O sargento Felixon Musa está de pé, com os braços erguidos, na frente de um grupo de cem soldados de Serra Leoa, orientando-os num exercício de ioga que ele considera tão importante quanto qualquer treino com armas.
Ele aprendeu os movimentos com um professor de ioga que morreu na epidemia de ebola na África Ocidental em 2014.
Determinado a manter vivas as técnicas de seu professor, ele convenceu seus superiores no Exército a oferecer sessões regulares de treinamento para ajudar os soldados a lidar com os traumas causados pelo surto da doença mortal e outros desastres, incluindo a guerra civil de 1991 a 2002.
"Ioga não é sobre o passado, mas sobre viver no momento presente", disse Musa. "Você tem que deixar tudo no tatame. O ebola, a guerra, todas essas coisas passaram e, através do ioga, estamos aprendendo a esquecê-las."
Entre os instrutores de ioga do exército em Freetown está o cabo Michael Kargbo, que entrou pela primeira vez em 2014 para tentar lidar com seu passado de criança-soldado.
Os rebeldes o sequestraram quando ele tinha 12 anos e o forçaram a lutar na guerra civil, conflito que matou 50 mil pessoas e deixou feridas duradouras na psique do país.
"Eu fiquei com eles até crescer", disse Kargbo. "Continuei lutando com eles, aumentando os traumas, matando pessoas inocentes."
Após a guerra, Kargbo tentou seguir sua vida. Juntou-se ao exército regular e começou a lutar boxe, mas as lembranças o assombraram até que experimentou o ioga.
"Isso me fez passar de uma pessoa cheia de traumas para alguém que não se incomoda mais com o trauma —uma pessoa de verdade."
No próximo ano, Musa pretende oferecer o curso de ioga para equipes de emergência e funcionários de hospitais.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.