Descrição de chapéu The Washington Post

Trabalhadores que ajudaram a construir megacidade chinesa morrem de doenças pulmonares

Houve ameaça de suicídio coletivo em Shenzen, que tem ao menos 600 ex-operários doentes

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Gerry Shih
Leiyang (China) | Washington Post

Doente e arrasado, Xu Chunlin se aproximou da grade do viaduto, o limite de sua busca por justiça. À frente havia um mergulho de 10 metros no tráfego da hora do rush em Shenzen. Atrás dele estava a polícia com quem acabara de entrar em conflito. No viaduto havia mais cerca de 80 ex-trabalhadores da construção, considerando a mesma opção desesperada.

Saltariam agora? Ou esperariam para morrer quando seus pulmões parassem de funcionar?

A jornada que os levou a essa ponte começou no início dos anos 1990. Os homens eram jovens e saudáveis, trabalhadores migrantes de olhos arregalados, vindos da província rural de Hunan. Shenzen era uma cidade suja, mas promissora, na fronteira sul —ainda não o centro cosmopolita atual, com 12 milhões de habitantes—, aonde foram em busca de empregos sem registro como perfuradores.

Muitos hunanenses trabalharam durante anos, até décadas, perfurando o subsolo rochoso para construir linhas de metrô e as fundações de toda a paisagem urbana de Shenzen. Mas eles não sabiam que as máscaras simples de algodão que recebiam eram inadequadas, ou que inalar o pó de sílica que cobria seus rostos quando as furadeiras rasgavam a crosta de granito causava danos irreversíveis.

Wang Quanlong foi um dos 80 trabalhadores doentes que ameaçou se suicidar caso as autoridades de Shenzen não pagassem uma compensação pela sua doença - Gerry Shih para The Washington Post

Mais de cem ex-trabalhadores de Hunan morreram na última década de silicose, doença incurável causada por partículas de poeira inaladas que cicatrizam e endurecem os pulmões.

Cerca de 600 estão sofrendo ou morrendo lentamente, segundo líderes de grupos de trabalhadores. Três comunidades carentes em Hunan que sobreviveram com seus ganhos, e até progrediram, agora estão atoladas em dívidas e luto, enquanto os trabalhadores sobreviventes gastam suas pequenas poupanças e energia para pedir indenizações.

A vida dos perfuradores de Hunan acompanha as realidades divergentes da China.

Uma história se reflete nos brilhantes arranha-céus que eles construíram, o cenário para uma próspera classe média de 400 milhões de pessoas que vivem nas cidades chinesas e impulsionam sua economia. Outra história é enquadrada pela luta: uma vasta subclasse rural ainda trabalha em condições perigosas, sem documentação ou meios para buscar reparação, a não ser em confronto com o governo.

Quarenta anos depois que a China se afastou de seu sistema socialista —e da promessa de cuidar do trabalhador do berço até o túmulo—, o país está resolvendo questões difíceis acumuladas na corrida para a modernidade.

Quem se beneficiou e quem sofreu? Quem deve ser indenizado e quem deve pagar?

Desde o início de 2018, os perfuradores doentes de Hunan, liderados por Xu e outros, viajaram mais de uma dúzia de vezes a Shenzen para pedir ajuda. No início de novembro de 2018, centenas deles ocuparam um centro do governo antes que a polícia os dispersasse com cassetetes e spray de pimenta, prejudicando ainda mais seus pulmões frágeis.

Foi durante esse impasse —de acordo com relatos de quatro manifestantes, de ativistas e dos noticiários— que os trabalhadores encurralados pela polícia em um viaduto ameaçaram se suicidar em massa atirando-se numa rodovia de oito faixas.

Xu, um dos líderes do protesto naquela noite, disse que estava pronto para morrer pela causa. Mas ele também se sentia responsável por esses homens, como explicou mais tarde. Ele foi um dos primeiros hunanenses a trazer vizinhos da aldeia para Shenzen nos anos 1990, desencadeando uma série de sucessos e tragédias que se desenrolaria durante 25 anos.

De pé naquele viaduto, disse Xu, ele gritou para os homens se afastarem da borda e da loucura. Mantenham a calma, disse a eles, e lutem mais um dia.

"A China é como um carrinho. Ela não avançará se você não empurrar", disse ele mais tarde. "Se você não tiver medo de morrer, pode realizar qualquer coisa neste país."

Barrancos profundos de arenito esculpido cruzam o condado de Sangzhi, uma parte da província de Hunan com pouca indústria ou mesmo agricultura. Mas casas de vários andares com balaustradas em estilo europeu bordejam a estrada vicinal 420. Elas são a recompensa por trabalhar em cidades como Shenzeen —e monumentos ao esforço humano.

"Todo mundo constrói uma casa grande e depois não há ninguém para morar nela", disse Gu Zhongping, um ex-perfurador, enquanto dirigia, apontando casas onde um ex-trabalhador de Shenzhen estava morrendo ou já tinha morrido.

Gu Hejian, na casa com cartazes vermelhos para o casamento de seu filho, não espera viver muito mais. Zhong Yichuan, que morava nos fundos de uma loja de esquina, morreu dois anos atrás. Wang Zhaogang morreu em abril e foi enterrado por dez trabalhadores doentes que contavam os próprios dias.

Mais de 26 ex-perfuradores do condado de Sangzhi morreram de doença pulmonar desde 2009, segundo os moradores. Eles dizem que as mortes estão se acelerando, com cerca de cem outras pessoas gravemente doentes. Em outros dois municípios de Hunan, Leiyang e Miluo, cerca de 500 moradores que trabalharam em Shenzen foram diagnosticados, segundo representantes dos trabalhadores.

Não há números oficiais disponíveis, mas um documento da administração de Hunan, encontrado on-line, apoiou as reivindicações dos moradores. Um exame de saúde de 2017 mostrou que 290 moradores, principalmente em Sangzhi, tinham silicose.

As doenças pulmonares relacionadas ao trabalho mantiveram-se estáveis ou diminuíram nos países desenvolvidos, à medida que empregos como a mineração de carvão diminuíam e os padrões de segurança aumentavam. Na China, os casos estão proliferando.

Em 2018, cerca de 873 mil trabalhadores chineses tiveram pneumoconiose, uma ampla classe de doença pulmonar, contra 559 mil em 2000, segundo a Comissão Nacional de Saúde da China. A Love Save Pneumoconiosis, organização beneficente de Pequim, estima que o número real de pacientes seja muito maior, possivelmente perto de 6 milhões.

As autoridades chinesas, que estão elaborando novos planos para estudar a crise, dizem que 23 milhões de trabalhadores correm o risco de contrair a doença —muito mais que os 11,5 milhões de trabalhadores em risco na Índia, 2 milhões nos Estados Unidos e 1,7 milhão na Europa, segundo estimativas de autoridades de saúde e pesquisadores.

Os trabalhadores que inalam poeira e pequenos cristais minerais encontrados nas rochas e na areia não sentem os sintomas imediatamente. Mas ao longo de meses, às vezes décadas, as partículas alojadas causam danos devastadores.

Caminhar, e até falar, torna-se difícil. Deitar de costas provoca a sensação de asfixia, por isso a maioria dos pacientes dormem sentados ao lado de uma pequena máquina de oxigênio. Nos últimos estágios, apresentam chiado forte, grande perda de peso, crises frequentes de resfriado e febre. Pneumonia e tuberculose podem facilmente se tornar fatais. Mais cedo ou mais tarde, os pulmões simplesmente param de funcionar.

Atrás de uma quadra de basquete cheia de lixo que serve como praça da aldeia no condado de Sangzhi, uma médica local, Li Li, observou Cheng Xiangyong, 49, que estava dobrado sobre o sofá em seu consultório, tossindo uma secreção longa e espessa.

"Ele deve ter de um ano e meio a três anos de vida", previu Li, enquanto preparava remédios conhecidos: ambroxol para dissolver o muco, aminofilina para dilatar as passagens aéreas e um antibiótico.

Area central do distruto de Futian, em Shenzen - Tuca Vieira

Três de seus pacientes com silicose morreram recentemente. Trabalhadores doentes não param de chegar. A clínica de um cômodo que ela improvisou numa loja em ruínas não tem remédios, equipamentos ou conhecimento adequados, admite Li.

Mas para os trabalhadores doentes nas montanhas distantes, que precisam de cuidados várias vezes por mês, é melhor que viajar duas horas de carro até um hospital na cidade ou seis horas até Changsha, a capital da província, disse ela.

"Temos tantas pessoas assim", disse Li. "Eu digo a elas para não virem. Não posso cuidar delas. Não posso lidar com o risco."

Enquanto Cheng se agarrava a uma mesa, seus gemidos roucos enchiam a sala. Ele trabalhou em perfuração em Shenzhen intermitentemente durante 13 anos até 2017, quando seus sintomas surgiram. Recentemente, seu peso caiu de 71 quilos para 51.

Cheng sentiu medo de morrer tão depressa quanto seu amigo Gu Erhu, cujos pulmões falharam em 14 de agosto, algumas horas depois que eles conversaram. Cheng preocupava-se por não ter dinheiro para comprar seu caixão, e por deixar sua mulher, Chunyue, e sua mãe de 82 anos de idade para cuidar de si mesmas.

"Vamos conseguir", disse Chunyue, sorrindo do outro lado da mesa. "Não tem outro jeito."

Shenzen tinha 30 mil habitantes em 1980, quando os líderes comunistas da China designaram a cidade como o primeiro laboratório de livre mercado do país. Dentro de décadas, os terrenos agrícolas e os manguezais se transformaram em fábricas de iPhones para o mundo, a quarta maior Bolsa de Valores da Ásia e torres e hotéis para os super-ricos, como as suítes de US$ 4.000 por noite no St. Regis.

A produção econômica de Shenzen aumentou de US$ 4 milhões em 1980 para US$ 340 bilhões em 2018. As autoridades muitas vezes apresentam a cidade como a vitrine da China para o mundo.

Para Xu Chunlin —décadas antes de ele pensar em pular da ponte— , Shenzen foi o caminho para sair do difícil condado de Leiyang, em Hunan.

Com 21 anos, baixo e desnutrido, em 1989, Xu aventurou-se a 800 quilômetros ao sul com quatro irmãos para trabalhar nas obras de Shenzen. Ele voltou para o Ano Novo Lunar com 5.000 iuanes (cerca de US$ 710 em dinheiro de hoje), lembrou, e imediatamente gastou tudo em 1.500 kg de arroz para guardar num celeiro, para que sua família pudesse recuperar pesos corporais saudáveis.

Dentro de quatro anos, Xu estava trabalhando como intermediário. Isso significava apresentar aldeões aos empreiteiros de Shenzen, que reservavam a metade dos postos de trabalho locais para os hunanenses. Às vezes, os empregos valiam US$ 45 mil, o que tornou Xu um homem relativamente rico.

"Todo mundo na vila queria me conhecer porque eu tinha empregos", disse ele, sentado em uma casa de tijolos de três andares que construiu no condado de Leiyang. "Todo chefe em shenzen queria me conhecer porque eu tinha homens."

As equipes de Hunan trabalhavam com britadeiras portáteis e explosivos controlados para escavar o chão, às vezes a 50 metros de profundidade. Então despejavam concreto nas covas, para fazer pilares que suportavam o peso de um edifício.

"Preste atenção e fique seguro", lembrou um trabalhador de Hunan, Zhong Pinxie, que os patrões lhe disseram antes de jogá-lo numa obra, quase sem treinamento. Naqueles primeiros anos, disse ele, recebeu uma simples máscara cônica para cobrir a boca e o nariz. Ele não usava óculos ou tampões nos ouvidos antes de descer por um poço de um metro e meio de largura para trabalhar turnos de quatro horas.

A casa de Wang Quanlong é cheia de remédicos e sacos de oxigênio para aliviarem os sintomas de pneumoconiosis - Gerry Shih para o The Washington Post

​Zhong trabalhou em tantas obras de perfuração que aprendeu a geografia subterrânea de Shenzen. A nova linha de metrô de Luohu serpenteava facilmente pelas rochas porosas. Nas planícies de Nanshan, onde foram construídos shopping centers e a Universidade de Shenzen, a terra com granito levantava poeira espessa.

"Quando a furadeira toca o solo", disse Zhong, "é como um canhão disparando na sua cara."

Foi exatamente isso o que causou os glóbulos opacos que pontilhavam seus pulmões em raios X no ano passado —um sinal revelador de silicose avançada. Mas Zhong não sabia disso na época; poucos sabiam. A educação e a conscientização sobre a segurança do trabalhador eram escassas, e os sintomas de doença pulmonar só apareciam após vários anos.

O intermediário Xu passou para o trabalho administrativo em 2008, quando um engenheiro de construção lhe entregou um documento de uma página sobre pneumoconiose e disse baixinho: "Não trabalhe nisso por muito tempo".

"Pensei que ele devia saber de alguma coisa", disse Xu. "Mas do começo ao fim nenhuma empresa ou governo fez publicidade sobre causa ou efeito."

Em 2009, a silicose estava se tornando difícil de ignorar. Começaram a aparecer relatos na mídia sobre perfuradores subterrâneos doentes. Grupos de trabalhadores de Leiyang passaram a procurar as autoridades de Shenzen, que concordaram em pagar até US$ 15 mil aos que pudessem provar seu emprego.

Mas para a maioria dos perfuradores isso era impossível.

Desde a década de 1980, quando as reformas econômicas da China tiraram os camponeses de suas terras e os enviaram para as cidades em busca de trabalho, quase 300 milhões de trabalhadores migrantes ocuparam uma área jurídica opaca.

Ao abraçar a livre empresa, o Partido Comunista no poder negligenciou os trabalhadores do campo, membros da própria classe que ostensivamente defendia.

Apesar de uma lei de 2008 exigir que todos os empregadores ofereçam contratos escritos, 35% dos trabalhadores migrantes os assinaram em 2016 —número que está caindo, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas da China, que parou de divulgar dados. Uma pesquisa nacional realizada em 2014 pela Love Save Pneumoconiosis descobriu que apenas 7% dos trabalhadores com a doença tinham assinado contratos.

A indústria da construção —setor que responde por um quarto de todas as mortes no trabalho— é conhecida por depender de subempreiteiros chamados "baogongtou", que contratam trabalhadores informalmente, disse Eli Friedman, especialista em trabalho da China na Universidade Cornell. O sistema, segundo ele, "coloca o risco lá embaixo".

O seguro contra acidentes no trabalho também ficou para trás. A China lançou um plano nacional em 2004. Hoje, cerca de 80 milhões de trabalhadores migrantes, ou cerca de 27%, estão cobertos, disseram autoridades em maio.

Shelly Tse, diretora do centro de estudos em saúde ocupacional da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que os trabalhadores de Shenzen foram prejudicados ainda mais pela natureza latente da pneumoconiose.

"Quando os trabalhadores se sentem progressivamente pior dez anos depois, não conseguem identificar em que empresa trabalharam quando contraíram a doença", disse Tse. "As empresas já podem estar em falência."

Com pouca esperança de compensação para os trabalhadores, a dor —e a raiva— transbordaram na zona rural de Hunan no ano passado.

Xu, o ex-intermediário, observou o número de mortos em suas aldeias subir para mais de 70. Seis homens doentes cometeram suicídio. Clãs locais como os Caos, que enterraram três irmãos que contraíram pneumoconiose em Shenzen, ficaram arrasados.

A família de Xu também. Quatro de seus irmãos, que trabalhavam nos poços de Shenzen, morreram, o mais novo com 26 anos. Xu, ele próprio diagnosticado com silicose terminal, estava bem financeiramente, mas o condado de Leiyang enfrentava dificuldades.

"Tínhamos que fazer alguma coisa", disse ele. "As pessoas precisam sobreviver."

Cenas semelhantes ocorreram nos municípios de Sangzhi e Miluo, em Hunan, quando trabalhadores doentes começaram a se mobilizar para levar suas demandas a Shenzen, onde uniram forças.

Em 5 de novembro de 2018, um grande grupo de trabalhadores, furioso com a falta de progresso, ocupou o complexo do governo e exigiu ver o prefeito de Shenzen. Eles dormiram durante a noite em esteiras, e na noite de 7 de novembro mais de 300 trabalhadores haviam se reunido no local.

Depois das 20h, as autoridades fizeram sua jogada. Vídeos do incidente mostram a polícia de choque com armas de spray de pimenta expulsando os manifestantes do complexo do governo. Os trabalhadores aposentados tombaram na calçada do lado de fora, tossindo, enquanto os paramédicos levavam os feridos.

Desalojados do prédio, dezenas de manifestantes revoltados se reagruparam e depois seguiram para um viaduto, onde ameaçaram pular, disseram três peticionários de Leiyang e Sangzhi. Foi a aposta final.

Funcionou. A polícia correu para bloquear a multidão que entrava na ponte. À 0h, as autoridades locais surgiram para pedir calma ao lado de cabeças mais frias como Xu.

As negociações começaram às 11 da manhã seguinte. Semanas depois, um acordo foi anunciado: Shenzen pagaria a quem sofre de silicose entre US$ 17 mil e US$ 35 mil e cobriria os custos médicos no futuro. No entanto, muitos ainda não estavam satisfeitos.

Na ausência de tribunais robustos, a China costuma resolver disputas trabalhistas dessa maneira, segundo Mary Gallagher, cientista política na Universidade de Michigan. Os peticionários rurais organizam manifestações em massa e frequentes; as autoridades esperam aplacá-los com pagamentos únicos. "Mas elas nunca reconhecem as falhas sistêmicas", disse ela.

Os confrontos entre os peticionários e as autoridades de Hunan continuaram. Dezenas de trabalhadores que esperam retornar a Shenzen ou Pequim para conseguir mais dinheiro foram interceptados repetidamente e, pelo menos em uma ocasião, agredidos pela polícia, disseram peticionários.

Aldeias atingidas tornaram-se vigiadas de perto. Durante uma viagem ao condado de Sangzhi, um repórter do "Washington Post" foi cercado por oficiais de segurança à paisana e forçado a deixar a província. As autoridades perseguiram os moradores que foram entrevistados durante outra visita.

Xie Decai, vice-diretor de propaganda do condado de Sangzhi, negou irregularidades oficiais e disse que realizou dez reuniões com os moradores.

"Alguns ainda estão infelizes, mas não se trata de receber compensação, e sim de quanto", disse Xie. "Para nós, o assunto está resolvido."

A disputa não está decidida para um líder de protestos no condado de Sangzhi, que estava sentado em uma casa de fazenda planejando sua 13ª ou 14ª viagem de petição a Shenzen ou Pequim. Ele recebeu US$ 24 mil em indenização pela silicose, mas o dinheiro não foi suficiente para criar seus filhos, disse o líder do protesto, que temia represálias oficiais e falou sob condição de anonimato.

"Não existe justiça nesta sociedade", disse ele. "Tem glória, riqueza e arranha-céus construídos sobre nossos ossos."

Em um vale pitoresco do outro lado de Hunan, o ex-intermediário Xu, 51, não falou em indenização. Conforme os aldeões adoeciam um a um ao longo dos anos, disse ele, algumas famílias pediram ajuda, outras o amaldiçoaram por encontrar empregos para perfuradores em Shenzen.

"Fiz isso com bom coração", disse ele. "Como poderíamos saber?"

Nos últimos dois anos, ele gastou US$ 12 mil em alimentação e hospedagem de manifestantes em Shenzen. Ele aconselha famílias de peticionários de pneumoconiose em todo o país no aplicativo WeChat. Fala com as viúvas de Leiyang cujos maridos o seguiram ao sul para trabalhar. E continua pedindo ajuda.

Tudo o que Xu queria era um reconhecimento público da doença pelo governo, disse ele, não dinheiro.

Xu gesticulou mostrando sua casa grande, com os quartos vazios. Se nunca tivesse encontrado a perfuração, disse, eles poderiam estar ocupados por seus irmãos, sobrinhas e sobrinhos.

"A consciência dói."

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