobrevoava o mar de Drake, uma passagem marítima entre o continente americano e a Antártica, considerada uma das mais tempestuosas do planeta.

A Força Aérea chilena trabalha com a possibilidade de que o C-130 tenha pousado no mar, uma vez que o modelo também foi projetado para realizar esse tipo de manobra.

O problema é justamente a região em que o pouso poderia ter acontecido. Cheia de tempestades e ondas que facilmente superam cinco metros, o Drake é apelidado de "o pior mar do mundo" mesmo por quem tem experiência em navegação.

A Marinha brasileira, por exemplo, confere um certificado para quem completa a travessia. Já quem cruza o Drake ao menos três vezes a bordo de um navio da Marinha brasileira ganha um broche especial.

“As ondas são muito grandes e, se você conseguir pousar, é possível que nunca mais te encontrem. Porque muda tanto a corrente marítima que o vento vai espalhando todas as peças. É muito difícil alguém sobreviver a um pouso no Drake”, avalia o piloto.

O avião foi declarado como danificado após sete horas do incidente. Segundo a FACH, o C-130 tinha combustível para permanecer no ar até 0h40 de terça-feira.

Embora a aeronave possua o dispositivo ELT (transmissor de localização de emergência), que informaria sua posição por satélite em caso de avaria, o sistema ainda não permitiu localizar a aeronave.

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